Seguro, altivo, desafiador. No jogo das palavras, Vítor Pereira marcou pontos, mas insinuou que a qualidade do seu trabalho será espelhada no relvado. O técnico aceita as desconfianças e marca confronto com aqueles que querem ver para crer. Vítor Pereira não se limita a prometer um FC Porto ganhador, mas garante que vai também atrás da nota artística...
A equipa está preparada para gerir o sucesso do último ano?
Sim, julgo que sim. Sinto que estamos preparados. Teremos dificuldades, porque o Guimarães não será o Guimarães do último confronto entre as duas equipas. O último Guimarães estava, à semelhança do FC Porto, desgastado, a cometer erros, nós também cometemos muitos erros na final da Taça de Portugal. Acredito que este será um jogo completamente distinto, um jogo com uma equipa bem organizada, com um belíssimo plantel, bem trabalhada por um treinador que já provou ter qualidade e que organiza bem as suas equipas.
O grau de dificuldade dos adversários foi aumentando ao longo da pré-época. É possível pensar que a equipa cresceu e chegará a este jogo melhor?
É claro que sim. Nós orientamos o nosso trabalho para determinado tipo de comportamento e esse comportamento vai-se reforçando com o treino. Espero que estejamos a um nível superior relativamente ao último jogo, nomeadamente no que diz respeito à concretização das oportunidades de golo. Quanto aos outros comportamentos, agradaram-me. Tivemos grande intensidade e qualidade de jogo e é esse FC Porto que podemos esperar. Está em disputa um título e queremos muito trazê-lo para casa. Teremos ainda duas massas associativas que me encantam, porque são emocionais, como eu sou também. Portanto, espero que o FC Porto contribua para um grande espectáculo e que quem lá for, ou quem assistir em casa, se divirta.
Um jogo só pode marcar a diferença entre o sucesso e o insucesso de toda uma época?
Provavelmente está a referir-se e a recordar o jogo da Supertaça do ano passado. Foi realmente um estímulo importante para a nossa época, para o nosso início de época. Este ano partimos de situações diferentes. O FC Porto tem um ano de trabalho, portanto já tem uma dinâmica implementada. No ano passado partíamos um bocadinho do zero. Este ano é diferente e o adversário é diferente, mas é importante vencer, como é importante vencer qualquer troféu. Uma vitória traz-nos confiança, não digo para a época toda, mas para o jogo seguinte.
O onze pode aproximar-se daquele que jogou com o Lyon? Falcao e Kléber são compatíveis na mesma equipa?
É claro que os bons jogadores são sempre boa dor de cabeça. Quanto mais qualidade tivermos ao dispor, maior a possibilidade de fazermos um bom trabalho. É natural que a equipa que se vai apresentar não fuja muito daquela que jogou contra o Lyon. Mas ainda temos mais um dia para decidir o que fazer. Quanto ao Kléber e ao Falcao, os jogadores de qualidade têm sempre lugar na mesma equipa. O problema é quando eles não têm qualidade...
Contra o Lyon houve uma primeira parte de posse e uma segunda de transições. Como é que, do banco, consegue corrigir isso?
Fundamentalmente, a cultura de posse adquire-se no processo de treino. Na primeira parte fomos consistentes, soubemos ter bola. Não quero uma posse de bola para entreter, quero uma posse objectiva, que vise o momento e o espaço certo para fazer golo. Gosto muito de ver a minha equipa marcar. Nestes jogos, há que ter sustentação defensiva; defender de forma a sustentar esta posse. Na primeira parte fomos essa equipa. O início da segunda parte foi incaracterístico face ao nosso padrão, porque tivemos muita pressa, e quem tem pressa comete erros. Expusemo-nos à transição do adversário, porque perdíamos rapidamente a bola, e entrámos num jogo que não me agrada.
Sente preconceitos do exterior relativamente ao seu nome?
Para estar na posição em que estou, aceito perfeitamente qualquer tipo de interrogação que se coloque sobre mim. Mas uma coisa é o que os outros pensam, outra é o que as pessoas que trabalham comigo pensam e sentem. O que sinto, claramente, é confiança total no trabalho, confiança total nas ideias. Sinto-me seguro daquilo que pretendemos para o nosso FC Porto, sei exactamente como quero pôr esta equipa a funcionar. Conheço o jogo profundamente, conheço os detalhes do jogo, conheço os pormenores, discuto os pormenores seja com quem for, tanto em termos de operacionalização e planificação do treino, como de leitura do próprio jogo. Aceito a interrogação das pessoas. Uns dizem que me falta experiência. Sou treinador desde os 28 anos e tenho 42. É muito tempo a planificar e a operacionalizar, a reflectir. É o suficiente para chegar aqui hoje completamente à vontade e sentir que domino todos os pormenores. Aos que possam interrogar-se só digo uma coisa: esperem e vamos ver se daqui a algum tempo essas interrogações continuam. Estou plenamente convencido de que a resposta será dada de forma clara e inequívoca. Só têm de esperar para ver, mais nada.
Está a pesar o facto de poder conquistar o seu primeiro troféu?
