quarta-feira, 17 de julho de 2013

Rui Costa. Os tempos de aguadeiro estão a chegar ao fim

Os meus amigos e seguidores deste meu / vosso blog, sabem que só passo noticias relacionadas com o FCP, no entanto e apesar de não ser adepto de ciclismo quase todos os anos vejo a volta a França ... e ontem foi um dia inolvidável, por isso aqui vai ...


O português conquistou a 16.ª etapa no Tour e deu uma alegria à Movistar e ao país. Em Portugal, só Joaquim Agostinho e Acácio da Silva têm como ele mais do que uma vitória na prova francesa

No final do dia, multiplicavam-se os parabéns no Facebook do ciclista da Póvoa de Varzim. Umas horas antes, o que chamava a atenção eram os comentários de alguns fãs que faziam o mesmo pedido: "Desliga o rádio."

Nas suas cabeças pairava certamente o episódio da semana passada no Tour, quando a opção da Movistar de fazer Rui ajudar o chefe de fila Alejandro Valverde o atirou do nono para o 18.o lugar da geral. A equipa espanhola tinha definido como objectivo para este Tour dar a Valverde, de 33 anos, mais uma hipótese para conquistar a Grande Boucle, mesmo com as boas prestações dos colegas Nairo Quintana e Costa (que voltou a conquistar a Volta à Suíça pelo segundo ano consecutivo).
Ninguém poderia adivinhar que quatro dias depois do desastre da 13.a etapa, alguém na Movistar conseguiria uma vitória no Tour que o faria subir nove lugares na classificação geral. Mas não é de espantar que tenha sido Rui Costa a fazê-lo, depois de cruzar a meta com 42 segundos de vantagem em relação ao segundo classificado, o francês Christophe Riblon.

A etapa de 168 quilómetros tinha começado logo com acção perto dos 50, quando um grupo de 26 corredores liderados por Chris Froome se separou do pelotão, para nunca mais ser apanhado. Entre eles seguiam Peter Sagan, Thomas Voekler e, desde o início, Rui Costa. A distância só continua a aumentar daí para a frente e as hipóteses de alguém ceder começam a parecer cada vez mais remotas. Perto do quilómetro 100, nova ajuda para o grupo da frente, com uma passagem de nível a deixar o pelotão ainda mais para trás, com nove minutos de atraso.

Mas é a chegar ao Col de Manse (com 1268 metros de altura), a última subida, que começa o ataque. Primeiro é Adam Hansen, seguido logo por Daniel Navarro, Nicholas Roche e, claro, o próprio Rui Costa, que usa o gás para ultrapassar todos, assumindo a liderança. Atrás dele o grupo vai-se partindo em vários bocados, com os favoritos Froome e Contador a lutarem por um lugar mais à frente, acompanhados de Richie Porte (que ajuda Froome a aguentar o espanhol), Joaquin Rodriguez e Nairo Quintana.

Costa segue à frente na subida e alcança o topo do Manse com uma vantagem de 51 segundos. "Eu tinha de estar muito atento na última subida, a ver os outros", disse no final da etapa o português. "Senti que era o sítio certo para ir, sabia quanto faltava para chegar ao topo e sabia que se chegasse lá tinha uma boa hipótese de me manter afastado." Mas havia um perigo: a descida para Gap, famosa pelo chamado "caso Beloki". Foi há 10 anos, quando o ciclista viu as suas hipóteses de bater Lance Armstrong nessa edição do Tour arruinadas, ao cair nessa descida e partir o fémur, o cotovelo e o pulso. Para evitar incidentes do género este ano, a organização preveniu-se e molhou a estrada no início da subida.

Enquanto Alberto Contador tenta uma fuga lá atrás e se envolve num percalço com Froome que quase leva os dois ao chão, Rui Costa segue veloz na descida, chegando aos 80 km/h. Ao aproximar-se da meta vai olhando repetidamente para trás, como que a garantir que ninguém lhe pode roubar o momento. E ninguém pode mesmo, já que estão todos a mais de 40 segundos de distância. Rui Costa saboreia o momento em que cruza a meta e festeja, de braços no ar. Para além da vitória na etapa, ganha ainda o título de mais combativo.

A etapa faz lembrar a oitava do Tour de 2011, onde Rui conseguiu a sua primeira vitória na prova francesa. Tal como há dois anos, o português fez parte duma fuga inicial, aguentou o resto da prova e escapou de vez na última subida da etapa. Qual delas foi melhor? "O ano passado tentei, mas não consegui. Por isso vencer hoje ainda sabe melhor do que a minha primeira vitória na prova", disse o português, que classificou o dia como um dos mais felizes da sua vida.

A vitória de ontem coloca Rui Costa como um dos únicos portugueses com mais do que uma etapa ganha no Tour. Se antes o rapaz da Póvoa estava como Paulo Ferreira (1984) e Sérgio Paulinho (2010), com uma vitória para contar, Rui Costa e as suas duas conquistas estão agora apenas atrás das três de Acácio da Silva (1987, 1988 e 1989) e das quatro de Agostinho (duas etapas em 1969, uma em 1973 e outra em 1979), entre todos os 28 portugueses que já participaram na prova. E isto aos 26 anos.


Quanto à classificação geral, não sofreu grandes alterações. Froome mantém a amarela e Contador continua a perseguição, em terceiro lugar. As boas notícias são para a Movistar, com Quitana a passar para quinto, depois de ter batido Froome ao sprint no final da etapa. E com Rui Costa a dar a primeira vitória à equipa e a passar para o 20.o lugar - se no domingo foi anunciado que é o ciclista que recebe mais correspondência, vão chover ainda mais cartas nos próximos dias. Já Alejandro Valverde segue em 15.o, sem grandes hipóteses de cumprir o objectivo de vencer o Tour. Talvez a partir de agora o rádio passe a dizer coisas diferentes a Rui Costa.

in "ionline.pt"

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