sexta-feira, 4 de maio de 2012

"Janko vai ser ídolo"


Com 71 anos de idade, Herman Stessl, primeiro treinador da era de Pinto da Costa, vem a Portugal com frequência. Nesta semana esteve em Gaia, mas por imperativos de tempo não se encontrou com Marc Janko, um amigo de família e que, ao contrário de si próprio, já conseguiu ser campeão pelo FC Porto. "Se ainda não é um ídolo, vai ser. Cinco golos em 11 jogos é bom, mas na próxima época vai marcar mais. Não se esqueçam de que veio da Holanda, onde as equipas jogam de forma mais ofensiva. Depois de se adaptar a Portugal, tem condições para marcar muito mais. Além disso, é um jogador muito batalhador", explicou sucintamente a propósito do compatriota.
Já lá vão 30 anos desde que o atual líder foi eleito presidente. "Quando aconteceu, soube logo que me ia embora; ele nunca escondeu que queria trazer de volta Pedroto. Fiquei triste, pois tinha mais um ano de contrato. O FC Porto começou um novo projeto e Pedroto era o escolhido, como eu fui o escolhido de Américo de Sá. Compreendi", explicou. "Além disso, eu conhecia Pedroto e sabia que era muito bom treinador, além de simpático", completou Stessl.fc
Apesar de só ter privado com Pinto da Costa durante dois meses, traçou-lhe logo o destino. "Notei logo que tinha muita força e energia. Vi logo que o FC Porto iria crescer muito, mas tanto, foi uma surpresa", notou. "Para mim, o FC Porto é a terceira melhor equipa da Europa nos últimos 30 anos. À frente estão só Real Madrid e Barcelona. Depois aparecem FC Porto, Manchester United e Bayern de Munique", surpreendeu. A prova de que não guardou ressentimentos é que sempre que vai ao Dragão abraça o presidente. "É boa pessoa e tem o dom da palavra. Consegue ser duro e meigo. É uma espécie de filósofo. Comigo, foi e é simpático. Ele nunca teve nada contra mim. Apenas quis trazer de volta Pedroto", resume.
Ao longo destes 30 anos, Deco foi o jogador que mais encantou Stessl, mas Hulk é quem lhe enche as medidas atualmente. "É um dos melhores da Europa", vinca. Só Messi e Ronaldo o afastam da equipa que escolheria se fosse treinador de um clube que lhe pudesse dar todos os craques que quisesse. Mas havia um portista nesse onze: "Neuer, Lahm, Badstuber, David Luiz, Álvaro Pereira, Xavi, Iniesta, Diego, Messi, Ronaldo e Falcao", enumera. O uruguaio é, para o austríaco, o melhor lateral-esquerdo do mundo. Além de Hulk, contudo, ainda há outro portista que aprecia mais. "Lucho". Já gostava dele antes de sair. É bom taticamente e tem ideias de jogo", justificou.

Os loucos anos 80


Chalana e o verão quente só prejudicaram

"Verão quente" é uma expressão que Stessl sabe usar para descrever o ambiente que o recebeu em 1980, quando aterrou no Porto. "Quando me disseram que o FC Porto me queria, disseram também que Américo de Sá despedia toda a gente. Eu não tive medo, mas quando cheguei, reparei que havia outros problemas. Os melhores estavam de saída por problemas com o presidente. Não pude fazer nada. Fiquei com uma boa equipa, e Rodolfo era um grande capitão. Mas Oliveira e Gomes, que partiram, eram os craques que poderiam fazer a diferença. Ainda contratámos Mike Walsh; era bom, mas não era Gomes. Lancei muitos miúdos, como Jaime Magalhães e João Pinto. Mas só ganhámos uma Supertaça", lamentou. Os craques bastariam para conquistar o título? "Estou convencido de que sim. Até podíamos ter sido campeões sem craques se, no Benfica, não houvesse Chalana. Era o melhor jogador do campeonato e desequilibrava", recorda.

O intrometido e o que não sabia nadar

Stessl recorda com saudade "dois plantéis muito trabalhadores e divertidos" que orientou no FC Porto. Nunca teve de usar o chicote e, por isso, alguns jogadores brincavam com ele. Foi o que aconteceu quando a equipa descia um rio num estágio em Tomar. "Alguns jogadores estavam a mergulhar, e eu empurrei outros. Nisto, um gritou-me que um dos colegas não sabia nadar. Era para me assustar, e eu percebi. Então respondi que tínhamos muitos e menos um não fazia falta", ri-se. De Américo de Sá, presidente que o contratou, lembra-se de quando ele o pôs em causa. "Contra o Roma, achei que Romeu não estava em forma e que Jaime Pacheco era ideal para aquele jogo. O presidente veio ter comigo e questionou a minha opção. Nunca tinha visto um presidente a meter-se assim no trabalho do treinador", conta.

Valentim loureiro "só gritava"

Depois do FC Porto, Stessl foi treinar o Boavista. "Foi uma estupidez. E as pessoas do FC Porto avisaram-me para não ir. Mas a minha mulher e o meu filho queriam ficar em Portugal, e então aceitei", introduz. Ao chegar ao Bessa, deparou-se com uma estrutura muito menos profissional do que a do FC Porto, onde um jogador até desconfiava das capacidades do departamento médico. Mas o pior era Valentim Loureiro. "Gritava muito e fazia coisas nas minhas costas. Falar com o treinador é normal, mas ele só gritava", queixa-se. Depois de Pinto da Costa e Valentim Loureiro, conheceu outro decano: Pimenta Machado. "Mais uma vez aceitei, porque a minha família queria estar em Portugal. Não foi tão mau como o Boavista."


Vem a Portugal comer e levar vinho para vender


Herman Stessl vem a Portugal quatro a cinco vezes por ano. O austríaco tem um negócio de importação de bebidas. A Portugal, vem buscar guaraná e vinho. "O do Porto tem muita saída na Áustria. Mas outros também. É um país de boa comida e bebida. Em determinada altura vinha cá só para comer", sorri. "Cozido à portuguesa, dourada grelhada e tripas" são os pratos que elege. Por vir cá tantas vezes, fala bem a língua. "Agora estou um pouco esquecido, mas se estivesse aqui um mês inteiro lembrava-me outra vez", gaba-se, ele que tem um filho chamado Roberto Carlos. "Queria chamar-lhe Robert e depois um nome típico de Portugal. Então escolhi Carlos, porque eu também sou Karl. O Roberto foi porque no registo não deixaram ficar Robert", explica. Roberto Carlos é sócio do pai no negócio de bebidas.

in "ojogo.pt"


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