quarta-feira, 20 de abril de 2011

Clássico à portuguesa. Pinto da Costa, o mestre da ironia

Depois do jogo do título, o Benfica volta a receber o FC Porto. "Se quiserem apagar outra vez a luz não há problema, porque nós sabemos o caminho, apesar de haver por lá uns túneis", provocou o presidente dos dragões


Nem parece que há clássico decisivo hoje na Luz. O ambiente foi estranhamente calmo, apenas nos últimos dias, quase sem provocações verbais de parte a parte, e o estádio não vai ter lotação esgotada. Aliás, Pinto da Costa até desvalorizou o encontro da segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal, em que os dragões partem com uma desvantagem de dois golos. "O nosso jogo da época foi aquele que lá disputámos para o campeonato", disse o presidente portista no seu habitual tom irónico.

De facto, perdido o título, este jogo assume maior importância para o Benfica. A Taça de Portugal é a segunda competição nacional e, depois da recente derrota com o FC Porto, as águias não podem falhar a final, muito menos frente ao rival. A equipa de Villas-Boas seguramente não vai passear a Lisboa mas é na Liga Europa que concentra maior atenção.

Ainda assim, espera-se um jogo de alta tensão, até porque ainda estão frescos na memória os infelizes episódios protagonizados por apoiantes dos dois clubes. Do comentador da Benfica TV a desejar a morte de Pinto da Costa, ao apedrejamento do autocarro do Benfica e da viatura de Luís Filipe Vieira, ou ao vandalismo na escolinha de futebol do FC Porto na capital, há motivos suficientes para deixar em brasa os adeptos dos dois lados.

A rivalidade entre Benfica e FC Porto é antiga, e tem sido alimentada sucessivamente pelos líderes dos dois emblemas. O percurso vitorioso dos azuis-e-brancos nas últimas décadas - a contrastar com o menor sucesso do Sporting - virou a antipatia encarnada para o clube da cidade Invicta. Aliás, foi já com Pinto da Costa que surgiu a célebre frase "nós só queremos ver Lisboa a arder", nos anos 90. "Toda a gente sabe que isso de Lisboa a arder não é desejo de ninguém. Há em Lisboa muitas coisas bonitas, a delegação do FC Porto, os Jerónimos", disse ainda o líder dos dragões. 

Esta noite, no regresso de Jorge Jesus ao banco depois do castigo, o Benfica parte com alguma tranquilidade, graças aos golos de Fábio Coentrão e Javi García no Dragão. Hoje resolve-se uma das eliminatórias mais longas na história da Taça, que começou a 2 de Fevereiro. O FC Porto nunca ganhou na Luz em jogos desta prova, mas Villas-Boas já mostrou que não há limites para esta equipa. Depois do que aconteceu no jogo do título, se a vitória for para os dragões será que a luz se vai apagar novamente?


18 de Junho de 1939
Aos 75 minutos acaba tudo em debandadada nas Amoreiras

A primeira história de confrontos (no sentido literal da palavra) entre Benfica e FC_Porto para a Taça de Portugal escreve-se com um resultado improvável. A meia--final da primeira edição da prova (1938/39) fez jus à expressão “goleada à antiga” e, como nos dias de hoje, à rivalidade sem limites entre águias e dragões. O árbitro setubalense António Palhinhas também foi protagonista. No primeiro jogo, o Estádio do Lima foi palco de um escandaloso 6-1, a favor do FC_Porto – nunca antes tinha ganho o clássico por tanta margem. A tensão em Lisboa aumentou com a humilhação e, na volta, o Campo das Amoreiras assistiu à reviravolta. Os de Lisboa ganharam por 6-0, também apoiados por sportinguistas e belenenses, mas o jogo acabou aos 75 minutos, com a expulsão do portista Reboredo e o abandono dos companheiros em protesto com o árbitro. Na final, o Benfica perdeu com a Académica por 4-3.

15 de Junho de 1956
“Péssima demonstração de futebol”, disse o... árbitro!

O Benfica era recordista de presenças (nove) e vitórias (oito) nas finais da Taça de Portugal, mas em 1958 perdeu o troféu para o rival do Porto. Era a primeira (e única) vez que os dragões roubavam o troféu ao rival, depois de ambos terem defrontado equipas das ex-colónias nas meias-finais – o FC Porto ganhara por 15-3 ao Desportivo de Lourenço Marques (Moçambique) e o Benfica por 17-3 ao Ferroviário (Angola). Pedroto, lesionado, não pôde jogar e Hernâni foi o herói no Jamor, ao marcar o único golo da final, aos 58 minutos. Quem rumou ao Estádio Nacional viu um espectáculo pobre – há 12 anos que este clássico não tinha só um golo – e o Benfica a acabar o jogo reduzido a dez jogadores, devido à expulsão do defesa Zezinho. Até o árbitro Álvaro Rodrigues lamentou aos jornalistas a “péssima demonstração de futebol” e o jogo quezilento. “Assim não se pode arbitrar!”, exclamou o juiz.

5 de Junho de 1964
FC Porto falta às meias-finais mas defronta o Benfica no Jamor

É difícil imaginar estes episódios no futebol actual, mas a final da Taça de Portugal de 1963/64 foi um Benfica-FC Porto, apesar de os dragões não terem jogado as meias--finais. Como? Nós explicamos. Bem, o Lusitânia dos Açores era o adversário portista, mas o avião dos azuis-e-brancos não chegou a tempo a Angra do Heroísmo. Só com uma equipa em campo, o árbitro marcou falta de comparência ao FC Porto. Até aqui, tudo normal. Depois o clube nortenho protestou. E o que fez o Lusitânia? Em sinal de protesto contra o protesto do FC Porto desistiu. E assim lá chegou a quarta final entre águias e dragões. Porém, talvez tivesse sido melhor ao FC Porto não ter disputado esta partida no Jamor. É que a equipa, então orientada por Otto Glória – que já tinha passado por Benfica, Belenenses e Sporting –, saiu derrotada por expressivos 6-2. Golos de Simões, Eusébio, Serafim, José Torres e José Augusto (2).

28 de Abril de 1991
Os corredores, os túneis e o guarda Abel. Bem-vindos às Antas
O Benfica foi às Antas na 34.a jornada, com um ponto de avanço sobre o FC Porto. Por isso, para não fugir à regra, o jogo começou bem antes, nos bastidores. O clube lisboeta teve de se equipar nos corredores, alegadamente por os balneários terem um cheiro nauseabundo. O FC Porto acusou o árbitro Carlos Valente de ter viajado no mesmo comboio que a equipa do Benfica. O autocarro encarnado, como voltou a ser hábito nos dias de hoje, foi apedrejado. Foi também neste clássico que se começou a falar do guarda Abel. Alguns dirigentes do Benfica queixaram- -se de ter sido agredidos por esta personagem (polícia que supostamente estaria ao serviço do FC Porto) e de ter recebido ameaças de morte. No que interessa, o futebol dentro de campo, o Benfica venceu por 2-0, com o herói César Brito a marcar aos 81 e 85 minutos. Com este resultado, os encarnados conquistaram o campeonato.

in "ionline.pt"

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