quinta-feira, 13 de setembro de 2012

FC Porto sem Hulk ainda mais forte do que Benfica...

Não é uma questão linear, mas considerando o número de problemas que Benfica e FC Porto têm para resolver nos respectivos planteis, parece-me que ainda assim o campeão nacional, mesmo sem Hulk, continua mais forte do que o Benfica (sem Javi Garcia e Witsel)...


Vamos ter de esperar mais alguns dias pelo recomeço da Liga, primeiro com um Marítimo-Sporting, para acertar as contas do calendário e da jornada 3, jogo esse em que os ‘leões’ estão ‘proibidos’ de perder pontos, e depois com a 4.ª jornada, que abre, na sexta-feira, com um Moreirense-V. Guimarães, continua, no sábado, com um FC Porto-Beira-Mar e, no domingo, com a realização de quatro partidas (Académica-Benfica, Braga-Rio Ave, Nacional-Paços de Ferreira, V. Setúbal-Olhanense) para conhecer o seu epílogo na segunda-feira, com os jogos Sporting-Gil Vicente e Estoril-Marítimo.

Outra vez e sempre uma jornada de sexta à segunda, com o operador televisivo a ditar as suas leis, sem qualquer tipo de oposição, apesar dos protestos vimaranenses: não seria mais lógico que o Aves-Benfica B pudesse ser jogado às 11 horas ao fim de semana, libertando espaço e tempo para o Moreirense-V. Guimarães ao sábado à tarde (18:00)?

Seja como for, o regresso da Liga traz com ela um atractivo extra: como vão apresentar-se Benfica e FC Porto, depois de terem visto partir Javi Garcia e Witsel (no caso dos ‘encarnados’) e Hulk (no caso do FC Porto)?

Quem vai responder melhor à perda do maior desequilibrador (Hulk), ao melhor ‘trinco’ (Javi Garcia) e ao melhor ‘médio volante’ do campeonato português (Witsel)? Será o FC Porto ou o Benfica?

No jogo com o Nacional, da 3.ª jornada, na Luz, já se viu alguma coisa sobre a ausência do espanhol, substituído, curiosamente, pelo médio belga, no último jogo que realizaria com a camisola do Benfica. Quer isto dizer que Jorge Jesus, numa primeira análise, admitia substituir Javi Garcia por Witsel. Fazia algum sentido. Com o belga numa posição mais recuada, o meio-campo abriria mais facilmente um lugar para Carlos Martins ou Aimar, a permitir manter o ‘2’ da frente (Rodrigo + Cardozo, com Lima à espreita).

Com a venda do belga, a tarefa de Jorge Jesus, em termos de opções técnico-tácticas -- e só nesse plano -- ficou mais facilitada. O número de escolhas reduziu-se e o avanço de Matic para a posição ‘6’ passou a ser consensual. Não há, assim, melhor solução.

O Benfica, em tese, está mais pobre. Carlos Martins e Aimar são excelentes executantes, mas Jorge Jesus não soube aproveitar a embalagem que Martins evidenciara nos jogos da pré-época e ambos não são jogadores de ‘hora e meia’, o que pode obrigar a outro tipo de opções. Bruno César é diferente, mas também pode assegurar as ligações entre o meio-campo e o ataque, sem perda de eficácia nas transições defensivas. Assim como Gaitán, mas neste caso parece existir uma perda de confiança mútua entre treinador e jogador, o que pode complicar as coisas.

Este reaparecimento do Benfica na Liga vai ser muito importante. A vantagem é que os processos técnico-tácticos de Jorge Jesus estão muito bem identificados pelos jogadores e Carlos Martins e Aimar conhecem-nos particularmente bem. Também é importante perceber como vão ser as dinâmicas de balneário, sem Javi e Witsel. E como vai reagir o grupo ao castigo de Luisão, no campo e fora dele.

Em síntese: há demasiadas condicionantes que pairam sobre a equipa dos ‘encarnados’ e parece-me claro que o Benfica se atrasou na planificação desta temporada. Quando se tem consciência de que um clube como o Benfica está muito exposto ao mercado -- alguns dos seus jogadores valorizaram-se muito no passado recente, com JJ... -- é preciso gerar alternativas. Não me parece que o Benfica se tenha preparado para as saídas de Javi Garcia e Witsel, e ainda está tolhido nas alternativas a Maxi Pereira, Luisão e Garay.

Na questão do defesa esquerdo, o que se pode dizer é que o Benfica alimentou o risco. Não me parece que um verdadeiro candidato ao título consiga superar um tão vasto conjunto de anátemas. Mas, se o fizer, terá muito mérito nisso, sem esquecer a questão da assimilação do futebol de Lima, cujo sucesso terá sempre a ver com um eventual menor fulgor de Cardozo...

No caso do FC Porto, não se pode ficar satisfeito quando se perde o jogador mais decisivo da Liga. O FC Porto não tem mais nenhum futebolista parecido com Hulk. Sempre fui dizendo que jogadores como Hulk não abundam. Tem um perfil quase único. Em termos de ocupação do espaço, o FC Porto tem Varela, Atsu e James. Mas parece-me que só uma forma de o FC Porto superar, desportivamente, a saída do internacional brasileiro: aumentando a intensidade competitiva da equipa, no seu todo. O FC Porto tem jogadores para jogar a um ritmo mais alto, mas a verdade é que, a meio da época, pode pagar o preço da sobrecarga de Fernando, Moutinho e Lucho. E, sem Hulk a estabelecer a diferença, ou James passa a ser um desequilibrador em permanência ou o FC Porto vai ter de afirmar-se pela força do colectivo.

Parece-me evidente que o Braga, essencialmente, pode tirar partido desta ‘quebra de valor’ de FC Porto e Benfica, mas o Braga -- é bom não esquecê-lo... -- também perdeu o seu ‘Hulk’. Na verdade, o Braga sem Lima também é um Braga diferente -- a ver vamos com que nível de eficácia... Em relação ao Sporting, o jogo de sábado no Funchal vai dizer muita coisa... O Sporting também poderia aproveitar-se desta ‘quebra de valor’ dos seus rivais, mas o clube de Alvalade vive uma situação em que não está apenas dependente dessa quebra de valor dos adversários, mas essencialmente do que conseguir fazer em termos de realidade interna para não se enfraquecer ainda mais...

Em resumo: parece-me evidente que, ainda assim, com a Liga outra vez nivelada por baixo, o FC Porto tem menos problemas para resolver do que o Benfica. E isso pode fazer toda a diferença no final da época...


Rui Santos in "relvado.pt"

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