domingo, 8 de janeiro de 2012

Medo a começar e dois sustos a acabar

Parece que as imagens no túnel entre os balneários e o relvado de Alvalade que deram a mais estéril polémica da temporada afinal metem mesmo medo. Pelo menos ontem, no clássico, devem ter metido. Porque um jogo entre duas equipas que deviam pensar na vitória acabou por ser um desfile de falta de autoconfiança, em que a maior preocupação foi não perder. O jogo só se agitou nos minutos finais, quando Izmailov e James Rodríguez tiveram as mais claras oportunidades para marcar. Na primeira delas, o russo atirou fraco e permitiu o corte de Álvaro Pereira sobre a linha; na segunda, já nos descontos, foi Otamendi que se colocou na direcção do remate do colega de equipa.
Sporting e FC Porto acabaram empatados, sem golos, e podem ver hoje a vida complicar-se se o Benfica vencer o Leiria na Marinha Grande - os leões ficarão a oito pontos do primeiro lugar e os dragões verão o rival da Luz isolar-se no comando. Uma desvantagem que ambos preferem assumir em vez do fardo, sobretudo psicológico, de uma derrota no clássico de ontem. Domingos Paciência poderá continuar a dar papa ao seu bebé e Vítor Pereira aumentou para 53 o número de jogos consecutivos do FC Porto sem perder na Liga, sobrevivendo ao local onde tinha sido averbada a última derrota, ainda nos tempos de Jesualdo Ferreira.
Do lado do Sporting, o estreante e surpreendente Renato Neto foi o coelho que Domingos tirou da cartola para o clássico, numa decisão que confirmou a falta de confiança em André Santos e o apego do treinador ao seu meio-campo em triângulo com dois vértices mais ofensivos. O jovem resgatado ao Cercle de Brugge no mercado de Inverno mostrou-se um pouco perdido em campo, com medo de pisar em ramo verde, e sobretudo muito lento, impedindo transições rápidas que permitissem levar a bola em condições a Van Wolfswinkel. Nos portistas, o onze foi o esperado, com a nuance da colocação de João Moutinho ao lado de Fernando, mostrando as cautelas de Vítor Pereira. Com tanta gente preocupada em não errar e a arriscar tão pouco, tornou-se difícil ver um lance de perigo na primeira parte - as excepções foram os cabeceamentos de Maicon e Polga, após cantos, resolvidos pela frieza de ambos os guarda-redes.
Vítor Pereira deu um sinal de querer mais logo ao intervalo, mexendo no desenho do meio-campo, avançado Moutinho para perto de Belluschi. Resultou. O FC Porto entrou melhor, a pressionar o Sporting na primeira zona de construção e obrigando os leões a aumentarem a frequência dos lançamentos longos para Van Wolfswinkel, um ponta-de-lança que, pelas suas características, não resulta com grandes correrias. Domingos foi atrás e também mudou o desenho do seu miolo, desta vez colocando Matías Fernández à frente de Schaars e Elias, sacrificando Renato Neto logo aos 53'. Com as equipas de novo encaixadas, voltou o equilíbrio de forças, apenas quebrado com lances ou erros individuais. Foi assim que Hulk e Van Wolfswinkel tiveram as suas chances de marcar, mas mais uma vez Rui Patrício e Helton levaram a melhor.
A entrada de Izmailov, ainda com 28 minutos de jogo pela frente, acabou por ser a tesoura que cortou as amarras da partida. Embalado pelo enorme aplauso de todo o estádio, o russo entrou cheio de gás, arrastando toda a equipa do Sporting para a frente. E, aos 83', fez os adeptos levarem as mãos à cabeça: recebeu de Matías à entrada da pequena área e, com Helton fora da jogada, acabou por atirar sem grande convicção, permitindo o corte de Álvaro Pereira praticamente em cima da linha de golo. Uff!, suspiraram os portistas.
Pensou-se que esse lance tinha sido o golpe final de um clássico de muito nervo e tensão, mas pouco talento e qualidade. Mas ainda houve tempo para novo susto, desta vez nos corações leoninos, quando Defour fugiu pela direita e serviu James no coração da área. O remate do colombiano ia direitinho à baliza e fez os adeptos portistas levantarem os braços de expectativa. Mas Otamendi, no local errado à hora errada, cortou sem querer, fazendo mais uma vez que todos esses adeptos ficassem de mãos na cabeça. Uff!, disseram os sportinguistas. E uff!, disseram os benfiquistas.

in "ojogo.pt"

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