Tem um peso bom, daqueles que vale a pena carregar. O maior gozo de ser treinador de futebol é viver sob pressão. Quanto maior for o jogo, mais à vontade estou e mais à vontade esta equipa está, porque conheço-a bem. O problema são os jogos que não parecem ter um grau de dificuldade grande. Esta pressão é o estímulo que nos faz andar. Só sou treinador de futebol porque gosto de viver constantemente sob pressão.
"Acreditamos que Hulk e Falcao vão continuar"
Falcao e Guarín chegaram esta semana e ainda há algumas ausências. O FC Porto não parte na máxima força?
Não estão ainda todos, mas estamos fortes e quem está dá-nos claras garantias de qualidade, por isso não estou preocupado.Temos consciência de que o Falcao, o Guarín e o Álvaro, assim como todos os jogadores que faltam, acrescentarão ainda mais qualidade a este plantel.
Falcao e Guarín já estão em condições para jogar?
Como é de esperar, chegaram esta semana e ainda estão numa fase inicial da preparação. Vamos ter de reflectir, vamos pensar bem no que é importante para este jogo.
Tem garantias do presidente ou da Administração de que jogadores com Hulk, Falcao e Moutinho não saem?
Todos nós acreditamos que os jogadores importantes como o Hulk e o Falcao vão continuar connosco. O mercado devia fechar, do meu ponto de vista, a 15 do mês de Agosto. Existem cláusulas de rescisão, o mercado é ditado por essas cláusulas, pelo que o plantel nunca estará fechado nem as portas estarão fechadas para a saída de jogadores. Queremos muito mantê-los cá e acreditamos que, por aquilo que nos dizem, se identificam com as vitórias que o FC Porto consegue, que se sentem em casa.
"Souness? É um brincalhão"
Graeme Souness disse que ganhar no FC Porto não é nada de especial. Acha que o seu trabalho é assim tão acessório?
Essas declarações devem ser de uma pessoa brincalhona. É um brincalhão. Que este é o clube que mais garantias dá para se atingir o sucesso em Portugal, não tenho dúvidas absolutamente nenhumas. Mas se um treinador chega cá e não tem qualidade para acompanhar o clube, não tem qualquer hipótese de ganhar. É preciso que esteja ao nível dos jogadores. Vamos esperar para ver se tenho ou não essa qualidade, mas acho que estou no clube certo e na hora certa. Está tudo reunido para uma época de sucesso.
As equipas que o prendem ao sofá... ou ao banco
Vítor Pereira assume a linha de continuidade face a Villas-Boas, mas não é um imitador e diz onde pode estar o "upgrade" do seu FC Porto. "Defendo um jogo de qualidade, um bocadinho à imagem do que fizemos no ano passado, se possível mais agressivo ainda, mais agressivo do ponto de vista ofensivo e defensivo e com comportamentos de maior qualidade, porque é possível crescer. Quero um FC Porto dominador, um FC Porto de posse, um FC Porto agressivo no momento da perda de bola, um FC Porto que quer ter bola, que quer desfrutar da bola", enumera, denunciando logo a partilha de ideias face à escola do Barcelona. Vítor Pereira acredita que o futebol de qualidade pode ter múltiplos nomes, mas não se estica a elencá-los: "Gosto de ver os bons jogos, equipas como o Barcelona, como o Manchester, como o FC Porto... Esses jogos dão-me prazer de ver, até do banco de suplentes." Fanático do futebol de ataque, insiste num conceito-chave. "Para mim, um desafio tem de ter qualidade. Desses jogos eu desfruto, gosto de ver e vejo com prazer. Todos os que fogem a este padrão, não tenho paciência, não perco tempo com eles", completou quem acredita que as noções de sucesso e de espectáculo podem e devem andar, no futebol moderno, de mãos dadas.
"O futuro está a ser preparado hoje"
Tem acompanhado o Mundial'sub-20? O que pensa dos reforços do FC Porto que lá estão?
São jogadores com muita qualidade e que vão continuar a crescer e serão o futuro do FC Porto. Em termos de organização, há poucos clubes como este por esse mundo fora. Vive o presente, mas com olho claro no que será o futuro da equipa e do clube. São jogadores jovens, com grande qualidade e que me virão para as mãos. Tenho apetência natural para lhes dar a formação para jogarem ao mais alto nível. Posso projectá-los para um nível superior e podem ajudar-nos a melhorar a nossa dinâmica e o nosso potencial para encararmos o futuro com confiança total. O futuro está a ser preparado hoje.
Confortável, efectivamente
Entrou na sala de imprensa do Centro de Treinos às 12h48 e pediu desculpa pelo atraso. Os 27 minutos da sua primeira conferência estão representados nesta nuvem de palavras, salientando-se o conceito de "qualidade". Vítor Pereira, cujas apetências comunicacionais foram questionadas na cerimónia de apresentação, mostrou-se confortável e seguro do que queria dizer. Respondeu a 15 questões e socorreu-se de algumas muletas curiosas, como o uso constante de advérbios de modo. Ao todo, fê-lo por 20 vezes!
in "ojogo.pt"
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