quarta-feira, 2 de março de 2011

AVB: "Não sou nada de especial..."

De adolescente aspirante a treinador para treinador líder destacado do campeonato, a pergunta saiu assim: "André, que conselhos daria a quem quer ser um treinador de sucesso?" Villas-Boas, supondo que era esse o desejo de quem perguntava, nem pestanejou na resposta. "Recomendo-te a não seguires esse caminho".
Depois de o metralhar à queima-roupa, lá tentou explicar o porquê desse aviso espontâneo, acabando, provavelmente sem se dar conta, atraiçoado no final da própria explicação. "Há uma exigência emocional e mental desgastante", prosseguiu, ainda em jeito de reforço da ideia. "Mas as recompensas da vitória são óptimas", deixou escapar. É esse "mas" compensador, que o próprio André Villas-Boas espera sentir em forma de título daqui a algumas jornadas, justificação suficiente para enfrentar os desafios. Aliás, vencer pode tornar-se também num bom desafio. "Não se deve alimentar muito o ego; é preciso manter os pés na terra e ver que há espaço para a evolução". Uma receita de sucesso simples e bem menos secreta do que a da Coca-Cola, patrocinadora oficial do torneio apadrinhado pelo treinador portista e que ontem o levou ao relvado do Dragão para a apresentação formal.

Por detrás de Villas-Boas, num cartaz gigantesco que servia de fundo às fotos, sobressaía o desafio lançado aos participantes. "Mostra que és craque", lia-se. Uma boa deixa para saber se Villas-Boas também se sentia desafiado a mostrar que era craque nesta primeira época a lutar pelo campeonato. "Eu, craque? Não, como treinador não sou nada de especial."

A lição de humildade foi rematada com uma palavra perigosa, ou não fosse o nome do meio de José Mourinho. José "Especial" Mourinho, comparação que persegue o treinador portista. Assim, quase sem querer, ou até sem se aperceber disso, porque não pareceu propositado, Villas-Boas acabava por descolar mais um rótulo de possíveis semelhanças. Não se sente especial. "Gostava de poder crescer como treinador e se puder transmitir este meu sentimento a estes jovens, melhor ainda. Para se chegar ao topo é preciso trabalhar arduamente, ter classe e determinação", acrescentou, dizendo-se longe desse patamar de excelência, apesar de o ambicionar. Os princípios que o orientam são fáceis de resumir: "A generosidade é melhor do que a indiferença e a coragem melhor do que a cobardia" .

Chegados aqui, engana-se quem achar que Villas-Boas conseguiu escapar a mais uma pergunta sobre José Mourinho. Ela lá surgiu, feita outra vez pelo treinador adolescente. "Ser adjunto do Mourinho foi fundamental. Quero acreditar que o que faço é bom e que um dia também terei sucesso. Mourinho foi uma das pessoas mais importantes da minha vida profissional."

Ele queria ser astronauta

Há boas razões para André Villas-Boas se sentir nas nuvens. Afinal de contas, é líder com oito pontos de vantagem, ainda não perdeu no campeonato e a meta do título parece estar já ali, ao dobrar da esquina. O que muito boa gente não saberá é que, mesmo que não estivesse no banco do FC Porto com este percurso imaculado, a ideia de andar nas nuvens, fora da órbita terrestre até, não estava descartada. A revelação surgiu ontem, em jeito de memória de infância resgatada no baú das profissões desejadas quando lhe faziam a pergunta obrigatória: o que queres ser quando cresceres? "Quis ser tudo. Jogador de futebol, piloto, astronauta. É o normal. Desde que sejam profissões bem pagas, vamos sonhando", disse, com sorrisos à mistura. Apesar de tudo, disse também, a ideia de ser treinador acabou por formatar-se bem cedo, sem relatos - conhecidos, pelo menos... - de que, na altura, Bobby Robson o tenha aconselhado a desviar-se desse caminho desejado e consumado. Pelo contrário. Como se sabe, Robson abriu-lhe mesmo as portas do FC Porto. "Ser treinador foi uma ideia muito precoce, tinha 17 ou 18 anos". Agora, aos 33, está muito perto de realizar precocemente outro sonho.

in "ojogo.pt"

