quinta-feira, 31 de março de 2011

Dragões com mais quilómetros e minutos

A presença de jogadores nas selecções nacionais pode prejudicar o desempenho de Benfica e FC Porto no clássico. Na frente da Liga, os dragões até se podem queixar de ter mais jogadores ausentes (12 contra sete do clube da Luz) e ainda do facto de os seus atletas terem cumprido, no total, mais quilómetros e mais minutos ao serviço das equipas dos respectivos países. Mas se o receio habitual passa pelo cansaço que estes compromissos originam, o problema até pode estar no extremo oposto, ou seja, pela quebra dos índices físicos por excesso de treinos ligeiros, aliados à escassa utilização.

"Na maior parte dos casos, não há justificação para cansaço, pois os jogadores têm vários dias de treinos ligeiros, o que pode levar a que alguns voltem à competição nos clubes em subtreino", considera José Soares, professor catedrático de Fisiologia da Universidade do Porto, sobre a falta de estímulos a nível físico e psicológico aos futebolistas. E acrescenta: "Se analisarmos o tempo total de trabalho na selecção, veremos que é inferior ao que seria normal no clube."

O especialista afirma a O JOGO que "o esforço nas selecções é muitas vezes valorizado em demasia", mas apesar de apontar a possibilidade de um cenário inverso, reconhece que o tema "vai ter influência no jogo". "Vai ser certamente o argumento de quem perder...", vaticina.

No entanto, o desgaste causado pelas longas viagens não pode ser subestimado. Salvio, Gaitán e Cardozo, no Benfica, e Otamendi, Belluschi e James, no FC Porto, encaixam nesta situação. "Aqui, os futebolistas são sujeitos a cargas de esforço adicionais e podem acusar algum desgaste, pois até a recuperação física é condicionada. Estão muito tempo sentados, a pressão da cabina do avião não é aconselhável e não dormem de forma ideal", refere.

A dupla argentina do Benfica tem sido obrigada a grande esforço na Luz, mas Jesus reagiu bem à sua ausência e até "pediu" para que estes jogassem pela selecção. "Penso que revela inteligência, pois se os jogadores são obrigados a deixar as rotinas do clube, então é preferível que joguem. Mantêm algum ritmo e têm ainda um outro estímulo", concorda José Soares, confessando desconfiança em relação aos particulares. "Tenho muitas reservas, pois o efeito do jogo-treino perde-se pelo facto de os técnicos terem cuidado com eventuais lesões. E os próprios jogadores sabem que vão ser substituídos, o que diminui a concentração", diz.

Folgas para quem ficou no clube é política certa dos técnicos

Se alerta para o problema que a ausência dos jogadores pode criar nos seus índices físicos, José Soares compreende, por outro lado, a decisão de Jesus e Villas-Boas, que concederam alguns dias de folga aos futebolistas que permaneceram ao serviço dos respectivos clubes. "Concordo plenamente. Evita que se massacre os jogadores que ficaram e permite aos que estão em Portugal que mudem de ambiente e relaxem", defende, esclarecendo: "Uma vez que os treinadores não podem trabalhar a cem por cento e com a qualidade desejada, então é positivo que permitam aos restantes jogadores algum descanso."

Descanso dá lugar a sequência terrível

Benfica e FC Porto estarão quase duas semanas sem jogar, mas o desafio da 25ª jornada marca não só o regresso de ambas as equipas à competição, mas também o início de uma dura sequência. Os dois conjuntos têm o calendário bastante preenchido em Abril, e se os dragões se preparam para cumprir seis jogos em 17 dias, o emblema da Luz terá de realizar sete encontros em apenas vinte.
Na mente dos responsáveis de Benfica e FC Porto está já a Liga Europa, cuja primeira mão dos quartos-de-final está agendada para depois do clássico. Por isso, a gestão das respectivas equipas está em cima da mesa. José Soares, porém, prevê duas equipas na máxima força. "Não sou treinador, mas não acredito que ambos optem por poupar jogadores. Estou convencido de que isso não vai acontecer. Pode haver algum plano B, mas o desgaste não foi muito intenso", afirma o professor catedrático de Fisiologia, apontando a questão mental. "Os jogadores vão estar motivados, e isso é importante" para disfarçar o cansaço, expressa, ele que prefere não se imiscuir na forma como os clubes devem preparar o ciclo terrível de Abril. "Tanto o Benfica como o FC Porto têm pessoas capazes e com qualidade para definir da melhor forma o plano de trabalho para esta fase", finaliza.

in "ojogo.pt"

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