sexta-feira, 8 de junho de 2012

Wozniak ao Maisfutebol: «Suceder ao Baía era impossível»

Reencontro com o antigo guarda-redes polaco do F.C. Porto. «Nunca quis enganar ninguém» 

A presença da Seleção Nacional na Polónia resgata do esquecimento velhas personagens do futebol português. Andrei Wozniak é um desses casos. Quem não se lembra do guarda-redes escolhido por Pinto da Costa para suceder a Vítor Baía no F.C. Porto, em 1996?

Ora, Wozniak jamais revelou ser capaz de ocupar a baliza dos dragões com a qualidade do antecessor. Fez sete jogos, perdeu o lugar para um menino de 20 anos [Hilário] e rumou para Braga, onde repetiu o fracasso.

Muitos anos passaram, muito cabelo caiu e nem o bigode resistiu à agrura do tempo. Wozniak fala sem complexos das duas épocas em Portugal, assume mágoa por ter falhado e jura amor eterno ao F.C. Porto.

«Portugal é o melhor sítio do mundo. Fui muito feliz no Porto e em Braga. Só tive pena de não jogar mais vezes e de não ter ficado mais anos. Suceder a um herói como o Vítor Baía era impossível», diz ao Maisfutebol, no primeiro contato com um jornalista português «em muitos, muitos anos». «Que grande surpresa!»

«Ninguém queria acreditar: o Hilário titular em Alvalade»

«Era o titular da seleção polaca quando cheguei ao F.C. Porto. Comecei como titular, fiz vários jogos bons e tínhamos a defesa menos batida do campeonato», vinca Wozniak. O pior estava para vir. António Oliveira, o técnico, adorava surpreender.

Em Alvalade deixou toda a gente estupefata.

«Tive de ir fazer dois jogos pela seleção e quando voltei o Oliveira deu a titularidade ao Hilário. Ele era um menino sem experiência e jogou em casa do Sporting. Ninguém queria acreditar. Esteve muito bem, o F.C. Porto ganhou e perdi o lugar».

Wozniak só voltou à baliza perto do epílogo da liga. «Fiz mais dois jogos na fase final da época. Foi pena. O F.C. Porto será sempre o meu clube fora da Polónia. Tive uma boa relação com toda a gente no clube e quando voltar sei que serei bem recebido».

«Fui lesionado para Braga: nunca quis enganar ninguém»

Em Braga, o início de Wozniak foi prometedor. À 16ª jornada, porém, foi para o banco e de lá já não saiu. Neste caso, pelos vistos, com uma forte atenuante.

«Fui lesionado para o Sp. Braga e nunca recuperei. Essa é a verdade. Falei com o presidente e preferi sair. Nunca quis enganar ninguém», dispara, voz trémula, como que a pedir desculpa.

«Gostava de voltar a Portugal, claro, mas não é fácil. Teria de integrar a equipa técnica de um grande treinador. Vejo o Mielcarski com regularidade e quando estamos juntos é obrigatório falar sobre o F.C. Porto».  

Andrei Wozniak: a glória em 1995, a prisão em 2008

Antigo guarda-redes do F.C. Porto teve problemas com a justiça num caso de suposta corrupção desportiva

No F.C. Porto ninguém esquecera Jozef Mlynarczyck. Sem Baía, os dragões avançam para a contratação de outro guarda-redes polaco de bigode. Andrei Wozniak chega obstinado pelo triunfo e parte, dois anos depois, vergado ao peso do insucesso.

Em 1995, verdade seja dita, Wozniak era um herói na Polónia. Titular da seleção, símbolo do Widzew Lodz, autor de exibições portentosas. Frente à França, por exemplo, na corrida para o Euro1996.

Andrei Wozniak é, em 2012, treinador de guarda-redes. No Widzew Lodz, precisamente. «Gosto do que faço, adoro ir todos os dias para os treinos», refere à reportagem do Maisfutebol em solo polaco.

Em 2008, porém, o ex-guarda-redes do F.C. Porto chegou a estar preso durante alguns dias. Envolvido num escândalo de corrupção desportiva, Wozniak foi detido e, mais tarde, condenado a uma pena de prisão de dois anos e meio (suspensa por três anos) e a pagar uma multa de 30 mil euros.

«Não quero recordar isso. Faz parte do passado, quero olhar em frente», diz-nos, compreensivelmente desconfortável. Wozniak prefere falar do Campeonato da Europa que o seu país co-organiza e da festa que aí vem.

«Está tudo preparado. Vai ser fantástico e tenho a certeza que as condições criadas vão agradar as centenas de milhares de visitantes», explica o antigo dragão.

«Quero ir ver Portugal a Lviv e espero reencontrar amigos dos meus tempos no F.C. Porto. Acredito mais na seleção portuguesa do que na polaca», faz questão de nos dizer, num português ainda muito razoável. 

 

in "maisfutebol.iol.pt"

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