Sem Hulk também houve goleadas

André Villas-Boas já o disse repetidas vezes: o plantel do FC Porto é rico em opções para colmatar eventuais baixas no ataque. Ora a ausência de Hulk, sábado, contra o Guimarães, coloca um novo desafio ao técnico portista para mostrar o que vai fazer sem o Incrível, depois de ter conseguido disfarçar, e bem, a baixa de Falcao durante cinco semanas, mantendo a equipa a vencer no campeonato. Se optar pelo cenário mais previsível (Varela, Falcao e James) garante um trio que soma 19 golos, tantos quanto os de Hulk no campeonato, pelo que a ausência do Incrível não será necessariamente um drama, apesar dos azuis e brancos terem nele o jogador mais rematador do campeonato, com 114 disparos. De qualquer forma e como referência suplementar no que diz respeito à ausência de Hulk, é sempre bom recordar que nos dois jogos em que não jogou, o FC Porto venceu 3-0 - contra Genk e Beira-Mar -, cabendo a Ukra o papel do Incrível. Mais recentemente, frente ao CSKA de Sófia, na Liga Europa, Villas-Boas entregou o ataque inicialmente a James, Falcao e Walter e a equipa venceu (3-1). Por fim, contra o Gil Vicente, na Taça da Liga, Hulk ficou de fora de início e o FC Porto empatou (2-2), com Mariano, Walter e Rodríguez na frente. Isto para dizer que nos dois jogos em que o internacional brasileiro não foi titular, o FC Porto nem por isso deixou de marcar, somando 5 golos marcados e três sofridos.

A este saldo positivo no ataque haverá, contudo, que fazer um reparo. Sem o Incrível, o colectivo azul e branco perde o seu elemento mais destabilizador em termos de assistências para golo, segundo as estatísticas. Hulk fez dez passes mortíferos, o que faz dele um construtor de oportunidades decisivo. Para se ter uma ideia, basta constatar que são oito assistências no campeonato, uma na Taça de Portugal e outra na Liga Europa.

Plantel mostrou alternativas

Hulk perdeu os jogos em Genk, do play-off da Liga Europa e, em casa, com o Beira-Mar na sequência de um problema na família que o levou a viajar para o Brasil de urgência. Ukra e Belluschi foram opções nessas alturas e o FC Porto conseguiu vencer mesmo sem o Incrível, derrotando esses adversários por 3-0.

Incrível marcou o primeiro no berço

O segundo encontro do FC Porto com o Guimarães não vai ter um dos principais protagonistas do primeiro jogo. No D. Afonso Henriques, Hulk marcou o golo portista numa bela jogada individual ainda na primeira parte. De qualquer forma, o golo do Incrível não foi aproveitado pela equipa para somar a 12ª vitória consecutiva da temporada, dado que o marroquino Faouzi empatou na segunda parte para o Guimarães. Foi o primeiro empate cedido pelo FC Porto esta época.

James pode aproveitar

Os últimos acontecimentos têm feito de James uma opção cada vez mais credível para o ataque, ao ponto da baixa de Falcao lhe ter proporcionado tempo e espaço na equipa para uma aposta mais consistente. Ao puxar Hulk para o eixo, o colombiano preencheu bem a vaga nas alas e marcou pontos que apontam agora para que seja a primeira opção para jogar no lugar do Incrível, frente ao Guimarães.
No sábado, em Olhão, a entrada de James foi decisiva para dar a volta ao desenrolar dos acontecimentos. O colombiano até nem entrou para jogar na ala, instalando-se na posição de número 10, mas teve a clarividência necessária para assistir os seus companheiros, ou lançar as jogadas dos golos portistas no Algarve. Além disso, já em Sevilha tinha feito a diferença ao apontar o livre que permitiu a Rolando abrir o marcador. Daí que seja previsível uma aposta na continuidade.

in "ojogo.pt"

Resposta do Samurai

BELLUSCHI GANHOU PROTAGONISMO NA ESTRATÉGIA PORTISTA


Longe vão os tempos em que Fernando Belluschi era olhado com desconfiança quando a competição apertava. Ora por falta de altura, ora por suposta inadaptação a terrenos pesados, o argentino foi relegado para segundo plano por Jesualdo Ferreira em momentos tão marcantes como os duelos com o Chelsea e o Benfica que resultaram noutros tantos desaires. O médio empenhou-se nos treinos e cresceu dentro do campo. Mesmo não jogando da forma que mais gostava, soube integrar-se num sistema rígido e acabou a época a titular.
Com a chegada de André Villas-Boas, El Samurai ganhou uma nova dimensão na estratégia portista. Deixou de ser preterido nos embates que os jogadores mais gostam de disputar e assimilou na totalidade os princípios de jogo impostos pelo jovem técnico. Ao lado de João Moutinho, Belluschi tornou-se num caso sério e a prova está na influência que adquiriu na forma de jogar dos azuis e brancos.
in "record.pt"

Kelvin: «F.C. Porto? Ainda penso se é verdade...»

Conheça o jovem de 17 anos que os azuis e brancos contrataram no Brasil

Juan Iturbe não foi o único jovem prodígio contratado pelo F.C. Porto em Janeiro. À semelhança do que fez com a promessa argentina, Pinto da Costa garantiu também Kelvin, um esquerdino de apenas 17 anos que deu nas vistas no futebol brasileiro, com as cores do Paraná Clube.


