quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Dragão virou fábrica de internacionais

Na última década, excluindo das contas a Selecção portuguesa, o FC Porto "fabricou" oito internacionais de raiz, seis deles na principal selecção do planeta: o Brasil. Aliás, com algumas condicionantes a servir de justificação, o FC Porto é o clube mais representado na última convocatória de Mano Menezes. Não é uma medalha, mas quase.
Alex Sandro e Kléber ainda só têm a convocatória para comemorar, mas é muito provável que hoje [ver também página 31] ou na próxima semana passem a fazer parte dos jogadores oficialmente estreados. Se a chamada do lateral reflecte o estatuto adquirido no Brasil, e não as exibições produzidas em Portugal, já Kléber beneficiou claramente do efeito mediático da mudança. E não foi o único.
Hulk tem sido o exemplo mais bem sucedido da montra portista no que toca a projectar internacionais para a selecção brasileira, apesar de não estar no lote dos indiscutíveis. Helton não conseguiu fixar-se nas opções e Anderson estava a despontar nas escolhas do seleccionador de então, Dunga, quando foi transferido para Manchester, onde, ironicamente, passou a ter menos atenção.
Na última década, para além das estreias absolutas, foram vários os exemplos de jogadores que recuperaram ou reforçaram o estatuto de internacionais depois de chegarem ao futebol português, e ao FC Porto em particular. Lisandro e Belluschi, na também emblemática Argentina, são os casos mais flagrantes. Um e outro tinham passagens episódicas pela selecção e repetiram mais vezes as chamadas com o rendimento no Dragão. Aliás, o salto de Lisandro para o campeonato francês significou, no que toca a internacionalizações, o ponto final.
Os critérios dos seleccionadores nas escolhas nem sempre são claros, mas, pelo que se percebe do balanço dos últimos dez anos, no quadro aqui ao lado, o FC Porto parece estar bem cotado nas atenções que dispensam ao rendimento dos jogadores. Uma montra de que todos tiram partido.


Luís Fabiano e Diego perderam fôlego

A tendência para o FC Porto produzir internacionais é notória, mas já houve casos em que a permanência no Dragão provocou o efeito inverso. Luís Fabiano e Diego, por exemplo, chegaram como membros de uma nova vaga brasileira, mas saíram sem que tenham somado qualquer convocatória no pouco tempo que jogaram no FC Porto. O caso do Fabuloso é o mais flagrante, pois foi contratado logo depois de um ano em que jogou nove vezes pelo Brasil e fez cinco golos. Nem um nem outro tiveram rendimento de montra no Dragão e ambos perderam o comboio para o Mundial'2006.
Outros, como Walter, Souza e Edgar (este actualmente no Guimarães), chegaram como efectivos das selecções canarinhas mais jovens, mas interromperam os trajectos por também não se terem afirmado no FC Porto.


Curiosidades

Bolatti teve de sair

Mario Bolatti estreou-se na Argentina com contrato com o FC Porto, mas a jogar no Huracán, por empréstimo. Só assim ganhou espaço.

Anderson a meias

O mérito clubístico é difícil de distinguir quando se fala de Anderson. O médio estreou-se pelo Brasil na Copa América 2007, na sequência de duas épocas no FC Porto, mas quando estava a caminho do Manchester United.

Sub-21 também contam

Mangala e Iturbe não são ainda internacionais A, mas mantêm a regularidade nos respectivos escalões desde que chegaram ao FC Porto. O primeiro até já é capitão dos sub-21 franceses.

Danilo é o futuro

Em breve o FC Porto poderá ter quatro brasileiros na selecção. Danilo, que chega em Janeiro, foi convocado recentemente por Mano Menezes.

Estreias marcantes

Lisandro e Jardel ficaram associados nas respectivas selecções a grandes nomes do futebol mundial. O primeiro apadrinhou a estreia de Messi pela Argentina, ao ser substituído pelo prodígio do Barcelona. Já Jardel, substituiu Ronaldo "Fenómeno" na primeira vez que vestiu a canarinha.

Kléber afinal só na segunda parte

Ao contrário das indicações de anteontem, que apontavam para uma dupla atacante 100% portista na selecção brasileira, Kléber deve afinal ser suplente de Jonas, do Valência. No último treino antes do jogo de hoje, Mano Menezes optou por excluir o estreante, que mesmo assim terá oportunidade de mostrar valor no segundo tempo. O outro portista no escrete, Alex Sandro, também começará no banco.

Cristian Rodríguez intocável no Uruguai

A sete meses de terminar contrato com o FC Porto, Cristian Rodríguez não é opção de Vítor Pereira, mas mantém o seu estatuto inabalável no Uruguai. Além de ter sido novamente convocado por Óscar Tabárez, o extremo pode até ser titular na equipa celeste, no lugar onde habitualmente joga Forlán, desta vez lesionado. O seleccionador parece estar inclinado a escolher Cebola em detrimento de Gastón Ramírez, o outro candidato. Álvaro Pereira, o outro portista desta selecção, é intocável. E voltará a alinhar como médio-esquerdo, à imagem do que tem sucedido no passado recente.

3 perguntas a Fredrick Soderstrom

(EX-JOGADOR DO FC PORTO)
O médio estreou-se pela selecção sueca quando defendia o Guimarães. Contudo, foi no FC Porto que se tornou um internacional regular e foi depois da saída que voltou a ser esquecido. Com 38 anos, é agora comentador televisivo, mas até mantém a ligação ao FC Porto: é numa casa sua que mora Belluschi.


"Fui o melhor em Guimarães, mas visibilidade só no FC Porto"

1 | Recorda-se do efeito FC Porto na sua carreira ao nível da selecção sueca?

Sim. Ainda jogava no V. Guimarães quando me chamaram pela primeira vez. Mas das 11 convocatórias que tive, a grande maioria ocorreu quando estava no FC Porto. Depois saí para o Braga e o Standard de Liège e só fui chamado mais duas vezes. Acabou por aí a minha carreira na selecção sueca.


2| O declínio teve que ver com o facto de ter deixado o FC Porto ou com questões inerentes à sua forma?

A última vez que fui à selecção estava no Standard de Liège e a jogar muito bem. Nessa ocasião pedi uma reunião com os treinadores e perguntei por que razão, apesar disso, era suplente, ao contrário de outros que não jogavam nos clubes. Penso que foi por isso que não voltei e não por estar a jogar melhor ou pior. A verdade é que em Guimarães, FC Porto, Braga ou Liège fui quase sempre titular e estive em bom nível, mas só fui frequentemente à selecção no FC Porto.


3 | A marca FC Porto é sinónimo de qualidade e garante chamadas à selecção, independentemente da forma dos jogadores, é isso?

Para ir á selecção é preciso estar em boa forma. Mas claro que é muito mais fácil chegar a uma selecção jogando num grande clube como o FC Porto. Para mim, jogar lá teve uma grande importância na afirmação pela selecção da Suécia. Jogar no FC Porto significa ser grande jogador. Além disso, todos os jogos passam na televisão e é mais fácil ter visibilidade. No V. Guimarães, por exemplo, fui o melhor médio estrangeiro em Portugal e não ia à selecção porque não viam os meus jogos. No FC Porto pude mostrar-me. Eu e os meus colegas. Naquele tempo, só os brasileiros não eram internacionais.

in "ojogo.pt"

Sem comentários: