terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um Dragão que embala, atropela e... foge


Foi fácil, fácil. Para quê complicar se a vitória portista se resume assim, de uma forma tão simples? E simples continuam a ser também as contas do campeonato: a suposta pressão dos adversários directos não passou, afinal, de cócegas nos pés do FC Porto, que voltou a esticar a vantagem para sete pontos. Sem comichões, Hulk embalou para mais uma exibição de gala, serpenteando sem travões pelo meio de uma defesa leiriense desgovernada e desprotegida, muito por culpa de uma táctica algo suicida. Já lá vamos.

Antes disso, há mais uns adjectivos a distribuir por conta do recital de Hulk, goleador da equipa, do campeonato, e verdadeiro combustível de um FC Porto explosivo. Pelo menos, suficientemente explosivo para não se ficar por resultados magros, isto porque, além de Hulk, houve ainda um Falcao solidário e também sintonizado com a baliza. A parceria foi demolidora.

Abriu-se o primeiro parágrafo a dizer que a 14ª vitória de André Villas-Boas foi fácil. Falta explicar porquê. Com Fucile, Varela e Rúben Micael devolvidos ao onze, os portistas mantiveram a identidade e o código genético do costume, assumindo um papel dominador que, por si, já seria motivo de sobra para complicar a noite ao Leiria. Mas, como estava prometido, é preciso acrescentar à explicação das tais facilidades o facto de a aposta de Pedro Caixinha ter saído ao lado. A revolução que fez - prescindindo, entre outros, de Carlão - tinha como objectivo aproximar as linhas e, com isso, reduzir espaços, numa espécie de táctica do acordeão, com a qual, supostamente, teria ainda a capacidade de desdobrar-se em raides de ataque. No papel não estaria mal, mas a aplicação no relvado falhou com estrondo: Caixinha projectou um jogo de sombras, quase de marcação homem a homem, que só podia dar no que deu. Asneira da grossa.

Se há coisa que não falta neste FC Porto é quem desequilibre. Contra um adversário que se desmontava ao mínimo movimento de combinação de criatividade, não foi difícil ao dragão rasgar avenidas e acelerar rumo à baliza de Gottardi, resolvendo o assunto em cinco minutos. Literalmente: dos 14 aos 19. Hulk, servido por Rúben Micael, abriu o livro com um chapéu e escreveu o capítulo seguinte, após assistência perfeita de Falcao. Dois golos que destaparam em definitivo as fragilidades de um Leiria incapaz de emperrar como queria a circulação de bola. Pior: incapaz também de contrariar o encolhimento em campo que fazia de Helton um espectador distante. O FC Porto, que até tinha um desgaste europeu para gerir, pôde cansar-se menos porque o adversário o convidava a jogar num espaço reduzido. O Leiria tinha ainda desatenções fatais, como aquela que Moutinho aproveitou, na marcação de um livre rápido, para colocar Varela a rolar numa passadeira rumo ao terceiro golo.

Caixinha corrigiu ao intervalo. Melhor: corrigiu-se. Apostou no trinco clássico que tinha deixado no banco e trocou um dos centrais, por necessidade. O quarto golo do FC Porto, obra de Falcao, parecia desmentir a ideia de maior consistência leiriense, mas, daí para a frente, porque os portistas perderam algum fôlego com as substituições, percebeu-se que o desenho do Leiria era bem mais equilibrado - Leandro Lima no apoio a Zhang e N'Gall e um meio-campo, enfim, com alguma solidez. O golo de Carlão, de penálti, não mudou grande coisa, mas talvez tenha servido de lição a Caixinha. Ter estratégia é bom; sobrepô-la à identidade habitual da equipa é capaz de ser um risco pouco compensador.

Ao golo de honra do Leiria, o FC Porto respondeu de mão-cheia. Hulk serviu Falcao, noutro capítulo de um entendimento perfeito, e o colombiano não perdoou. Villas-Boas projectou, então, um ensaio novo. Aproveitando a substituição de Hulk para uma ovação justa, juntou Walter e Falcao na frente, colocando James Rodríguez (estreia no campeonato) nas costas de ambos, como vértice mais atacante de um meio-campo em losango: Fernando a trinco; Souza à direita; Rúben à esquerda. Não fosse o egoísmo de Fucile, o FC Porto teria chegado à meia dúzia. Um detalhe, apenas, porque dos cinco aos sete foi um instantinho: cinco golos ao Leiria, sete pontos de vantagem no campeonato.

FC Porto, 5
União Leiria, 1

Estádio do Dragão

Relvado Excelente

Espectadores 29.112

Árbitro Vasco Santos

Golos

1-0 Hulk 14'
2-0 Hulk 19'
3-0 Varela 37'
4-0 Falcao 51'
4-1 Carlão 73' g.p.
5-1 Falcao 75'

FC Porto

Helton, Fucile, Rolando, Maicon, Álvaro Pereira, Fernando, João Moutinho (Souza 58’), Ruben Micael, Varela (Rodríguez 69’), Hulk (Walter 79’) e Falcao.

Treinador André Villas-Boas

Leiria

Gottardi, Panandetiguiri, Bruno Miguel(Tall 46’), Zé António, Patrick, Brígido (Soares 46’) Paulo, Lima, Pateiro, N’Gal e Zhang (Carlão 63’).

Treinador Pedro Caixinha
 
in "ojogo.pt"

1 comentário:

Rui Anjos (Dragaopentacampeao) disse...

Jogo bonito, prático, eficaz, estético e de grande expressão colectiva.

Um regalo para os olhos e um orgulho para adicionar à paixão clubista.

Que seja para continuar.

Nesta bela exibição, houve ainda alguns (poucos) que não conseguiram o brilhantismo dos colegas.

Quero no entanto realçar a melhoria de Rúben Micael, demonstrando que na sua melhor forma será titular de pedra e cal.

Moutinho, Falcao e Hulk, os grandes expoentes desta equipa.

Gostei!

Um abraço