O processo de Kelvin tem aliás semelhanças com o de Iturbe: estava em litígio com o Paraná, assinou pelo F.C. Porto e regressou ao clube de origem, onde se manterá em actividade até Junho. Para já vai dando nas vistas no campeonato paranaense. No último domingo marcou até um golo.



Ora por isso o Maisfutebol foi tentar conhecer melhor Kelvin e falou com o jovem médio. Na primeira entrevista a um jornal português, Kelvin mostrou-se surpreendido com tudo o que lhe tem acontecido. «Às vezes penso se tudo isto será mesmo verdade», conta. «Mas poucas vezes.»



O brasileiro garante ter uma confiança quase sem limites. A forma de falar faz até lembrar Anderson, actualmente no Man. United: descomplexada, liberta, sem receio ou timidez. «Tenho muita confiança em mim», diz. «Por isso não fico muito pensando no que me aconteceu. Olho para o futuro.»



O futuro, adianta, é cheio de ilusões. «Quero dar-me bem no F.C. Porto. Quero chegar e mostrar o meu valor. Sei que o F.C. Porto é um clube muito grande, mas eu confio em mim. Por isso espero ter sucesso. Depois quero a selecção brasileira. Esse é o meu sonho número um: chegar à selecção.»



Já esteve para acontecer, adianta, quando teve o nome ligado ao Sul-americano sub-20. «Mas infelizmente foram só rumores e acabei por não ser chamado.» Tem tempo: aos 17 anos, ainda tem um Sul-Americano e um Mundial sub-20 pela frente. «Nesses eu espero estar. É para isso que vou trabalhar.»



Para já espera continuar a ajudar o Paraná Clube no campeonato paranaense. Com a camisola 10 nas costas, o jovem que ainda é menor tornou-se a principal figura. Titular na formação de Ricardo Pinto, Kelvin tem assumido um papel fundamental na equipa e motivado muitas notícias no Brasil.



O futebol de Kelvin é todo ele brasileiro: gingão da cabeça aos pés. Embora franzino, nos 65kg com 1,71 metros, o jovem não tem receio de enfrentar defesas. É rápido e tecnicista. Joga pela esquerda, mas também ao centro. «Sou um médio ofensivo. Gosto de pegar na bola e ir para cima.»



No Paraná joga no ataque, solto, ao lado do ponta-de-lança. No F.C. Porto está pronto para tudo. O azul e branco é o sonho que já lhe enche a alma. «Ainda não falei com nenhum brasileiro do clube. Mas já sei tudo sobre o F.C. Porto. Estou sempre ligado na internet a pesquisar tudo», diz.



«Procuro informações sobre o clube em sites, vejo os jogos pela televisão e estou sempre nos fóruns de discussão a tentar saber mais. Informei-me sobre os adeptos, sobre o clube e sobre a cidade. Fiquei com a impressão que tudo é muito bom. Bom de mais», diz. O sonho continua em Julho.

Kelvin, de júnior ao F.C. Porto em quatro meses

A história do jovem reforço portista contada pelo próprio


A vida de Kelvin não pula e avança: atropela tudo que lhe aparece à frente. Só assim se explica a evolução estonteante que teve nos últimos meses. «Para mim foi tudo muito rápido», diz ao Maisfutebol. «Estava nos juniores, de repente estava nos seniores e de repente estava no F.C. Porto.»


Os azuis e brancos foram mais rápidos do que toda a gente e fecharam negócio em Janeiro. Numa altura em que se falava da cobiça dos grandes brasileiros, com o elogioso Scolari à cabeça, o F.C. Porto surgiu rápido, chegou a acordo, fez os exames médicos e assinou contrato em Porto Alegre.



«Eu estava nas camadas jovens do Paraná Clube. Então o meu treinador Roberto Cavalo foi ver um jogo dos juniores e gostou de mim. No final veio falar comigo e disse-me para no dia seguinte ir treinar com os seniores. Eu fui, ele gostou do treino que fiz e me convocou para o jogo do dia seguinte.»



O jogo do dia seguinte era com o Guaratinguetá. «Entrei na segunda parte e fiz um golo. Então nunca mais saí da equipa.» Em três dias passou dos juniores a aposta séria nos seniores. Mas não foi tudo: em quatro meses passou dos juniores do Paraná a jogador do F.C. Porto. «Aconteceu muito depressa.»



