sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Villas-Boas grato a Robson e Mourinho: «Eu ia para jornalista desportivo»

Treinador do F.C. Porto relata primeiros passos na carreira


A conferência de imprensa desta sexta-feira, no Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia, terminou em inglês. Um jornalista do Times, prestigiado jornal britânico, deslocou-se ao Olival para saciar a curiosidade sobre a empolgante carreira de André Villas-Boas.

O treinador do F.C. Porto relatou uma história já contada ao longo dos meses, acrescentando algumas revelações interessantes. Aliás, Villas-Boas arrancou alguns sorrisos na sala quando anunciou o seu interesse pela carreira de jornalismo. Desportivo, claro.

«Sir Bobby Robson deu-me a oportunidade de começar a carreira. Eu ia para o jornalismo desportivo. Confrontei-o com algumas questões e só alguém com a mente aberta como ele permitiria aquela arrogância de um miúdo. Deu-me a oportunidade de presenciar treinos do F.C. Porto, eu era um mero adepto e aquilo era fantástico. Ele deu-me acesso a treinos em Inglaterra e Escócia, quando eu só tinha 17 anos, e isso foi muito importante no meu início», recordou.

«Eu e Mourinho evoluímos de forma diferente»

O carismático treinador inglês, falecido recentemente, partiu para Barcelona. André Villas-Boas esteve nas Ilhas Virgens Britânicas e regressou depois ao F.C. Porto, onde viria a reencontrar José Mourinho.

«O José Mourinho foi decisivo, voltou ao clube e abordei-o para evoluir na carreira. Era treinador de método nos sub-16 e propus fazer algum trabalho com ele. Ele deu-me a oportunidade num jogo, gostou e fiquei com o controlo da análise dos adversários até final dessa época. Depois passei a tempo inteiro, no ano em que vencemos a Taça UEFA. José espera sempre o máximo de ti», explicou.

André Villas-Boas voltou a rebater as comparações com o trajecto de Mourinho: «Há apenas a curiosidade: são duas carreiras que parecem iguais, mas não são. O José tem um mestrado, eu não tive tempo para ir tão longe nos estudos, segui outra via. Evoluímos de forma diferente, o José entrou no futebol profissional mais cedo, com uma posição no relvado, ao contrário de mim. Há várias diferenças de personalidade, de forma de estar.»

«Premier League é das mais excitantes do Mundo»

A curiosidade do jornalista inglês, naturalmente, incidia sobre o interesse de André Villas-Boas em orientar uma equipa de topo em Terras de Sua Majestade. «A Premier League é uma das mais excitantes do mundo, muito prestigiada. Há clubes prestigiantes, como o F.C. Porto, que tem um registo de títulos que muitos emblemas ingleses até invejariam. Acho que ainda tenho muito de evoluir até merecer uma oportunidade dessas», explicou, humildemente.

«Quero ganhar esta Liga, vencer outras mais competitivas, mas também quero explorar outros ambientes. Eu adoro esta profissão, sempre quis estar nesta posição e não quero abdicar dela facilmente», disse, acrescentando: «Portugal exportou vários treinadores de qualidade, com sucesso. Mas há uma tendência de mudança. Há 13 ou 14 anos, Wenger era uma lufada fresca na Premier League, como depois Mourinho e Benítez. Agora, acho que as coisas estão a mudar.»

«Não somos ditadores da escolha»

Olhando para trás, Villas-Boas faz um balanço positivo desta aventura no banco do F.C. Porto. «Cheguei aqui com 17 anos, desempenhei várias funções no clube, com menos responsabilidades que esta. O Porto olhou para mim como alguém que podia trazer algo novo, novo método de jogo, novo ambiente com os adeptos. É sempre uma aposta, optar por alguém tão novo como eu, mas eu sempre acreditei. O Porto não me escolheria apenas para cumprir o sonho de um miúdo.»

Definindo a sua filosofia de jogo, o técnico azul e branco deixou uma mensagem essencial. «Respeitámos a imprevisibilidade. Acreditámos que, para um jogador demonstrar toda a sua qualidade, tem de ter liberdade de escolha no relvado. Não somos ditadores da escolha. No final, o jogo é imprevisível, temos de respeitar isso», rematou.

Treinador do F.C. Porto comenta polémicas com encarnados

André Villas-Boas espera que as arbitragens não marquem a segunda volta da Liga. O treinador do F.C. Porto começou por comentar, em conferência de imprensa, a nomeação de João Ferreira para a deslocação ao reduto do Beira Mar. O juiz fez o relatório do caso conhecido como túnel da Luz e esteve na Supertaça, conquistada pelos dragões.

«Os antecedentes são infelizes, na Supertaça também não houve uma arbitragem feliz, mas houve vitória do F.C. Porto. A outra equipa não foi prejudicada, bem pelo contrário. Queremos acreditar que se mostrará competente e que faça um bom trabalho. Se é uma nomeação lógica? Não me parece. Mas esperemos que faça um bom trabalho», desejou.

O técnico portista garante sentir diferença de ênfase aos erros de arbitragem nos jogos dos grandes. Elmano Santos, que esteve no Académica-Benfica, serve de exemplo: «Espero acreditar que os árbitros não entrem condicionados. A nomeação não me pareceu lógica, após um não-caso no F.C. Porto-V. Setúbal. Com esse antecedente tão fresco, pareceu-me ilógica. Mas acho que foi uma arbitragem, no Académica-Benfica, pouco comentada.»

«Quem se sente mais prejudicado faz questão de se saber, depois depende da difusão que tem através da comunicação social. Esperamos sempre por uma evolução. Se houver profissionalização dos árbitros, esperamos que as coisas melhores. Queremos acreditar que há um presidente competente e que há tendência para melhorar. Em Inglaterra, há sanções extremas para determinadas mensagens que são passadas pelos intervenientes. Não sei se isso é melhor do que temos», frisou Villas-Boas.

Salvio: interessante mas não interessa

A conversa com os jornalistas passou pelo mercado de transferências, encontrando mais um foco de polémica entre F.C. Porto e Benfica. Ao comentar declarações de um vice-presidente do Boca Juniors, relativas a contactos com Cristian Rodriguez, André Villas-Boas deixou uma mensagem clara.

«É uma entidade oficial que emite uma declaração falsa. É tão grave como a namorada de uma pessoa escrever o que quer numa determinada rede social. Cada um diz o que quer, os restantes comem ou não», atirou o treinador, numa clara alusão à companheira de Salvio, que garantiu o interesse azul e branco no jogador argentino.

Villas-Boas gosta de Salvio, mas não pensa nele. «Salvio é um jogador muito interessante, preponderante nos sub-20, tal como foi o Walter nessa competição. Mas não está nos planos do F.C. Porto. O Porto tem várias opções nesse sector e o Salvio, pela época que está a fazer, é um jogador caro», explicou.


in "maisfutebol.iol.pt"

Sem comentários: