segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Villas-Boas faz o relatório

O treinador vencedor da Liga Europa e o primeiro a derrotar o Manchester City em Inglaterra esta temporada é a voz mais autorizada para antecipar o duelo entre dragões e citizens, marcado para Fevereiro. O JOGO ouviu Villas-Boas em Londres, aproveitando a sua total disponibilidade para abordar qualquer questão em conferência de Imprensa. Mais do que a actualidade do Chelsea, o que nos interessava era a opinião do Dragão de Ouro sobre as hipóteses europeias dos portistas. Ora, Villas-Boas dificilmente poderia estar mais optimista.
"Acho que é um confronto muito interessante. Talvez o mais interessante desta fase na Liga Europa. O FC Porto, no ano passado, defrontou o Sevilha nesta fase, também um adversário extremamente motivado e com grande qualidade individual e colectiva. Vejo o FC Porto com grandes possibilidades de avançar", vincou o treinador, sem embarcar no discurso de Pinto da Costa, que já atribuiu o favoritismo aos ingleses.
"Conheço os jogadores, o clube, a estrutura, e podem desafiar o Manchester City", reforça Villas-Boas, que mistura o lado profissional e o lado do adepto para manifestar uma fé inabalável nos dragões: "Espero que consigam mais uma vez, porque é a equipa da qual sou sócio e com jogadores que deram tudo pelo clube e que vão querer continuar a fazê-lo em 2012."
Por isso, Villas-Boas volta a dar um pouco mais pelo seu clube. Dicas, neste caso: "O City expõe-se de mais, comete alguns erros, mas tem óptimos talentos individuais que podem fazer a diferença. Vai ser muito difícil." A inclinação ofensiva dos azuis de Manchester pode ser explorada, mas o grande trunfo do FC Porto, segundo Villas-Boas, é o factor casa. "O ambiente do Dragão será muito difícil para o City. Eles podem encontrar dificuldades. No estádio de Manchester, o ambiente não é tão agressivo. Isso pode ser benéfico para o FC Porto de acordo com o resultado obtido em casa. É um clube com experiência em decidir grandes confrontos europeus fazendo o segundo jogo como visitante", salienta, lembrando as caminhadas europeias que resultaram em títulos.
O FC Porto defende o seu e, projecta Villas-Boas, talvez o City esteja de olho noutros troféus. "Obviamente, trata-se de um adversário com grandes jogadores, bom jogo colectivo e individual, mas não sei qual o tipo de dedicação será dado a Liga Europa. Em alguns momentos, os treinadores optam por usar a competição para dar oportunidade a outros jogadores", salienta, reforçando a opinião de que Vítor Pereira não deve fazer concessões quanto às suas ideias de jogo: "O Vítor tem desenvolvido um trabalho de excelente qualidade e está a fazer com que a equipa suba de rendimento jogo após jogo. Sei que a dedicação do Vítor na preparação dos jogos é singular. Mas penso que adulterar e condicionar uma identidade tem sempre alguns prejuízos. Não se pode querer jogar um futebol que não representamos, que não sentimos e onde não nos evidenciamos. Daí que o equilíbrio seja fundamental e estou seguro que assim fará o FC Porto", rematou.


Lição para vencer o City

"Importante foi termos mantido a calma. Contra o City, é preciso paciência para chegar ao golo." A frase de Villas-Boas, dita após a vitória sobre os citizens, espelha parte da estratégia que o Chelsea teve de alterar depois de se ter visto, tão precocemente no jogo, em desvantagem. O 4x3x3 dos londrinos replica um pouco da táctica do FC Porto (um ala que entra bem na área, outro que descai para o meio para pegar no jogo), ao passo que o City se sente confortável num 4x2x3x1 muito dinâmico. Balotelli deu vantagem à equipa de Mancini e o City estava confortável com o bloco subido do Chelsea, que lhe dava espaços. Baixando linhas, Villas-Boas conteve o ímpeto do adversário e os golos acabaram por surgir.

"Técnica de Hulk decide nos espaços curtos"

Directo ao assunto, Villas-Boas não se coibiu de comentar que impacto pode ter Hulk na resolução da eliminatória. "Hulk é um jogador com um talento especial. Tem condições técnicas únicas. Tem técnica em velocidade, técnica em explosão, decide nos espaços curtos", descreve, sem subtrair importância àquilo que é uma dinâmica de colectivo: "Para que esses momentos aconteçam, tem de haver uma equipa que gera essas situações de permanente desequilíbrio e essa é, sem dúvida, a força de uma equipa como o FC Porto, que continuamente gera oportunidades de golo para que os seus avançados as finalizem. Nessa área de definição, evidenciam-se os melhores, e Hulk, tal como Falcao em anos anteriores, é um deles, seja a ponta-de-lança, seja como extremo-direito."
Nomeado o jogador que, teoricamente, tem mais condições para ser decisivo, importa descrever o que vale o processo de jogo do FC Porto e de que forma pode essa identidade fazer face a um City cheio de potencial.
"O FC Porto, acima de tudo, tem um jogo apoiado na velocidade da posse, alternando entre contra-ataques rápidos e uma posse sustentada para desequilibrar o adversário, um pouco à imagem do ano passado. Acho que, de forma organizada colectiva e defensivamente, saindo no momento certo, pode surpreender. O City expõe-se bastante quando lhe é concedida a iniciativa de construção, comete alguns erros, particularmente com Lescott, mas tem óptimos talentos individuais que no jogo entre linhas e nos espacos curtos podem fazer a diferença", detalhou.
Foi o que o Chelsea fez ainda este mês, oferecendo a posse ao City para se defender desse assalto dos de Manchester. Resta saber se Vítor Pereira aceita essa concessão, mas os últimos jogos têm dado indícios nesse sentido.

Compras no Dragão? "Daí até ser verdade..."

Inevitável e incontornável era a pergunta sobre se Villas-Boas pondera insistir na transferência de alguns dos jogadores do FC Porto já em Janeiro. O treinador contorna a questão, enquadrando-a. "Acho que a especulação é natural por causa dos jogadores de grande qualidade que existem no FC Porto. É um clube que exporta muito bem e sabe disso. Vejo com normalidade que um clube da dimensão do Chelsea seja sempre associado ao FC Porto nestas alturas, até pelos investimentos recentes em jogadores portugueses. Mas aí até ser verdade ou se concretizar é outra coisa", desvia, sem negar as evidências: "Em Agosto, estivemos perto de acertar com o Álvaro Pereira e não conseguimos. Há, sim, muitos jogadores portugueses que poderiam jogar aqui."

Regulamentos da competição continuam a justificar críticas

Há um ano, Villas-Boas insurgia-se contra as equipas que chegavam à Liga Europa pela via da Champions. Na época em que isso acontece com o FC Porto, reclama face a outra particularidade da prova. "Acho muito ingrato e incompreensível que o FC Porto não tenha sido cabeça-de-série no sorteio. É uma pena para uma equipa desta dimensão. Mas espero e torço para que o FC Porto continue na competição, até por ser o actual detentor do troféu", disse o treinador, questionando os critérios da UEFA.

in "ojogo.pt"

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