Na base deste salto está um pé esquerdo que Roberto Cavalo, o tal treinador que o descobriu nos juniores, diz ter sido «educado por Deus». Kelvin agradece o elogio e diz que não tem medo do desafio. «Desde pequeno que eu sempre me destaquei. Joguei sempre dois anos à frente da minha idade.»




O futebol começou aliás na vida de Kelvin muito cedo. «O meu pai trabalhava num banco e aos seis anos comecei a jogar nas escolinhas de uma associação de que o meu pai era sócio. Dei nas vistas e um empresário, que ainda hoje me representa, levou-me para o Paraná quando tinha nove anos.»



«No início fui jogar futsal e quando tinha onze anos passei para o futebol de onze. Aqui no Brasil é normal começar-se no futsal, muitos grandes jogadores começam assim. Dá mais técnica. Depois me fui destacando nas várias categorias jovens do Paraná», conta o jovem, que nem sempre foi atacante.



«Quando comecei a jogar futebol de onze era lateral-esquerdo. Cheguei à equipa do Paraná e não tinha ninguém para essa posição. Como era esquerdino, eu fui quebrar esse galho. Mas com o tempo, e como era muito tecnicista, fui subindo no terreno. Hoje me estabeleci como médio de ataque.»



No Paraná Clube Kelvin é já um ídolo. «As pessoas aqui confiam muito no meu talento. Tantos os directores quanto os adeptos. Eu quero agradecer todo esse carinho que me dão. Desde a primeira hora que eu vesti esta camisola que tentei honrá-la e vou fazê-lo até ao último minuto», garante.



O F.C. Porto, adianta, é o amor que se segue. Ou antes, é um amor que começa a ocupar grande parte do coração de Kelvin. «Às vezes é complicado, tenho contrato com o F.C. Porto e jogo no Paraná. Para já tento separar as coisas: procuro saber tudo sobre o Porto e ajudar o Paraná dentro de campo.»



«A minha vida vai mudar muito e é impossível não pensar nisso. É impossível não pensar no F.C. Porto. Só me vou apresentar em Julho, mas já tento saber tudo sobre a equipa. Em Julho quando chegar a Portugal espero dar-me bem e mostrar todo o meu valor. Confio que vou ter sucesso», finaliza.

In "maisfutebol.iol.pt"



Villas Boas tem Itália aos pés

«Il speciale II» começa a assombrar os crónicos candidatos a treinar as grandes equipas do calcio. «Tifosi» querem-no na Juve e na Roma.

André Villas Boas pode tornar-se a breve prazo um caso sério de blindagem: desenha-se com inesperado aparato situação em tudo semelhante à de Mourinho, desta vez com Itália como potencial destino do treinador que, cirurgicamente, o FC Porto segurou mais um ano a 28 de Dezembro, por sinal o dia de aniversário de Pinto da Costa, o homem que desassombradamente, e num clima de significativa desconfiança, o colocou à frente do FC Porto.

Meio ano depois de assumir o comando dos dragões com um arranque brutal que o coloca, hoje, como grande favorito a campeão logo no primeiro ano completo como técnico, Villas Boas, 33 anos, é reconhecido em Itália como «o brilhantíssimo treinador do FC Porto» e, significativamente, «o jovem que cresceu na escola de José Mourinho», elemento curricular imbatível na esfera italiana, onde José, que já era um pequeno deus, passou para a esfera dos imortais com a época glutona de 2009/2010, em que ofereceu tudo o que havia a ganhar ao Inter de Milão.

Natural, então, que Villas Boas comece a criar a sua própria fama, principalmente pelo que já mostrou ao serviço do FC Porto, mas essa associação crónica, rejeitada e apreciada, a José Mourinho, é um outro ponto de partida anormalmente valioso, e, concretamente em relação ao mercado italiano, um cartão de visita sedutor como nenhum outro.

Il speciale II aparece, então, como perfil/figura de projecção imparável. Depois de na segunda-feira o jornal cor-de-rosa mais famoso do mundo, La Gazzetta dello Sport, o ter colocado no caminho da Juventus (Del Neri cai no fim da época), Villas Boas viu-se atirado para os seus 60 minutos de fama, ao ser ontem chamado a protagonizar, à distância, um programa desportivo da maior audiência no SportItália 24 horas, espécie de Sport TV da questão, mas, necessariamente, com linha de difusão infinitamente superior à do nosso pequeno mundo.

O programa em questão, diariamente em horário nobre e sempre recheado de comentadores e críticos do país das tácticas, sustentou precisamente em Villas Boas a emissão em causa, abrindo espaço à opinião pública. O motivo de fundo prendia-se com a sucessão técnica na Juventus e na Roma em relação à próxima temporada e, conclusão: quem é o grande favorito da crítica e do público a esses dois lugares em aberto? Villas Boas, precisamente.


in "abola"