quarta-feira, 6 de junho de 2012

Mielcarski: «Fiquei a dever muitos golos ao F.C. Porto»

Reportagem-Maisfutebol: atacante polaco não esquece os dias de dragão ao peito, nem a devoção pelo «pica no chão»

A relação entre Greg Mielcarski e o F.C. Porto tinha tudo para ser um sucesso. Um conto de fadas, uma comédia romântica condenada ao implícito final feliz. Não foi assim. Em quatro anos de dragão ao peito, Mielcarski recorda «mais lesões do que golos» e disso fala com pena ao Maisfutebol.

«Tive a sorte de ser tetracampeão, mas não esqueço os muitos problemas físicos que tive. Sofri bastante, essa é a realidade. Fiquei a dever muitos golos aos adeptos e ao clube», reconhece Mielcarski, 13 anos depois de abandonar o F.C. Porto.

O polaco tinha pinta de craque e semelhanças óbvias com um astro holandês. «O presidente dizia sempre que eu era o Van Basten do F.C. Porto. Se não fossem as lesões ias para o lugar do holandês no Milan. Sempre confiei cegamente no Pinto da Costa. Tem magia na voz, encanta.»

41 jogos e oito golos em jogos do campeonato nacional são dados exíguos para um talento reconhecidamente superior. A frustração, porém, conduz a um punhado de boas memórias.

«Os meus melhores momentos no F.C. Porto? O grande golo no Estádio do Bessa, num remate rasteiro, dois minutos depois de entrar. Ganhámos 3-4 (22 de dezembro de 1997)», recorda Mielcarski, emocionado.

«Na semana anterior (13 de dezembro) tinha entrado perto do fim contra o V. Guimarães e fiz o único golo do jogo. Se tiver de escolher só um jogo, escolho a grande exibição e o golo contra o Corunha no Torneio Cidade do Porto. Fui o melhor em campo e isso abriu-me as portas do clube por muitos anos.»

«Embaixador e guia turístico» da cidade do Porto»

A direção do Turismo do Porto não sabe, mas tem em Greg Mielcarski um inestimável colaborador. «Sou o embaixador não oficial do Porto na Polónia!», adverte o ex-avançado. «A meu conselho já viajaram centenas de polacos para aí. Melhor guia turístico do que eu não há.»

A distância, de resto, não apaga de Mielcarski os rituais que tinha na cidade. «Eu vivia perto do Bessa, na rua São João de Brito. Quando estava lesionado, e só podia caminhar, ia até à Foz a pé. Era uma espécie de catarse, limpava a alma com a presença do mar.»

Até a afamada gastronomia nortenha é lembrada por Greg. Com água na boca. «A minha comida favorita era arroz de cabidela. Pica no chão, como os portugueses dizem. Sempre que vou a Portugal tenho de comer. Na Polónia não há nada disso».  

Mielcarski ao Maisfutebol: o Euro, as sopas, uma Polónia feliz

Ex-avançado do F.C. Porto fala num país «mais otimista» por culpa do futebol; reencontro recente com Pinto da Costa deixou-o «a tremer» 

Mielcarski dispensa apresentações. Avançado do F.C. Porto entre 1995 e 1999, tetracampeão, goleador limitado por lesões persistentes e azares inaceitáveis.

Não esquece a «paixão pela Invicta», o «velho balneário das Antas» e a relação «muito especial» com Pinto da Costa. Já lá iremos.

Num português irrepreensível, Greg Mielcarski abre as portas da sua Polónia-natal.

Convida os adeptos portugueses a perderem-se «pelas ruas estreitas» das cidades anfitriãs do Euro2012, a provarem «as sopas deliciosas» e a darem um pulo «até Gdansk», onde se come «o melhor peixe da Europa de leste».

Em entrevista ao Maisfutebol, Mielcarski começa por falar da nova vida. O atacante trocou as chuteiras pelo microfone.

«Sou comentador de um canal televisivo polaco. É uma vida totalmente diferente, mas estou perto do futebol e isso é o mais importante», refere o ex-dragão.

Curiosamente, o trabalho trouxe-o «muito recentemente» a Portugal. «Passei quatro dias no Porto a fazer uma grande reportagem sobre o clube. Estive com o Folha, o Capucho, o André, o Frasco e até encontrei o Alejandro Díaz por acaso na loja do clube».

A serenidade dos 41 anos é facilmente constatável no discurso de Greg. Uma serenidade só abalada por¿ Pinto da Costa. «Entrevistei-o e foi difícil. Quando eu era jogador sentia vergonha, até medo, quando falava com ele. Agora não foi tão grave, mas tremi (risos).»

«Ofereci-lhe um dragão de âmbar, como agradecimento», apresta-se a sublinhar.

«Nunca me esquecerei que ele foi visitar-me ao hospital e ofereceu-me um dragão de ouro logo a seguir à minha operação ao joelho. Abri os olhos e lá estava ele. Tens de ser forte como este dragão, precisamos de ti. Essas coisas marcam».

«O país está mais feliz com a organização do Europeu»

Apesar de residir em Varsóvia, Mielcarski leva uma vida itinerante. No Europeu não vai ser diferente. A profissão nómada permite-lhe traçar facilmente o desenho da Polónia atual.

Longe vão «os dias escuros do comunismo e da influência soviética», no entender de Greg.

«É um país muito mais moderno, aberto ao ocidente. Só lamento que alguns partidos políticos continuem a prejudicar a evolução das coisas. A prejudicar, por exemplo, o Europeu», considera Mielcarski.

«É verdade que nem tudo está pronto, mas há muita obra feita. Eu olho com otimismo para a nossa organização. Digo até que há uma vida nova na Polónia com o Euro-2012. O país está mais feliz.»

Um adepto mais a sofrer por Portugal

Do ponto de vista desportivo, Mielcarski não acalenta grandes expetativas em relação à seleção polaca. Tanto assim é que está convencido de que Portugal ganhará «mais um adepto a partir dos quartos-de-final».

«Uma equipa com Cristiano Ronaldo tem a obrigação de ir longe na prova. Acredito, sinceramente, que Portugal pode chegar às meias-finais pelo menos», sublinha o antigo avançado do F.C. Porto.

«Quando a Polónia for eliminada passo a torcer por Portugal.»  

in "maisfutebol.iol.pt"

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