terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"Pode ser um fenómeno"

Há cerca de um mês a trabalhar no Paraguai, aos comandos do 3 de Febrero, clube da Ciudad del Este, o telemóvel do treinador Rui Capela talvez nunca tenha recebido tantas chamadas de Portugal como no dia de ontem. Motivo: o seu clube defrontou o Cerro Porteño. Ou seja, Iturbe, reforço do FC Porto para a próxima época, está metido na história.

Rui Capela viu Iturbe entrar para a segunda parte e ficou deliciado, apesar de o craque de dupla nacionalidade (paraguaia e argentina) não ter marcado qualquer golo. O 3 de Febrero perdeu em casa por 2-1. "O FC Porto acertou em cheio na contratação do Iturbe. É um jogador que faz a diferença, jogando de uma maneira vertical", diz o treinador do emblema paraguaio. Com 17 anos, o pequeno Iturbe é uma das sensações do campeonato paraguaio. "Com esta idade, e com a necessária adaptação aos modelos tácticos utilizados na Europa, o Iturbe é um jogador de futuro. Tem características únicas e, acima de tudo, tem uma velocidade de execução impressionante. Faz tudo com muita rapidez". Os elogios de Rui Capela não terminam aqui, mas apresenta já a conclusão: "Pode ser um fenónemo".

Com tanta qualidade, a pergunta impõe-se. E se Iturbe for marcado individualmente continua a desequilibrar? "Tinha um jogador preparado para o marcar. Vimos vídeos, mas ele teve dificuldades. O Iturbe sai muito bem da marcação", conta Rui Capela. A pergunta seguinte passou a ser óbvia. Mas afinal aquele que já foi apelidado de pequeno Messi tem algum defeito? "É um jogador irreverente, ou seja, apresenta um certo individualismo, o que é natural num jogador com a sua qualidade. Mas é pontual. O Iturbe é um jogador puramente ofensivo, que procura a baliza e não tem medo de ter a bola". Quanto ao trabalho defensivo, obrigatório em qualquer equipa europeia, o treinador do 3 de Febrero não conseguiu ficar com uma ideia concreta. "Como estávamos a jogar com dez, ele não foi obrigado a defender", contou.


Joga como avançado, no centro e na esquerda

Os ombros de Juan Manuel Iturbe têm aguentado bem o peso que a comparação com Messi sempre carrega. A Imprensa argentina, e também a brasileira, foram as responsáveis pela comparação, mas Rui Capela tem uma opinião ligeiramente diferente. "O Messi é único e nem é preciso falar dele. O Iturbe não é bem como o Messi, porque apresenta outras características", diz. As diferenças dizem respeito, essencialmente, aos lugares que Iturbe pode ocupar. "Ele pode jogar na esquerda, junto à linha, mas também no centro. Pode também ser um avançado mais recuado". Contas feitas, pode jogar em várias posições, uma espécie de jogador multifacetado. Certo é que "Iturbe tem um potencial enorme" e ainda uma margem de progressão assinalável.

Há pouco tempo no Paraguai, Rui Capela já percebeu que aquele campeonato sul-americano é fértil em talentos. "É sempre possível encontrar jogadores da qualidade do Iturbe. É uma questão de procura. Pela minha parte vou estar atento". Quanto contratou Iturbe, o FC Porto antecipou-se a alguns colossos europeus.


Na tripla fronteira

Aos 41 anos, e sem grandes hipóteses em Portugal, Rui Capela emigrou para o Paraguai. "Depois de terminar a carreira de jogador, trabalhei durante dez anos em Portugal, em clubes como o Quarteirense, Esperança de Lagos ou Portimonense. Um grupo de empresários viu o meu trabalho com a formação e convidou-me para o 3 de Febrero. O objectivo é estruturar todo o futebol". O clube da Ciudad del Este segue no sétimo lugar e os empresários portugueses Pedro Meixedo e Gonçalo Almeida, em conjunto com um brasileiro e um paraguaio, têm um projecto para tomar conta do clube.

Aos poucos, Rui Capela começa a habituar-se à Ciudad del Este. É a segunda maior cidade do Paraguai, com mais de 300 mil habitantes, e é uma das mais importantes zonas francas do mundo. Uma cidade de comércio, contrabando e violência, situada junto às famosas cataratas do Iguaçu, que faz fronteira com o Brasil e a Argentina. A tripla fronteira.

in "ojogo.pt"

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