sábado, 13 de agosto de 2011

Um sonho de cada vez


"Um grande jogo", eis o que Iturbe espera do Portugal-Argentina desta noite, em que voltará a "dar a vida em campo" para levar até às meias-finais o sonho que está a viver no Mundial de sub-20. Quando se lhe esgotar o torneio colombiano, seguirá directo para o Porto, a saciar uma "ansiedade" que alimenta desde o dia em que soube que vestiria essa outra camisola azul e branca e sem pausas. Aos 18 anos, o camisola 11 de Walter Perazzo já está habituado a jogar a carreira num ritmo vertiginoso, e os jogos nos sub-20, como titular ou lançado a partir do banco, como hoje deverá suceder, pela terceira vez no Mundial, mostram que lida bem com a exigência, ainda que lhe pareça que "foi tudo assombroso".

Do Portugal que, hoje, defrontará, pouco conhece. Nem os portistas, Tiago Ferreira e Sérgio Oliveira. "Na verdade não sei quem vai ser meu companheiro de equipa", confessou, numa conversa inicialmente muito tímida com os jornalistas portugueses, em Cartagena. "Agora somos adversários, damos a vida no campo", o resto fica para depois. Na Colômbia, o único dragão com quem falou "um pouquito" foi James Rodríguez. "Trocámos umas palavras, pelo Twitter. Cumprimentámo-nos e desejámo-nos boa sorte, no Mundial". O capitão colombiano "tem jogado muito", assente. Ambos são candidatos a encontrar-se, na final de Bogotá, a meta que o separa do FC Porto de "Hulk, Varela, Falcao, Belluschi, Otamendi", os outros nomes que saem de cor, quando se fala na próxima aventura, na equipa que "ganhou tudo", expressão que se adequa à raça e ao talento de Iturbe.

O jovem argentino viajará para Portugal "logo a seguir" ao Mundial, e nessa altura desfrutará a outra aventura azul e branca. "Ansioso desde o primeiro dia" em que soube da transferência que "teve de esperar que completasse 18 anos", aprendeu a conviver também com essa pressão. "Foi tudo assombroso, mas estou tranquilo, com o apoio da minha família, das minhas irmãs. Agora há que fazer o melhor que puder" - por enquanto, pela Argentina, depois pelos dragões, um sonho de cada vez. Aos adeptos portistas deixa uma mensagem humilde: "Quero dizer-lhes que espero o apoio deles e que me dêem o carinho que merece qualquer jogador".

Estrela, eu? Não!

Iturbe, dizem da comitiva argentina, tem tanto de humilde como de tímido. Educado, fugiu como pôde à curiosidade dos jornalistas portugueses, mas, não tardou a aparecer para se dar a conhecer um pouquinho, primeiro muito tímido, depois com um sorriso aqui e ali, até se revelar no estado natural, por uns instantes, quando os blocos se fecharam e o gravador se desligou. Não deixou que a história das tatuagens ficasse incompleta, apresentou o peixe koi - e arrependeu-se de imediato, quando se percebeu de novo sob a curiosidade jornalística, que acabou por saciar num momento em que voltou a ser apenas ele - um hóspede do Hilton de Cartagena com dificuldades na ligação à internet; O JOGO, que passara pelo mesmo, levou-o a quem poderia resolver o problema, um funcionário que tratou tudo de pronto, até se aperceber de quem tinha ali: "Tu és a figura da Argentina, não és?" Voz e olhos baixos, Iturbe tentou fintar. "Não, não sou", disse, rápido. "És sim", insistiu o colombiano, para ser novamente contrariado pelo atacante, já de saída: "Não, não sou. A figura é o Lamela", despediu-se quem vive perseguido pela comparação com Messi, e quase pede aos portugueses que entendam que o prefere, na crónica disputa do compatriota com Cristiano Ronaldo. "São ambos grandes jogadores, mas, Messi é meu amigo, conheço-o, vi-o trabalhar e sei que é uma excelente pessoa".

O peixe que vira dragão no mapa de Iturbe

O reforço argentino do FC Porto tem o gosto pelas tatuagens, uma das quais encerra a lenda de um peixe que vira dragão. Nos pulsos, apresenta o nome da Mãe, Mabel, e o do Pai, Juan. A família, que inclui ainda "três irmãs", é o "apoio" com quem Iturbe conta para a adaptação a Portugal. O mapa das tatuagens não se esgota nesse núcleo: no braço direito, desenha-se-lhe a Virgem do Sagrado Coração de Jesus, devoção de inspiração paraguaia - até hoje, os adeptos daquele país lamentam que tenha escolhido jogar pela selecção da Argentina, onde nasceu, em detrimento da pátria dos pais. Sob a camisola, na grade costal que o mesmo braço protege, escondem-se uma flor da vida e um peixe koi, revela, num momento em que se vence a timidez. A flor, que tem nas imediações a marca de um lance duro, "é para dar sorte". O peixe koi ilustra uma lenda oriental: a carpa ondulada é um símbolo de resistência e perseverança, capaz mesmo de nadar contra a corrente e subir cascatas; tais predicados têm como prémio a transformação num dragão - que, no caso de Iturbe, que põe tudo isso em cada jogada que lhe passa pelos pés, já sucedeu.

in "ojogo.pt"

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