terça-feira, 8 de março de 2011

"James vai crescer muito no FC Porto"

"Não há que apressá-lo, é um miúdo de apenas 19 anos que tem todo o futuro à sua frente. E se com essa idade já passou pelo futebol argentino e chegou à Europa, deve querer dizer alguma coisa, não? Tem muito para dar". O tom da voz é inconfundível. Nota-se que do outro lado do telefone fala um colombiano. E as suas palavras também são uma descrição da pessoa, moderada, tranquila, com ideias e conceitos claros, sem necessidade de declarações explosivas ou palavras estrondosas para descrever. Quem assim fala sobre James Rodríguez é Francisco Maturana, um dos treinadores mais importantes, se não o mais importante da história do futebol colombiano. Aos 62 anos, e no cargo de director técnico e de Desenvolvimento Desportivo da Federação Colombiana de Futebol, Pacho está a par da evolução de todos os seus compatriotas. "Mesmo se não dão os jogos, temos um programa de televisão que faz um resume de todos os nossos futebolistas que jogam no estrangeiro" conta a O JOGO.

Por isso mesmo, não é preciso uma grande introdução para que Maturana lamente a ausência de James no Sul-Americano de Sub-20. "Era necessário para ele continuar no seu clube porque se encontra em plena fase de adaptação, mas claro que teria sido importante para a Colômbia contar com James, mas já sabíamos que seria assim. Temos que nos conformar e acreditar que o cenário será diferente quando venha para o Mundial", comenta com o coração posto na sua selecção. E de seguida, oferece alguns elogios ao esquerdino que voltou a ter lugar no FC Porto - e a ser decisivo - graças à suspensão de Hulk. "James é um miúdo que está a mostrar que a confiança que depositaram nele tinha uma razão de ser. Encontra-se num processo de crescimento e está bem encaminhado. Teve de amadurecer desde muito novo com a chegada prematura à Argentina. Triunfou ali rapidamente e foi para a Europa. E não é fácil conseguir todo o que ele alcançou tão cedo. Esse é um grande mérito dele, mais ainda quando se consegue projectar tudo o que tem pela frente".

"Não vou explicar que classe de jogador é porque já toda a gente o descobriu e conhece bem", acrescenta Pacho, com uma humildade que o diferencia, ainda que a quantidade de pergaminhos que acumula na sua carreira o coloquem num patamar superior da opinião colombiana. Técnico da primeira equipa do seu país que ganhou um título internacional (a Libertadores de 1989 com o Atlético Nacional), da selecção que garantiu o primeiro triunfo oficial (Copa América 2001) e responsável pelo regresso da Colombia aos Mundiais em Itália 90, depois de 28 anos de ausência, Maturana vê em James um futebolista "com muita dinâmica e uma grande vocação ofensiva. Está sempre com os olhos na baliza adversária e tem um pontapé muito forte e colocado. Tenho a certeza que o FC Porto, como grande clube mundial, vai continuar a polir as suas características e a ajudá-lo a crescer, mas o importante é que tem grandes condições inatas. De um bom jogador sempre se pode fazer um ainda melhor".

O novo melhor amigo de falcao também cresceu ao lado de Hulk

Com Varela e Hulk em boa forma, James Rodríguez teve algumas dificuldades para se afirmar na equipa no início da época, mas acabou por ganhar o seu espaço, beneficiando das paragens forçadas dos companheiros do ataque. Primeiro foi Varela, depois Falcao e, no último jogo, foi Hulk a abrir espaço para a sua entrada directa para o onze onde se tem revelado decisivo, nomeadamente, nas assistências. Pelo caminho, já ganhou o duelo com Cristian Rodríguez pela preferência de André Villas-Boas

"Guarín tem muita qualidade"

James não é o único colombiano no plantel do FC Porto. Maturana também está atento à evolução de Guarín e Falcao no plantel portista. "Fico muito orgulhoso por ver três colombianos juntos e participando da excelente campanha de um clube tão importante como é o FC Porto. Imagino que para eles deve ser uma grande ajuda poderem estar juntos, conviver e manter alguns dos nossos costumes. Essa comunhão serve para que se sintam apoiados e isso reflecte-se naturalmente nos rendimentos individuais." destaca Maturana.
"Guarín, em particular, teve reconhecimento em França e tornou-se conhecido lá. Desde que chegou a Portugal, tem lutado muito para conseguir um lugar, mas tem muita qualidade e trata de o demonstrar cada vez que lhe dão uma oportunidade para fazê-lo", elogia Pancho.

"Falcao não falha, marca sempre"

A afirmação de Falcao no FC Porto e no futebol europeu não surpreende Maturana, embora tenha levantado alguns sobrolhos na Colômbia. O mais experiente treinador colombiano recorda que tanto ele como James e Guarín partilham um passado com pontos de contacto. "Os três fizeram um percurso semelhante, passando pela Argentina e chegando à Europa por mérito próprio" recordou antes de opinar sobre Falcao: "Muitas vezes foi questionado no nosso país e desvalorizavam a importância dos seus golos por serem marcados no campeonato português, mas é um avançado que não falha, marca sempre, também nas competições europeias. Vai ser muito importante para o futuro da nossa selecção que graças a ele, a Rodallega, Renteria e Adrián Ramos, entre outros, conta com muitas alternativas no ataque".

Para continuar ou talvez não...


O regresso de Hulk às opções para defrontar o CSKA de Moscovo - cumprida que foi a suspensão de um jogo frente ao Guimarães na sequência do quinto cartão amarelo visto em Olhão - pode levantar algumas dúvidas em relação ao onze inicial a apresentar por André Villas-Boas. O bom momento que James atravessa poderá levar o técnico a ponderar melhor as opções a fazer, até porque Varela tem estado uns furos abaixo do seu melhor rendimento nos últimos jogos. Em condições normais, Villas-Boas faria a opção pelo trio Hulk, Varela e Falcao, mas James vem assumindo um papel de maior peso na equipa, desequilibrando com iniciativas que têm rendido golos. Perante esta "boa dor de cabeça", é de admitir a possibilidade que o colombiano possa ganhar o lugar a Varela e surja no onze inicial frente ao CSKA de Moscovo, ele que se estreou na Liga Europa contra o CSKA de Sófia, marcando um dos três golos apontados pelos azuis e brancos.

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