Não é fácil perceber se o FC Porto esbanjou dois pontos frente ao grande rival da Luz se foi o Benfica que conquistou o pontinho que levou do Dragão e que poderá vir a revelar-se precioso. Há verdade em qualquer dessas hipóteses, mas fica a ideia de que o principal mérito benfiquista foi conseguir o empate aproveitando o apagamento portista. Até lá, o Benfica nunca esteve sequer em condições de discutir o resultado.
O clássico foi bom, emotivo e pouco esclarecedor sobre a real valia das equipas, atendendo ás oscilações de ambas. Durante 45 minutos - longos de mais para os encarnados -, o FC Porto saiu do seu meio-campo a jogar como quis, não deixou que o Benfica tivesse a bola, fez uma pressão alta e eficaz, terrível de aguentar por parte de um adversário que não conseguia contrapor, porque não estava autorizado a ligar um passe. Defendia com acerto e organização, tem um grande guarda-redes e preparava-se para continuar a sofrer quando, de repente, o opositor desligou, temporizou o jogo em demasia, alternou ataques sem nexo com jogo a passo, não foi capaz de guardar a bola, ofereceu ao Benfica a possibilidade de jogar no contra-ataque como tanto gosta. E deu empate.
Como era de prever, desta vez Vítor Pereira apresentou uma equipa equilibrada em que todas as peças faziam sentido. E o FC Porto regalou os seus adeptos com nacos de bom futebol, a lembrar os grandes jogos da época passada. Fernando dava equilíbrio defensivo, Moutinho e Guarín uma dinâmica superior e Hulk mostrava o que vale, permutando lances individuais com assistências. O golo surgiu de bola parada, mas já antes Artur travara duas jogadas de golo feito: um tiro do brasileiro e uma perdida escandalosa de Fucile.
Jorge Jesus também não inventou, fez alinhar a equipa esperada e a única nuance que introduziu - Nolito à direita e Gaitán à esquerda -, apesar de estar a resultar manteve-a durante apenas 20 minutos (depopis foi corredor aberto para Álvaro Pereira). Ao lado de Javi García, Witsel deambulava entre tentar segurar Moutinho ou pressionar Fernando, porque Aimar caía nos centrais, a par de Cardozo. Ou seja, mesmo com Javi a ocupar-se de Guarín sobrava sempre um portista no meio-campo que conseguia ligar o futebol do campeão.
A vantagem de um golo ao intervalo não explicava o que se passara no primeiro tempo, tal foi a superioridade portista, obrigando o Benfica a defender e defender, sem conseguir criar um lance de perigo que fosse. Mas por incrível que pareça, e mais complicado ainda se torne de explicar, o grande e dominador FC Porto desapareceu a meio da segunda parte. Mais estranho ainda porque o Benfica marcara logo após o reatamento e Otamendi só deixou o jogo empatado durante quatro minutos, não dando tempo para reacções negativas. Como é possível apagar-se de repente uma equipa que está a fazer uma grande exibição, sofre um golo a frio e tem ânimo para voltar ao comando em pouquíssimo tempo? Faltou frescura física e voz de comando, tudo o que existiu do lado contrário.
O FC Porto baixou o ritmo, como lhe convinha, mas deixou de ser consistente, confundiu temporização com mão no bolso, e de repente lançava-se para a frente deixando a retaguarda desguarnecida. Foi Jesus quem primeiro descodificou as mensagens do jogo, apostou para dar a volta e já antes das substituições conseguira que o Benfica jogasse de igual para igual, fosse capaz de construir o seu futebol e de ir invertendo o rumo dos acontecimentos, passando de comandado a comandante. Carregou e foi à procura do erro adversário que se tornara expectável num conjunto transfigurado como era o portista. Vítor Pereira tentou reagir às apostas atacantes de Jesus - Saviola e Bruno César - e lançou Belluschi no lugar do desaparecido Guarín e Rodríguez no do esgotado Kléber - desta vez terá pedido para sair -, mas nessa altura já o Benfica estava por cima, espreitava a oportunidade de virar o jogo conseguiu-o num grande lance de futebol.
O apelo à superação dos últimos dez minutos não permitiu sequer uma ocasião de golo de qualquer dos lados, mesmo que Walter ainda tenha entrado para meia dúzia de minutos, deixando Hulk de ser o ponta-de-lança que não era. Jorge Jesus saiu do Dragão com motivos para festejar, porque queria empatar e empatou, porque viu o caso mal parado e esteve na primeira linha da reviravolta. Ao contrário, Vítor Pereira viu a equipa esbanjar mais dois pontos. Ele saberá melhor do que ninguém se não havia mesmo forma de evitar o colapso da equipa ou se tardou a perceber o que se passava e não teve a intervenção que se impunha.
in "ojogo.pt"