Otamendi ficou fora dos planos do Vélez para o jogo de hoje com o Argentinos; é um sinal de que a transferência para o FC Porto espera apenas o carimbo. Ele conta as horas com ansiedade, preparando-se para se despedir da camisola azul e branca que envergou durante 15 anos para vestir outra, também azul e branca. "Gostaria de jogar amanhã [hoje], mas o risco de uma lesão podia hipotecar tudo. Entendi perfeitamente." Aos 22 anos, Nicolás Otamendi está preparado para a aventura. "O FC Porto é um clube importantíssimo, que luta sempre por títulos, é um desafio, e eu sentia a necessidade de me colocar à prova. Sei que ninguém me vai dar nada de mão beijada, mas sinto-me pronto a arrancar do zero para ganhar um lugar."
Já lhe disseram que terá de substituir Bruno Alves?
Sinceramente, ainda não me inteirei de tudo, mas já estive a ver na internet quem serão os meus companheiros e os argentinos que fazem parte do grupo. Isso é importante.
Há vários sul-americanos. Por aí não deverá ter problemas...
Sim, já sei. Há argentinos, uruguaios, há o Falcao e o James Rodríguez, que conheço bem por ter jogado contra eles. Haver quem fale a mesma língua parece-me importante para entrar mais facilmente no grupo e para a adaptação.
Com Villas-Boas, já teve oportunidade de falar?
Não, não tive contacto, porque deixei tudo nas mãos do meu empresário e estou à espera que os dirigentes acertem tudo. Sou uma pessoa que vive o dia-a-dia, aproveitando as coisas à medida que vão ocorrendo. Sei é que, assim que fique tudo concretizado, terei de estar em forma para render à altura do que significa o FC Porto.
E qual é o desafio a que se propõe, que metas tem para concretizar?
Triunfar, sem dúvida. Ter um bom rendimento, e que o clube ganhe muitos títulos. Depois vê-se como evolui a carreira. Para mim, seria importante estar em bom nível para continuar a ser opção na selecção argentina.
Aqui na Argentina, a certa altura disse-se que iria para o Milan. Não foi porquê?
Não tinha passaporte comunitário. Estou a tratar disso, mas queriam que o tivesse já, pois só havia vaga para um extracomunitário.
Estreou-se há dois anos, jogou um Mundial e agora chega ao FC Porto...
É verdade que tem sido tudo muito rápido, mas sinto-me com ganas de me colocar à prova noutro futebol, de viver uma experiência nova. Não é que quisesse deixar o Vélez [Sarsfield], mas tinha vontade de enfrentar um desafio novo. Na Europa, o futebol é mais rápido, a dois toques, diferente do argentino.
Já deu para experimentar essa diferença no Mundial...
Sim, cruzei-me com os melhores. Aproveitei ao máximo, apesar da frustração que foi ser eliminado pela Alemanha. Agora compete-me fazer bem as coisas no FC Porto para ter a oportunidade de jogar outro Mundial, já com mais experiência.
Como se apresentaria aos adeptos do FC Porto?
Sou rápido e penso que bom na antecipação. Em campo, estou sempre totalmente concentrado no jogo; nem ouço o que se passa nas bancadas. Gosto de me antecipar aos avançados para que estes não possam controlar a bola. E, sim, falo muito, gosto de comandar a defesa e os meus companheiros; da defesa, temos uma visão mais alargada do campo e é importante ajudá-los.
"Lateral? Sou central..."
Contra a Alemanha, no Mundial, jogou como lateral-direito e não fez um bom jogo, mas encara a hipótese de jogar outra vez nessa posição. "Sei que não fiz um bom jogo, mas estarei sempre à disposição para o que o treinador me pedir. E se me pedirem que jogue a lateral, voltarei a fazê-lo. Sou daqueles jogadores para quem o importante é estar no campo. Mas lateral não é a minha posição; sou um central de marcação. Creio que o FC Porto pensou em mim porque precisa disso, de um central de marcação. É a função em que me sinto mais confortável, porque foi a que cumpri em toda a minha carreira."
"Boxe deu-me muita agilidade"
Ainda não sabe quando viajará, mas está pronto. Custa-lhe deixar a família, mas não chegará à Europa sozinho. É amante das tatuagens - "Tenho sete ou oito", diz, ainda que se perceba à vista desarmada que são muitas mais. No braço direito, gravou o nome dos três irmãos (Claudio, Gabriel e Cristián); no esquerdo, o dos pais (José e Silvia). No peito, gravou Morena, nome da primeira filha, e falta-lhe o de Mia, a segunda, que tem apenas uns meses. "Vou sentir falta [da família], mas todos estão contentes por mim, sobretudo a minha mãe, que me acompanhou sempre desde pequeno aos treinos", conta Chupe, alcunha pelo qual é conhecido entre familiares, referindo-se aos anos em que ia para escola e Silvia, a mãe, o esperava com o lanche que ele levava para os treinos do Vélez, algo que o obrigava a viagens de quase duas horas e a uma viagem de três autocarros para lá chegar. Membro de uma família humilde de El Talar de Pacheco, Otamendi fala dela com orgulho. "Cumpri o meu sonho ao dar uma casa à minha mãe. Assim devolvi-lhe o que fez por mim."
Brevemente deve poder levar a sua mãe para Portugal...
Sim, vamos esperar que tudo se concretize, e haverá tempo para isso. Fico contente por faltarem apenas detalhes para que ela tenha a sua casa pronta, ao lado da minha avó.
É verdade que praticou boxe?
Sim, durante um ano, num ginásio. Fui porque queria mais do que só futebol, não porque fosse conflituoso. Era até uma forma de treino para o futebol, que depois deixei. Desgastava-me muito o físico e prejudicava-me.
No que respeita ao futebol, o boxe ajudou-o em quê?
Deu-me muita agilidade nas pernas por causa dos saltos com a corda e movimentos de cintura. Além disso, o treino de boxe dá-nos outro estado atlético.
E que referência defensiva tinha em miúdo?
Segui sempre o Roberto Ayala. Era o jogador que admirava pela forma como se antecipava e como ia aos cruzamentos, pela segurança com que chegava à bola; ganhava-a sempre. No Vélez, tive a oportunidade de jogar ao lado de Seba Domínguez, que, além de companheiro, é um amigo, com quem muito converso. Deu-me sempre bons conselhos e está muito contente por mim.
"Maradona defendeu-me, estou-lhe grato"
Marcou-o ter sido dirigido por Maradona?
Foi impressionante. Estou-lhe grato por me ter levado à selecção, deu-me a hipótese de vestir a camisola do meu país, que é um momento único. Defendeu-me e levou-me ao Mundial. Gostaria que tivesse continuado, seria lindo ter a hipótese de vingar aquela eliminação. Mas não me quero esquecer do Ricardo [Gareca]. Todos os treinadores que me dirigiram nestes 15 anos no Vélez deixaram uma marca, mas foi o Gareca que me abriu as portas da primeira divisão. Com ele, tive continuidade e tornei-me no que sou hoje.
E qual seria a melhor vingança na selecção?
Gostaria de estar na Copa América do ano que vem, mas para isso tenho de estar bem no FC Porto.
in "ojogo.pt"
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