quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Da ameaça aos actos num grito de revolta

A sorte não cai do céu, de onde ontem desceram as estrelas do FC Porto para uma exibição terrena, honesta, solidária. Com o orgulho de quem tem um nome a defender, o dragão agigantou-se, mostrou a outra face e deu uma bofetada de luva branca na palidez com que se vinha arrastando pelos campos nos últimos jogos. O resultado é uma vitória que até pode ter um significado pueril nas contas da Champions, mas que reconcilia o FC Porto consigo próprio e com a sua marca de clube que, como disse Pinto da Costa, está "habituado a sair das crises por cima".
Ora, a crise dos portistas - se é que já a podemos remeter ao tempo passado - era uma crise de resultados com alicerces profundos numa crise de atitude. Foi por aqui que o grupo começou por intervir, sendo justo que se meta ao barulho o nome de Vítor Pereira. Desde logo, porque finalmente bateu a bota com a perdigota nas suas promessas de retoma. Mais do que ameaças, as certezas absolutas do treinador assentavam numa estratégia com valor e pertinência e que criou uma rede de segurança que evitou que a equipa jogasse sobre brasas.
Há que explicar, previamente, que as peculariedades da Champions mexeram com o contexto do jogo. É que o empate no Zenit-APOEL fez com que o Shakhtar entrasse em campo sem esperanças de prosseguir na prova, criando para um FC Porto um cenário de relativo conforto, na medida em que até o empate lhe permitiria depender de si próprio para se apurar. Era uma casca de banana disfarçada de brinde e que desincentivava o risco, insinuando um facilitismo no qual a equipa nunca se fiou. Por aqui se ouviu o grito de revolta de um onze que entendeu sempre que o bom seria amigo do óptimo.
Vítor Pereira espremeu o plantel, valorizando a fome de bola de Defour e Djalma. Novidades que ofereceram entrega e combatividade onde antes imperava a sobranceria e a displicência. Trunfos ganhos, a par de uma revolução táctica (4x2x3x1) que equilibrou a equipa e reagiu aos trunfos do adversário. Até Maicon, risível em Coimbra, justificou a insistência, respondendo com galhardia numa noite em que jogava a pele. É certo que nada disto impediu o Shakhtar de estar, em vários períodos, por cima do jogo, mas manteve o FC Porto sempre à tona e com vistas largas para um triunfo redentor.
Numa cidade mineira e industrial, uma equipa ficou com os ferros, outra com o fogo. Brilhou a estrelinha nos postes de Helton, mas os azuis e brancos fizeram das tripas coração para dar o tal grito de revolta que impediu que a retoma se ficasse pela metade. Por quererem mais do que o necessário, os dragões espantaram as dúvidas e anunciaram a plenos pulmões uma reacção que carece de novos carimbos. Vítor Pereira mostrou o caminho, deu o peito às balas e ganhou o respeito do grupo. A resposta está dada: a equipa vai com ele.

in "ojogo.pt"

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