quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Entrevista a Josué: «Não sou burro, vi que não seria opção no FC Porto»

Adeus estranho ao Dragão, felicidade em Bursa

Longa conversa do internacional português com o Maisfutebol. A análise da nova vida no Bursaspor e a análise ao ano complicado no FC Porto

Seis meses depois de ter trocado o FC Porto pelo Bursaspor, Josué voltou a ser um jogador feliz. Titularíssimo no emblema turco, o médio de 24 anos já fez cinco golos e conquistou os exigentes adeptos da equipa.

Numa longa entrevista ao Maisfutebol, Josué faz um retrato cuidado da sua segunda experiência no estrangeiro, mas também fala sem inibição sobre a temporada no FC Porto.

A saída de Paulo Fonseca, o momento do adeus ao clube, o contato breve com Julen Lopetegui, tudo abordado com a frontalidade que lhe é característica.

O antigo bad boy fala com maturidade, equilíbrio e confirma ser um homem mudado. É um Josué realizado aquele que nos atende o telefone na cidade de Bursa.     

Que balanço faz destes seis meses na Turquia? 
«A experiência tem sido surpreendente. Aprendo todos os dias, pessoal e profissionalmente. Estou a conseguir jogar regularmente e já fiz cinco golos, três no campeonato e dois na taça. Sinto-me perfeitamente adaptado, todos me tratam bem». 

Quando optou pelo Bursaspor tinha alguma ideia do que ia encontrar? 
«Procurei informação na internet e falei com vários jogadores que já estavam na Turquia. Disseram-me que era um bom clube, com muitos adeptos e o estádio sempre cheio nos jogos. Só posso dizer bem do clube e do campeonato. Repito, aqui sou muito bem tratado». 

Sentiu a necessidade de voltar a ser importante, após uma época difícil no FC Porto? 
«Sim, claramente. O ano passado o clube teve uma época má, mas fiz muitos jogos, golos e assistências. Não quiseram que eu continuasse e a minha saída foi o melhor para todos. Para mim isso é, hoje em dia, claro». 

No Bursaspor tem outro ex-jogador do FC Porto, o Belluschi, como colega. É o seu principal apoio? 
«Quando cheguei, o Belluschi e o Renato Civelli, outro argentino, foram os colegas que mais me ajudaram. Eles e o Fernandão, um avançado brasileiro. Dou-me bem com toda a gente, mas esses têm sido muito importantes para mim. Às vezes eu e o Belluschi falamos dos resultados do Porto, mas nada de especial». 

Consegue dizer-nos qual foi a melhor exibição que fez ao serviço do Bursaspor? 
«A primeira parte contra o Besiktas [derrota por 0-1] foi especial». 

E o melhor golo? 
«Este último contra o Akhisar foi bom. E marquei outro bom na taça, contra o Samsunspor». 

Confirma que não falta apoio à equipa, dentro e fora dos relvados? 
«É das coisas que mais gosto. Em qualquer estádio há sempre adeptos nossos. Seja gente mais jovem e que está a estudar fora, seja gente mais velha, temos sempre muitos adeptos». 

O Bursaspor foi campeão há quatro anos. Quais são agora os objetivos do clube? 
«Ninguém esperava esse título. Foi uma surpresa. O ano passado a equipa ficou no oitavo lugar e este ano queremos fazer uma das melhores épocas de sempre. Estamos no quinto lugar e podemos ficar nos primeiros quatro até ao fim». 

Que retrato faz da liga turca? 
«Há três clubes historicamente superiores (Galatasaray, Fenerbahce e Besiktas), mas a jogar à bola não os considero melhores. Podem ter melhores plantéis, mais adeptos, é verdade, mas dentro do campo os jogos são atípicos. Há muitos espaços, vários contra-ataques, taticamente ainda se nota algumas limitações». 

É uma liga boa para as suas características? 
«Sinto-me como peixe na água. É um campeonato ótimo para mim». 

Que retrato faz da cidade de Bursa? 
«Não tinha a noção que a Turquia é tão grande. Bursa tem mais de um milhão de habitantes e não nos falta nada. Há parques onde posso brincar com a minha filha, espaços comerciais, uma das maiores estâncias de esqui do país e existe muita indústria». 

A comunicação com treinador e colegas é feita em inglês ou encontrou dificuldades nesse capítulo? 
«Temos um tradutor. O treinador fala com ele e depois a mensagem passa para nós. Quando parte de nós é exatamente o inverso. Dentro do campo todos nos entendemos. No dia a dia tento falar em inglês com toda a gente». 

E como é em Bursa esse dia a dia? Passa despercebido na rua ou os adeptos já andam atrás de si? 
«As pessoas pedem-me para tirar fotos, gravam vídeos quando eu passo na rua, isso para eles é normal». 

No que diz respeito à alimentação e costumes, encontrou hábitos estranhos? 
«A alimentação é o maior problema. A comida é muito picante, principalmente as sopas. Ao pequeno-almoço comem azeitonas, pepino, tomate e eu não consigo, não estou habituado. Isso não consigo comer logo de manhã». 

