Só esta atração pelo jogo de Málaga pode explicar (e justificar) a quebra de lealdade do F.C. Porto com o jogo contra o Estoril. Os dragões foram magnânimos na fase inicial, fizeram dois golos, juraram este mundo, o outro, e puseram-se a andar.
Não há, sequer, ponta de exagero nisto que escrevemos. A equipa compenetrada, cumpridora e asfixiante dos primeiros 20 minutos optou, pura e simplesmente, por deixar o relógio avançar na direção certa e esperar que nada de mau ocorresse.
E, de facto, não ocorreu. O Estoril, pese toda a qualidade que lhe é reconhecida, foi incapaz de se agarrar ao anel, my precious, e limitou-se a representar o papel de Gollum. Meio conquistador, meio amedrontado, enigmático dos pés à cabeça.
Com tudo isto perdeu a qualidade do jogo e perderam os adeptos (apenas 24 mil). Não faz sentido sair do posto de trabalho quando há 70 minutos para criar.
A fase da época é sensível, as pernas de alguns jogadores estão pesadas, os músculos talvez presos. Tudo ok. Mas o Porto pode gerir com tranquilidade, mantendo o empenho e o critério. Há jogadores suficientes para isso, digam o que disserem.
O que fica malvisto é esta tendência para ser fiável somente nos períodos em que dá mais jeito. A noite podia ter sido de redenção pós-Alvalade e de fazer lascivamente as pazes com os fiéis seguidores. Pouco ou nada disso aconteceu.
Por vontade própria do F.C. Porto, insista-se.
Os bicampeões nacionais foram mortais no prólogo do jogo. Maicon reencontrou-se com os golos e a confiança através de um belo cabeceamento, após canto de James (ocupou o lugar de Izmaylov), e Jackson Martinez fez de penalty (mão claríssima de Mano) o 2-0 aos 14 minutos.
A turba azul e branco agitou-se, pediram-se mais golos, e o que se viu foi o F.C. Porto a ficar cada vez mais leve e fugidio no encontro. Como se tivesse enchido os pulmões de hélio e se perdesse no céu da Invicta. Ninguém voltou a ver a equipa.
Com o devido respeito pelos intervenientes, o argumento restante foi uma maçada. Todos os olhos se puseram no relvado e percebeu-se que a concentração já estava no La Rosaleda. Vítor Pereira assumiu precisamente isso ao abdicar de Lucho e James aos 57 minutos.
Os requisitos mínimos foram preenchidos, sim senhor, sem entusiasmo e com evidente sentimento de culpa. Como quem caminha para o altar de anel de diamante investido e coração pendente.
Só um grande jogo em Espanha e a qualificação para os quartos-de-final da Champions podem resolver esta aflição.
2 comentários:
15 minutos a jogar e o resto a poupar?
Veremos...
A resposta à interrogação só pode ser dada após os jogos de quarta-feira frente ao Málaga e domingo a oito dias contra o Marítimo, jogo a disputar na Madeira. Mais, a análise ao jogo de hoje que o F.C.Porto venceu com toda a justiça, mas com uma exibição muito abaixo do que seria exigível, também só devia ser feita após esses dois jogos. A razão é simples: se depois de tanto poupar e com isso irritar, ao ponto de levar muita gente arrepender-se de ter ir ao estádio; transformar o jogo, depois do 2-0 - Maicon aos 4 e Jackson de penálti aos 13 -, num longo e penoso bocejo; isso não significar uma exibição de qualidade, com total disponibilidade física e mental na Andaluzia e na Pérola do Atlântico, então o que se passou hoje no Dragão é motivo de grande preocupação para o futuro. Tanta falta de concentração e de atitude, tanta displicência, tanta vontade de complicar em vez de simplificar, tanta desinspiração, se não teve a ver com a cabeça já estar noutro lado, principalmente na montra que é a Champions, então, repito, temos de ficar a pensar no pior.
Abraço
Depois de um calendário rigoroso e antes de um jogo para a Champions, não me choca este tipo de exibições, tanto mais que ela aconteceu depois de quase garantida a vitória.
É verdade que esta equipa, mesmo em poupança, tinha a obrigação de oferecer melhor espectáculo.
Agora todos esperamos um bom desempenho frente ao Málaga, até para justificar de algum modo esta economia de esforço.
Um abraço
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