sábado, 5 de novembro de 2011

"Olho para a frente e não vejo ninguém"

Começou sereno, como sempre, mas irritou-se e deu um murro na mesa. Vítor Pereira bateu-se como um guerreiro na defesa do grupo , que considera maltratado. Aos gritos, frisou que isso só lhe dá mais força para seguir em frente e pediu a ajuda dos adeptos.
Que efeitos negativos pode ter, na equipa, a derrota com o APOEL frente a um Olhanense que costuma criar problemas?
Nós temos de perceber que a Liga dos Campeões e o campeonato são competições distintas, e é importante mudarmos o "chip" para nos focarmos inteiramente naquilo que temos feito no campeonato. E no campeonato somos líderes e vamos a Olhão, onde vamos encontrar uma equipa bem organizada e com bons jogadores.
Como é que explica a inconstância do FC Porto esta época, com algumas boas exibições no campeonato e uma Liga dos Campeões onde fica muito aquém daquilo que era o desejo da administração do clube e da sua própria ambição?
As coisas ainda estão em aberto. Acreditamos que seremos capazes de no fim concretizar os nossos objectivos. Mas é importante perceber que o nível exibicional acontece em cima de confiança, de resultados. Aquilo que apresentámos no ano passado veio depois das vitórias; no início, as coisas não começaram no nível que nós pretendíamos. O que temos que fazer é ir à procura do nosso jogo, de posse, de pressão. Mas de forma tranquila, para que a confiança venha, para que o nível exibicional constante surja naturalmente.
E consegue prometer que a equipa vai atingir essa regularidade exibicional? Se sim, para quando?
Trabalho, competência e dedicação total é tudo aquilo que podemos prometer.
Quando começou a trabalhar, esperava já estar melhor nesta fase?
Nesta altura da época, se quisermos comparar com factos, o ano passado, nesta mesma jornada, tínhamos empatado dois jogos e tínhamos ganho a Supertaça [n.d.r.: o FC Porto tinha apenas um empate]. É exactamente o mesmo registo que temos este ano e acrescentamos-lhe o melhor ataque no campeonato. A única diferença é da Liga dos Campeões para a Liga Europa. Mas as duas provas, nomeadamente nos grupos que nos calharam, são realidades completamente incomparáveis.
Depois da chegada de Chipre, que tipo de comportamentos percebeu por parte dos jogadores?
O que eu vejo é que há um critério diferenciado entre aquilo que nós fazemos e o que os outros candidatos ao título fazem. Isso, para nós, é claro e percebemos a intenção das pessoas que o fazem. Respeitamos as críticas, mas não admitimos a falta de respeito. Os jogadores sentem a injustiça na apreciação que se faz ao que acontece nos jogos do FC Porto. Isso, no balneário, só nos revolta e dá força para continuar a lutar. Estes jogadores, que no ano passado nos deram tanto, merecem o apoio da nossa massa associativa. Os outros querem é o nosso mal. E é para esses jogadores, que se querem exibir ao nível do ano passado, que eu peço ajuda. A massa associativa não pode ir nessa onda, nessa diferenciação que às vezes irrita. Porque quando eu olho para a frente, não vejo ninguém. Se nós estamos assim tão mal e os outros tão bem, devíamos estar a dez pontos dos outros. Mas estamos à frente e com mais golos marcados, e é isso que não podemos esquecer.
O jogo com o Olhanense é também a forma de dar resposta a isso tudo que acabou de dizer?
É um jogo em que queremos ganhar e ser Porto na entrega e qualidade. Ser Porto não é só qualidade; fomos Porto na entrega no último jogo. Não fomos na qualidade, mas quisemos ser. Vamos a Olhão conscientes de que somos líderes do campeonato, apesar de todo o folclore. Conscientes das dificuldades que vamos ter, vamos com a vontade de trazer de lá os três pontos e manter a liderança.

"Coragem não me falta"

Para quem acha que o treinador possa ter o lugar ameaçado, Vítor Pereira respondeu duas vezes. "Não. Decididamente não", frisou. "A estrutura dá-me total confiança", prosseguiu.
A crítica faz parte e tolera-se. "A falta de respeito é que não", avisa, garantido que "os jogadores estão unidos e querem corresponder em termos exibicionais àquilo que é a sua qualidade." Sobre o que se diz e o que se escreve, rebate tudo e todos e até aponta um exemplo. "No último jogo, estávamos a perder, queríamos mais posse e variação dos corredores, e então tiro Fernando, meto Guarín, como se fez muitas vezes o ano passado. Empatámos, e tudo estava bem feito; um minuto depois sofremos o golo da derrota e tudo muda. E porquê? Porque os analistas não são coerentes e vão nessa onda de teatralização que já falei. Mas ser treinador é ter coragem. E isso não me falta", sublinhou. "Vejo o que é melhor para a equipa e não tenho medo das minhas decisões. No fim vamos dar resposta a toda esta gente e tenho a certeza absoluta de que vamos festejar", prosseguiu.
Sobre a sua posição no clube, garante "total confiança da estrutura", que o convidou "pelo reconhecimento da competência e do trabalho." Por isso, quando ouve que não tem carisma nem autoridade responde novamente com o conhecimento de causa que a SAD tinha quando o promoveu. "Sinto a liderança. E também a confiança dos jogadores. Não me sinto minimamente fragilizado com o que se diz externamente", concluiu.

Treinador não acredita que Guarín se tenha queixado ao empresário

A insatisfação de Guarín, dada à estampa por O JOGO, na voz do empresário Marcelo Ferreyra, não corresponde, segundo Vítor Pereira, àquilo que o jogador mostra diariamente. "Com certeza, o empresário de Guarín tem falado pouco com ele. O que sinto do Guarín que tem trabalhado comigo e, aliás, de todos os outros jogadores é uma grande união e uma grande vontade de dar alegrias aos nossos adeptos. É isso que eu tenho visto e sentido no treino", respondeu.

"Época passada não se repete"

Vítor Pereira acredita que muita da contestação que sentiu, por exemplo, à chegada de Chipre tenha a ver com a memória da época passada. "Quando eu aceitei ser o treinador, sabia que herdava uma época de sonho. É importante que todos saibam que a época passada não se repete. A massa associativa também tem de perceber isso e ter paciência para os jogadores encontrarem o seu melhor jogo, que mais dia menos dia vai chegar", disse. Ainda sobre o que ouviu no aeroporto, "é natural que o lado emocional se faça sentir quando as coisas não correm bem." "Mas não temos de o valorizar muito", concluiu.











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