sábado, 8 de janeiro de 2011

F.C. Porto-Marítimo, 4-1 (crónica)

Um super-herói imperfeito não deixa de ser um super-herói. Principalmente quando faz milagres. Freddy Guarín fez dois numa só noite. Começou com um pontapé divino a 40 metros de distância e acabou num tiro em arco a beijar docemente as redes amadas. O colombiano não jogou de capa ondulante, escudo indestrutível e asinhas na cabeça, mas a sua verdadeira identidade foi revelada nos festejos do 3-1. 

Em passos de dança e chapéu vueltiao na mão, a celebração de uma noite heróica, única na carreira de um ser imperfeito. Como o são tantos super-heróis.

Guarín resgatou o F.C. Porto de duas situações incómodas diante do Marítimo. A trajectória abençoada do primeiro golo indicou o caminho da redenção aos dragões e a do segundo surpreendeu pela execução técnica perfeita, em arco projectado pelo pé esquerdo. 

O cigarro que culmina as grandes conquistas derrete na mão de Guarín. Justificadamente. Os adjectivos escasseiam perante tamanho esplendor. Os livros, as teses, os compêndios sobre futebol hão-de guardar um espaço para a noite heróica do colombiano incompreendido. Um atleta imperfeito, sem qualquer dúvida, mas senhor de super-poderes

Sem Falcao, é difícil não ser platónico

Para além do mundo Marvel interiorizado por Guarín, houve um F.C. Porto platónico. Um romântico muitas vezes ingénuo, sem sexo. Não ter Radamel Falcao é uma privação difícil de suportar, de facto. E nem Walter, remetido para 90 minutos de banco, serviu como medicina alternativa. 

As dificuldades penetrativas do dragão foram evidentes. A bola ardia em toques velocíssimos, virava da direita para a esquerda, servida pela excelência de Moutinho e Belluschi, mas morria quase sempre na modorra capitalizada por um Marítimo submisso e inofensivo. 

Hulk foi ponta-de-lança por obrigação, uma roldana esticada até ao limite, entre Varela e James Rodríguez. Tudo e todos inebriados num futebol não raras vezes poético e sofredor, necessitado de um acto mais carnal, heróico até. Como aqueles golos de Guarín.

Hulk e James associam-se ao herói colombiano 

O primeiro golo facilitou a leitura do processo e amansou as dores da revolta. Uma revolta que vinha desde a derrota contra o Nacional, há seis dias. Ainda houve um pontapé do laborioso Moutinho ao poste e um cabeceamento de James Rodríguez a cheirar o golo, antes de Hulk elevar para 2-0 num grito com tanto de irreverente como de sacro. 

O Marítimo reduziu sem saber bem como, através de um lance de bola parada, mas os fantasmas não chegaram a assombrar a baliza de Helton. Freddy Guarín e James Rodríguez não o deixaram, apesar de muitas vezes se ter percebido que sem Falcao este Porto pode vir a sofrer no futuro.

Nas alegações finais foi possível aplaudir o regresso de Mariano Gonzalez e usufruir de algumas combinações diabólicas entre o trio da dianteira. O F.C. Porto venceu, enfim, sem contestação possível, mesmo limitado na posição de ponta-de-lança e errático em um ou outro lance de bola parada.

Os da Madeira, vindos de oitos jogos sem derrotas, foram o vilão caído em desgraças às mãos de Freddy Guarín. Sem darem grande luta, nem provocarem danos de monta. O super-herói imperfeito resistiu sem mácula, nem dor. E foi para casa envolvido num espectro de mistério. Afinal, que Guarín é este, senhores?

in "maisfutebol.iol.pt"

1 comentário:

Dragus Invictus disse...

Bom dia,

Ontem tivemos a atitude certa, diante de um Marítimo que veio fazer jogo passivo, abdicou de atacar, e tinha como clara estratégia chegar ao intervalo com o marcador a zero, e jogar com o nosso possível nervosismo na segunda parte.

Mas Guarin com um golaço abriu o marcador e deu justiça ao marcador à partida para o intervalo.

Nota para Carlos Xistra, na primeira parte, que fartou-se de apitar, teve má avaliação de lances, de interpretação de leis da vantagem etc.
Deveria ter expulso Ricardo Esteves que num lance sem bola deu com os braços no rosto de Belluschi. No lance do golo do Marítimo, é Sapunaru que é pisado, sai mesmo lesionado e ainda leva amarelo, quando o amarelo seria para Djalma, ou seja segundo da noite para Djalma e que portanto deveria ser expulso.
Felizmente este lance não teve influência no resultado, pois nós fizemos um jogo bravo e vencemos bem, e para penalizar a atitude do Marítimo, devia ter sido por score mais elevado.

Guarin foi o homem do jogo. Neste esquema de jogo de Villas-Boas em que não há um médio defensivo fixo, Guarin pela sua força, capacidade técnica, resistência física e capacidade de remate de longa distância, tem vindo a ganhar o seu espaço na equipa, aproveitando bem a lesão de Fernando.
Vai ser uma boa dor de cabeça para AVB decidir quem ocupará a posição mais recuada do meio campo.

Moutinho foi o pêndulo da equipa, fantástico.
James também está a aproveitar bem as oportunidades, e em jogos que tem mais espaço, demonstra toda a sua capacidade.
Hulk está a fazer uma época fantástica, e ontem esteve bem.
Helton transmite serenidade, Otamendi foi um "bombeiro", Sapunaru e Rafa também estiveram bem.
Destaque também para o regresso de Mariano e para o público.

Concluímos a 1ª. volta com um excelente registo e agora temos 8 jogos fora e 7 em casa até final do campeonato, que vamos lutar para vencer e reconquistar o ceptro de campeões que nos foi roubado na época passada.

Abraço

Paulo

http://pronunciadodragao.blogspot.com/