terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Janko: um cd especial e a tragédia no ano de 2009

O novo dragão deu a voz ao hino do Campeonato da Europa de 2008. No ano seguinte teve de lidar com a morte do melhor amigo. «Foi muito pesado».


2008 e 2009, anos terríveis na vida de Marc Janko. A dor pelo afastamento do Campeonato da Europa, co-organizado por Áustria e Suíça, só teve dimensão paralela no transtorno desesperado causado pela morte do melhor amigo. 

Janko conhecera Gustav Kral nas escolas do Admira Wacker. Tinham a mesma idade, partilhavam os mesmos interesses, andavam sempre juntos. No dia 11 de Outubro de 2009, Gustav sofreu um terrível acidente de viação e não resistiu às graves lesões. Morreu com 26 anos. 

Marc estava concentrado num estágio da selecção austríaca. O mundo desabou. A sua mãe, Eva Janko, conta tudo aoMaisfutebol. O dia em que a tragédia bateu à porta. «O desaparecimento do Gustav foi um momento muito pesado para ele. Ele teve uma morte trágica, num acidente de carro», recorda a progenitora do novo ponta-de-lança do F.C. Porto.

«Ele estava com a selecção da Áustria e quis logo vir-se embora. Convenceram-no a ficar e três dias depois conseguiu marcar um golo em memória do Kral. Foi num jogo contra a França, em Paris. Ele disse-me que essa foi a melhor forma de homenagear o melhor amigo.»

A história é horrível. Gustav conduzia o seu Audi acompanhado pela namorada Patricia Kaiser, Miss Áustria. Um pouco à frente seguiam os pais de Gustav. Numa estrada escura e com o piso molhado, o amigo de Janko perdeu o controlo do veículo e despistou-se. Faleceu no local. 

Um ano e meio antes, a vida de Marc era perfeita. Capitão da selecção, estrela do Red Bull Salzburgo, menino de boas famílias. Não lhe faltava fama nem saúde. A poucos meses do início do Euro2008, o ponta-de-lança chega a ser capa de um cd de música. Wir Sind Europa (Somos Europa), o hino do Europeu, teve a voz do jogador do F.C. Porto. 

A ideia nasceu numa concentração da selecção. Marc falou com os dois outros capitães, Andrei Ivanschitz e Helge Payer, e avançaram com o sonho. Convidaram um compositor austríaco famoso, Rainhard Fendrich, e o projecto nasceu. Consta que a voz de Janko está longe de corresponder aos predicados futebolísticos. 

No final da peça pode assistir ao vídeo com a cantiga. A foto corresponde, precisamente, à capa desse álbum. 

Responder à frustração com golos

Esse Verão de calor e futebol na Áustria esteve quase a ser perfeito. Não foi. Marc Janko acabou por ser excluído pelo seleccionador Josef Hickersberger e não fez parte do lote de 23 jogadores chamados para representar a Mannschaft austríaca no Euro. 

«O Marc teve alguns momentos tristes na carreira. Esse é um deles. Não foi chamado para o Euro2008. Estava a contar com isso, mas o treinador disse que não chamaria os melhores e sim os que ele queria», recorda Eva Janko.

Mesmo nos piores momentos, Marc não perdeu a compostura. A boa educação está-lhe no sangue. «Defino-o como uma pessoa amável e culta, extremamente confiante. Aliás, demasiado confiante em algumas situações (risos)», refere Dominik Talhammer, o primeiro técnico de Marc no futebol profissional. 

À frustração, Marc respondeu com golos. Muitos. 39 em 34 partidas da Bundesliga, ao serviço do Red Bull Salzburgo. «O meu filho conseguiu ser o melhor marcador do Mundo e o avançado mais eficaz. Isso foi muito importante para ele recuperar a confiança e, se calhar, dar a melhor resposta depois da ausência no Euro2008.»

Janko: o baixote que detestava a solidão do ténis

«No ténis sentia-se sozinho, enquanto no futebol faz parte de uma equipa», explica a mãe do reforço portista


Marc Janko ainda não despertou do sonho. Nesta segunda-feira, anda a passear pelo Porto para digerir a estreia perfeita. Um jogo, um golo. Marca positiva para o gigante (1,96 metros) que veio na sombra de Lucho González.

Afinal, quem é o novo goleador do F.C. Porto?

Aos 28 anos, Janko tem selo de garantia. Estava destinado ao sucesso, como a mãe e o pai. Vem de uma família de desportistas e só surpreende pela orientação. A mãe Eva ganhou uma medalha olímpica no lançamento do dardo, o pai Herbert foi campeão austríaco de salto em altura. A irmã brilhou no voleibol. E Marc?

Marc Janko gosta de companhia. Por isso mesmo, abraçou o desporto colectivo.

«O Marc praticou ténis até aos 10 anos, enquanto jogava futebol, mas a dada altura teve de decidir entre um dos dois desportos. No ténis sentia-se sozinho, enquanto no futebol faz parte de uma equipa», conta Eva, ao Maisfutebol.

«Chegou a experimentar o lançamento do dardo na escola e conseguia atirá-lo para bem longe, mas nunca gostou muito», reconhece a mãe, sem ponta de crítica.

Os três filhos seguiram outro caminho: «O Marc está no futebol, a Claudia chegou à equipa nacional de voleibol mas é agora dermatologista e o Jan é chefe no Ikea, aqui na Áustria.»

Era o mais pequeno da equipa!

Voltando a Marc. Começou no Admira Wacker com sete anos, mas nem sempre viu o mundo de cima para baixo. «Toda a família dele é alta mas, com 14 anos, ele era o mais pequeno da equipa! Depois teve um período de três anos em que cresceu mais de trinta centímetros!»

«Ele até teve alguns problemas físicos por causa do crescimento repentino. Naquela altura, não havia tão bom acompanhamento, os clubes não tinham muito dinheiro e demorou até ele conseguir descobrir um plano para se manter em boa forma», frisa Eva Janko, a mãe.

O jogador do F.C. Porto sofreu com o crescimento espontâneo. Teve de combater várias lesões e sentiu dificuldades para chegar à primeira equipa do Admira Wacker.

Pelo meio, com 19 anos, esteve seis meses na tropa. Lá, aprendeu a acordar cedo. 

As lesões abriram o caminho

«Acabou por estrear-se na equipa principal do Admira Wacker após uma lesão. Não estava a conseguir ser chamado mas, certa vez, lesionou-se e foi fazer a recuperação com a equipa principal. Acabou por ficar apto, gostaram dele nos treinos e entrou num jogo. Marcou logo nesse mesmo jogo e ficou», relata a antiga campeã olímpica.

8 de Dezembro de 2004. O Grazer AK bate o Admira por 5-2. Janko, então com 21 anos, entra ao intervalo e marca a três minutos do final. Esperara demasiado tempo pela oportunidade.

O treinador Dominik Thalhammer, que o conhecia das camadas jovens, ficou convencido.

«Na primeira vez que o vi pensei que ia ter um gigante ao meu dispor. Normalmente esses jogadores altos são toscos, mas ao ver o Marc tocar na bola percebi que o tipo era especial. Grande e habilidoso, não é comum», explica Thalhammer, aoMaisfutebol.

O seu primeiro treinador deixa o aviso. «O Marc pode fazer a diferença na zona entre a pequena área e a marca de penálti. Aí é perigosíssimo. No Admira Wacker eu fazia questão de ter dois bons extremos, para que o Marc recebesse muito jogo», lembra.

«Fez a opção certa ao ir para o Porto. Vai ser uma referência importante no clube», garante Dominik Thalhammer. 

in "maisfutebol.iol.pt"

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