Na primeira edição da Taça em 1939, FCP e Benfica encontraram- -se nas meias-finais. Que confusão!
Era uma questão de tempo. Duas grandes forças do futebol, Benfica e FC Porto, dividiam o país em norte e sul. Promovido o regionalismo, era uma questão de tempo até o início de problemas, rixas, suspensões e afins.

SILÊNCIO E REVOLTA A 4 de Junho, a direcção da FPF, após reunião extraordinária, suspendeu até ao congresso seguinte os jogadores Eugénio Salvador, Ralf Bailão, Manuel de Oliveira, este com proposta de irradiação, e também Rogério de Sousa, Francisco Albino e Francisco Gatinho por seis meses.
A 12 de Agosto, surge a decisão final da FPF, por unanimidade e depois de o Benfica ter emitido um comunicado no qual dava a conhecer a verdadeira identidade do agressor (Guedes Gonçalves): 30 dias de suspensão para Eugénio Salvador e seis meses para Guedes Gonçalves. Mantém a censura pública a Conceição Afonso. Decide por maioria expulsar Ralf Bailão, por agressão a Laurindo Grijó, censura este, e iliba Gatinho, Albino e Rogério. Na sequência destes episódios, o FC Porto corta relações com o Benfica. Os dois clubes não se dão até 29 de Dezembro de 1935, altura em que organizam um particular na Constituição para reatar relações.
A amizade não durou muito. Em 1938, o rastilho reacendeu-se, quando o Benfica festejou a conquista do título de campeão, fazendo valer a vantagem no confronto directo (3-1 nas Amoreiras e 2-2 no Lima), regra de desempate que merece o repúdio dos portistas. O poder está em Lisboa, queixavam-se os nortenhos. Pouco depois, nos quartos-de- -final do Campeonato de Portugal 1937--38, os dois jogos entre Benfica e FC Porto levam famílias aos estádios mas os espectáculos são desagradáveis. Muitos golos (13 no total, com 4-2 no Lima e 7-0 nas Amoreiras), casos por resolver, entre polícias, adeptos, jogadores e dirigentes, e expulsões, muitas! Ao todo, sete, com 4-3 para o FC Porto. Pior só na década de 90.
BARULHO E REVOLTA Numa altura em que qualquer jogo entre Benfica e FC Porto era sinónimo de faísca dentro de campo, fora dele também havia discussões entre adeptos. Os dragões, inclusive, possuíam uma claque denominada Esquadrão Azul e Branco que perseguia a equipa por todo o país.
Como é lógico, não faltaram à "convocatória" das meias-finais da primeira edição da Taça de Portugal, em 1938--39. Na primeira mão, o Benfica foi goleado no Estádio do Lima por 6-1, em que Francisco Ferreira, ex-FC Porto e capitão dos benfiquistas, falhou um penálti e foi maltratado pelos antigos companheiros de equipa e pelos próprios adeptos, que o assobiavam cada vez que tocava na bola. A resposta benfiquista foi pronta: 6-0 nas Amoreiras e passagem à final. Este jogo também tem história.
Num clima tenso e tremendamente regionalista, os adeptos do Sporting e do Belenenses vão apoiar o Benfica, o que desconcentra o FC Porto, que abandonou o campo a 15 minutos do fim, alegando o constante lançamento de bombinhas de Santo António para a sua área, sem esquecer o facto de já estar a jogar com nove elementos, por expulsões. A atitude dos nortenhos foi reprovada pelos encarnados e motivou mais um corte de relações por parte da direcção do Benfica. A reacção não se fez esperar: na final da Taça de Portugal, com a Académica, todos os portistas uniram-se a favor dos "estudantes". "Coimbra é do Norte", justificavam. E os " nortenhos" ganharam 4-3.
Hoje é o 102.º clássico FCP-Benfica no Porto. Desta vez, sem adeptos do Sporting nem do Belenenses a puxar pelos benfiquistas. Muito menos sem a Académica metida ao barulho. Até porque Coimbra é do centro e não está para se meter nesta interminável guerra entre norte e sul.
in "ionline.pt"
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