sábado, 11 de dezembro de 2010

Jardel. "Sete golos, nem no jardim de casa, quanto mais num jogo oficial..."

De férias em Fortaleza, o avançado recorda os sete golos na segunda parte ao Juventude Évora (9-1), adversário de hoje do FC Porto


"Jardéuuuu? É prá você, lá de Portugal." Sandra atende o telefone, regista o nome do jornalista do i e chama por Jardel. Ouvem-se uns chinelos. Fortaleza, capital do Ceará, fica a 5800 quilómetros do Taguspark mas essa distância entre os dois países, os dois continentes e os dois hemisférios é reduzida num ápice. É estranho mas, de repente, sabemos o que se passa numa outra casa, com dois fusos horários a separar-nos, porque o som dos chinelos é cada vez mais estridente. Tac--tac-tac, até que... "Oi, pois não? Fala aí."

Jardel está de férias em Fortaleza, depois de meia época na Bulgária, ao serviço da 16.a equipa da sua carreira, o Cherno More, com o qual marcou um golo em oito jogos de campeonatos, todos como suplente. E é aqui que queremos chegar. Como suplente, Jardel fez 18 jogos no FC Porto. Ao todo, marcou 18! Sete deles na segunda parte dos 9-1 ao Juventude Évora, adversário de hoje do FCP, para os oitavos-de-final da Taça de Portugal.
Nesse 17 de Dezembro de 1997, António Oliveira reservou Jardel. Na segunda parte, saltou para o relvado das Antas, no lugar de Mielcarski. Estava 1-0, golo de Zahovic, de penálti. Acabou 9-1, com sete golos do Super-Mário, assinalados entre os minutos 47 e 89, e um de Drulovic, outro suplente. Uma barrigada de golos.
Afinal quem marca sete golos num só jogo da Taça de Portugal? É raro, e só uma vez se registou nos outros grandes, casos de José Torres num Benfica-Luso (12-0) em Outubro-62, e Fernando Peres num Sporting-Mindelense (21-0) em Maio-71. Então, e o FCP? Também houve um artista, sim senhor. Chamava-se Teixeira, António Dias Teixeira, e marcou sete de uma vez ao Portimonense, num 13-1 em Maio-56, nas Antas. Precisamente o estádio que assistiria ao show de Jardel em 43 minutos.
Nesse período, o brasileiro festejou sete golos e ele lembra-se de todos. "O primeiro de penálti, o segundo com o pé direito, assim de lado, entre o defesa e o guarda-redes, o terceiro com o pé esquerdo depois de receber a bola na grande área e fintar o guarda-redes, o quarto de cabeça ao segundo poste, o sexto de cabeça e o sétimo também de cabeça." Ei,  espera aí, e o quinto?
"Deixei o melhor para o fim, né? É a minha coroa de glória. Foi de letra, rapaz. Puro espectáculo. Com o pé direito, mas depois de pegar na bola fora da área, passar por três adversários e meter de letra na marca do penálti. Lindo!"
E depois disso, pediu a bola ao árbitro, alguém quis trocar de camisola consigo, foi comemorar a algum restaurante? "Não, nada disso. Fui para casa. Não valia a pena ter a bola. Os sete golos já eram a própria recordação do feito."
Mas como é que se pode ficar na mesma? "Não me agarro a essas coisas. Marquei e pronto. Mas que eu me lembre, nunca marquei sete golos num treino... Nem no jardim de casa, quanto mais num jogo oficial. Digo-te mais: quando estou aqui em Fortaleza, neste baita calor do Verão, costumo receber uma série de amigos. Dormem cá e tudo: Romário, Amoroso, Dadá e tantos outros... Jogamos sempre no jardim que tenho aqui, que se parece com um campo de futebol, em tamanho P [de pequeno; em Portugal é S]. Tenho tudo: relvado aparadinho, bola de futebol, balizas com redes. É o muda-aos-cinco-acaba-aos-dez, e eu nunca marquei sete golos."
"Um dia, veio cá o Dadá Maravilha. Muita gente aí em Portugal não o conhece, mas aqui no Brasil é um herói. Foi campeão do Mundo no México-70, ao lado de Pelé, e foi o herói do primeiro campeão brasileiro de sempre, o Atlético Mineiro, em 1971. Em toda a carreira, marcou 926 golos. Vê lá que eu até sei de cor esses números de ele tanto repetir. Pois bem, o Dadá veio cá e ganhou--me 10-6. Foi o meu máximo, seis golos. E até brinquei com ele sobre marcar menos contra ele do que contra o Juventude de Évora. Ele respondeu-me que eu parecia a defesa do Santo Amaro. Não entendi. Foi então que me explicou que ele, certo dia [em 1974], marcou dez.E o cara ‘tava falando verdade!! Foram mesmo dez golos nos 14-0 entre Sport Recife e Santo Amaro para o estadual pernambucano."
Nessa Taça de Portugal, Jardéuuuuuuu foi o melhor marcador, com 10 golos (Valonguense-2, Juventude-7 e Braga-1). Igual à defesa do Santo Amaro...



in "ionline.pt"

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