Aventura-se nos restaurantes da cidade ou prefere jantar por casa? 
«Há bons restaurantes de sushi. E quem gosta de kebabestá bem servido. Mas, honestamente, fora de casa só arrisco no sushi, vou várias vezes com a minha família». 

O processo de saída dos dragões, as memórias da terrível campanha de 2013/14, os dias e uma conversa com Julen Lopetegui antes da partida para Bursa

Resgatado em 2013 ao Paços Ferreira, Josué ficou apenas uma época no plantel principal do FC Porto. Apesar de ter sido muitas vezes utilizado por Paulo Fonseca e Luís Castro, o esquerdino de 24 anos não fez parte dos planos de Julen Lopetegui e rumou por empréstimo para o Bursaspor. Josué tem contrato com os dragões até junho de 2017.

Em longa entrevista ao Maisfutebol, Josué explica os motivos que o levaram a sair do FC Porto, lamenta que tenha sido impedido de treinar com o plantel de Lopetegui após o estágio de pré-época na Holanda e fala ainda sobre Paulo Fonseca, um homem que, segundo diz, não usufruiu do apoio que a atual equipa técnica tem. 

Uma conversa desassombrada com um atleta que reaprendeu a ser feliz na Turquia. Mesmo que o clube do coração não lhe saia da cabeça. 

Afirmou várias vezes que o seu sonho era jogar no FC Porto. Agora, na Turquia, isso volta a estar na cabeça e a ser um desejo? 
«Cumpri esse sonho. Agora voltar ao Porto… não sei o que vai acontecer. Não está muito na minha cabeça voltar, até porque sei que o Bursaspor me quer comprar. Vamos ver, depende de muita coisa. Se tiver de voltar, voltarei de coração aberto. É a minha casa, o meu clube. Mas estou muito bem aqui». 

A pressão de jogar no clube do coração é diferente? É maior? 
«Para mim não. É igual, meto sempre pressão em mim. O ano passado dei tudo pelo clube, apesar de dizerem que eu era o culpado de muitas coisas. Estou habituado, tenho as costas largas». 

Fez 35 jogos oficiais, 26 a titular, pelo FC Porto na época passada. Somou quase 2000 minutos. Com estes números, como é que se explica o ser empréstimo? 
«No início da época fui muito claro: se não fosse opção preferia sair. Não sou burro nem estúpido. Com as contratações que o clube fez… vi que muito dificilmente ia ser opção. Falei com o meu empresário, depois com o clube e achámos que era o melhor para todos. Não me arrependo, estou feliz, muito feliz. Como já não estava há muito tempo». 

Na época passada quando é que sentiram que a época estava a ir por um mau caminho? 
«A partir da saída do Paulo Fonseca. Nós tivemos cinco pontos de avanço do Benfica (agora o Porto está seis pontos atrás), mas a partir de dado momento tivemos uma quebra enorme. O apoio de toda a gente no clube também não foi o mesmo que existe agora. Foi uma época má, passei mal porque detesto perder, ainda por cima ao serviço do clube do meu coração». 

 
«Apesar da má temporada do clube, joguei e fiz golos. Fui considerado um dos melhores médios ofensivos da Liga. Aprendi muito. Aprendi a estar calado e a crescer». 

Assistiu com tristeza à saída do Paulo Fonseca? 
«Sim, para mim foi triste. Sabia e sei o valor dele. Ele coloca qualquer equipa a jogar bom futebol. Sei que ele não teve o apoio que o grupo atual tem. Foi triste ver o Paulo e os dois adjuntos dele (Nuno Campos e Pedro Moreira) a saírem e outras pessoas continuarem na equipa técnica». 

«As pessoas podem dizer o que quiserem do Paulo, mas ele é um homem de H grande. Tem tudo: bom treinador, bom homem, bom amigo, bom conselheiro». 

Fez a pré-época com Lopetegui. O que achou dele? 
«Gostei do pouco que vi dele, agradou-me. Mas vi pouco porque, estranhamente, depois do estágio na Holanda não me deixaram voltar a treinar com a equipa». 

O Lopetegui teve alguma conversa consigo, falou sobre as suas opções para a equipa? 
«Não queria muito falar sobre isso. Foi estranho. Ele disse-me uma coisa, depois aconteceu outra, mas não quero pronunciar-me sobre esse tema».

«Serei eternamente grato a Paulo Fonseca»

A relação com o antigo treinador e o nascimento da filha mudaram totalmente o esquerdino, um adolescente que andava «sempre na lua»

A metamorfose do rebelde sem causa. O «refilão» que andava sempre «no mundo da lua» transformou-se num par extremoso e num profissional responsável. As causas? O nascimento da filha, o carinho da esposa e a paciência de Paulo Fonseca.

Em entrevista ao Maisfutebol, o atual médio do Bursaspor aceita voltar atrás e falar sobre os anos mais complicados da sua carreira. E da sua vida. 

É a segunda experiência no estrangeiro. A primeira foi em 2010 na Holanda, com o Venlo. Era um homem diferente?
«Tinha 19 anos e a minha mentalidade não era a correta. A forma como encarava o futebol não era boa. Estou mais maduro e equilibrado. Sinto isso todos os dias aqui na Turquia». 

Quando sentiu que estava a mudar, a tornar-se melhor profissional? 
«No meu segundo ano do Paços Ferreira. O nascimento da minha filha, o convívio com a minha esposa e o trabalho do Paulo Fonseca comigo foram momentos decisivos. Vou estar eternamente grato ao mister Fonseca. Ele deu-me força e motivação para continuar no futebol e mudar a minha cabeça». 

Em janeiro de 2013 o Paulo Fonseca dizia-nos que o seu problema era a personalidade e não a qualidade enquanto futebolista. Dois anos depois, esse problema está resolvido? 
«Sim, sou um homem mudado. Dentro do campo estava sempre tudo mal, só eu é que fazia as coisas bem. No balneário tudo passava, mas no relvado era um refilão. O Fonseca ajudou-me a perceber as coisas, a perceber que o mundo não gira à minha volta». 

Se tivesse de descrever o Josué dos anos de rebeldia, de que forma o faria? 
«É difícil. Não era maldoso, mas andava noutro mundo, no mundo da lua. A razão era só minha, faltava ao respeito a muita gente, mas pronto… nem gosto de me lembrar. Aprendi com os erros». 

Além do Paulo Fonseca, que personagens o marcaram mais ao longo da carreira? 
«Todo o grupo do Paços Ferreira no meu segundo ano no clube. Jogadores, médicos, equipa técnica, dirigentes… marcaram-me todos de forma muito positiva». 

Onde é que se imagina daqui a um ano? 
«Tenho contrato com o FC Porto por mais dois anos. Se não for lá, que seja no Bursaspor». 

E o que deseja para 2015? 
«Quero fazer assistências e golos no Bursaspor. Que tudo me corra bem na Turquia. A mim e ao clube».   

sete contos (ou não?) para entrar no FC Porto


Os primeiros pontapés na Constituição, a nega ao Salgueiros, a eleição no meio de 102 miúdos e (mais tarde) o desejo de voltar à seleção


Depois de assumir o desejo de voltar à Seleção Nacional, sem qualquer obsessão, Josué recorda na entrevista aoMaisfutebol os primeiros dias nas escolinhas do FC Porto.

Entrevista a Josué: sete contos (ou não?) para entrar no FC Porto O esquerdino, agora com 24 anos, ainda fez um treino no Salgueiros, onde conheceu Silvino Louro. O coração, porém, já era completamente azul e branco. Depois, no pelado da Constituição, o seu pé esquerdo fez o resto. 

Soma quatro internacionalizações pela Seleção A. Estar a jogar e a marcar golos na Turquia aproxima-o das escolhas de Fernando Santos? 
«É um objetivo meu voltar à Seleção Nacional, claro. Neste momento não penso muito nisso, se tiver de ser chamado, ótimo. Estou muito contente com o meu clube, o clube comigo e isso é o mais relevante». 

Que análise faz do desempenho da seleção no Mundial? 
«Senti-me um bocadinho frustrado. Pensei que íamos mais longe. A realidade foi outra. Porquê? Não sei. Agora temos de nos qualificar para o Europeu». 

Já recebeu algum contato do novo selecionador nacional?
«Não, nunca. Acompanho as notícias, mas nunca fui contatado pelo selecionador ou por algum adjunto dele. Sei que o Raul Meireles foi observado, mas creio que a Bursa não veio ninguém da FPF». 

Como é que o futebol federado surge na sua vida? Como é que tudo começou? 
«Bem, eu jogava muito à bola no meu bairro [perto de Ermesinde] e aos sete anos e meio o meu pai, que trabalhava fora do país, leu no Jornal de Notícias que o FC Porto estava a fazer captações. Perguntou-me se eu queria ir lá e eu disse logo que sim. Curiosamente, no dia seguinte, o Centro Social do meu bairro organizou uma ida aos treinos do Salgueiros. Estava lá o Silvino, antigo guarda-redes e agora adjunto do José Mourinho». 

E ficou no Salgueiros? 
«Eles viram-me a jogar, perguntaram se eu queria ficar, mas eu respondi que o meu pai me ia levar ao FC Porto e que era lá que eu queria jogar. Três dias depois lá fui à Constituição». 

Correu bem? 
«Sim, mas na altura os pais tinham de pagar a inscrição. O clube pediu sete contos e meio (37,4 euros) e a minha família não tinha possibilidades. Na semana a seguir as coisas mudaram e já não foi necessário pagar para a inscrição. Voltei a ir lá e fui um de dois escolhidos. Entre 102 miúdos. Fui eu e o Fábio Ferreira, um guarda-redes que esteve há poucos anos no Sp. Espinho». 

«Fiquei no FC Porto até aos juniores. Nessa fase fui emprestado meio ano ao Candal. Voltei ao FC Porto, fiquei mais ano e meio, antes de jogar no Sp. Covilhã, Penafiel e na Holanda». 

in "maisfutebol.iol.pt"

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