quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Taça de Portugal: F.C. Porto-Benfica, 0-2 (crónica)

A capacidade de ser adulto e saborear o que é bom


O sossego de quem não erra é inestimável. Já o equívoco grave do pecador normalmente não traz nada de bom. É assim no futebol como na vida. Tantas vezes nos vemos sem espaço para o perdão, sem lugar para a redenção, longe do indulto. No Clássico, o F.C. Porto abusou do erro. Sofreu dois golos inadmissíveis, sentiu a culpa a esburacar-lhe o âmago e jamais foi capaz de reagir convenientemente. 

Perdeu. Perdeu bem e sem direito a apelo. 

Mais perto do Jamor está o Benfica. Um déspota esclarecido no regresso ao Dragão de tão pestilentas memórias. Foi rigoroso, inclemente, abusou dos lapsos contrários e matou o jogo em 26 minutos. 

Maicon estendeu-se ao comprido no colchão velho da humilhação e Fábio Coentrão encostou a biqueira à bola para o 0-1; num assomo de adrenalina e pundonor, os dragões tiveram o imberbe James falhar de baliza aberta e entregaram-se à penitência, à auto-flagelação; logo depois, o 0-2 de Javi García, num cocktail de desconcentração a dividir por Fernando e Helton. 

David Luiz? Dele ninguém se lembrou.

A defesa ruiu e levou todo o Porto atrás

Jesus deu à equipa uma roupagem de Bogart. Sisuda, aparentemente desinteressada, mergulhada no vácuo de um olhar perdido num copo de gin. Por entre o fumo esvoaçante de um cigarro preguiçoso, a cabeça erguia-se num alerta surpreendente e pedia mais: Play it again, Sam, em instantes de Casablanca retratados no Dragão. 

E assim foi. Num jogo de aparências, o Benfica mascarou-se de vítima frágil, recuou no terreno e geriu as evidências a seu bel-prazer. Play it again, Sam e os dois golos surgiram, agrilhoados à incompetência de uma defesa do Porto trémula e de tiques ridículos. 

Sereno foi defesa esquerdo improvisado, consciente a defender e vazio a atacar; Maicon comprometeu como já fez outras vezes este ano e pincelou uma tela de vulgaridade assustadora; Helton não foi o guarda-redes do costume, demasiado confiante e, por paradoxal que seja, extremamente falível. 

As fundações do F.C. Porto ruíram bem cedo e levaram toda a equipa atrás.

Não houve Falcao, muito menos Walter

Em defesa do líder da Liga, é de bom tom sublinhar mais uma ausência de Falcao. A somar às de Alvaro Pereira e Emídio Rafael. Menos compreensível é a exclusão de Walter. 

A perder, André Villas-Boas só pôde retirar de campo James Rodríguez (sem maturidade para uma trama desta densidade) e colocar o homónimo Cristian. Mais tarde, já em superioridade numérica (pela expulsão de Coentrão), apostou as fichas todas com Guarín e Rúben Micael. Isso, dois médios. Estranho, muito estranho por sinal. 

Desequilibrado atrás e depauperado à frente, o Porto foi um espectro sem alma, nem ordem. Teve vontade (muita), honestidade (ainda mais), mas muitas e muitas limitações. Além do desperdício inacreditável de James, houve um remate extraordinário de Hulk (de regresso às noites de egoísmo) e nada mais.

A melodia (ou evolução) tem um responsável: Jesus 

Consequências desta peleja? Insondáveis. Há, claramente, uma diferença entre tropeço e fracasso. O Porto esta noite tropeçou numa montanha (que cresce e cresce) e só daqui a três meses saberá se fracassou. Por alturas da segunda-mão, a jogar-se na Luz. A não ser que os danos colaterais se disseminem pelo trajecto imaculado no campeonato nacional. 

Por agora, elogie-se a evolução óbvia do Benfica. Passou de matéria melosa, ansiosa por afecto, a um corpo confiante, adulto, capaz de saborear a cumplicidade de um gin. Play it again, Sam. A melodia é da autoria de Jesus.

in "maisfutebol.iol.pt"

3 comentários:

Dragus Invictus disse...

Bom dia,

Ontem foi mesmo dia de Ofertório de Villas-Boas e dos nossos Jogadores a Jesus ...

O Benfica pressionou e lutou para vencer, e teve a felicidade do jogo, pois Varela e James falharam 2 golos na primeira parte de forma inacreditável.

O Benfica entrou melhor tacticamente no jogo, e com uma pressão sobre a nossa linha defensiva, e sobre Fernando, levou a que a ocorressem erros que permitiram chegar aos 2 golos.
Foram anormais os constantes atrasos de bola dos defesas a Helton.
Notou-se nitidamente a falta de um ponta de lança, para a determinada altura do jogo encostar Hulk à linha, para esconde-lo à marcação.

Hulk só em remates de longe e pequenas jogadas de entendimento criou perigo. Foi bem marcado pelos 2 centrais do Benfica.

Destaque para a nossa ala direita. Sapunaru e Varela estiveram muito bem no jogo, e foi por essa ala que criamos as melhores oportunidades.

Maicon esteve péssimo, não compreendo a titularidade em detrimento de Otamendi, que estava a afirmar-se na equipa.

Paulo Baptista, fez uma arbitragem ao seu nível ... péssima, mas sem qualquer influência na justiça na vitória do Benfica.

Nos festejos de Coentrão junto dos adeptos, esqueceu-se de lhe mostrar o amarelo. Júlio César perdeu imenso tempo nas reposições de bola, e devia ter levado amarelo ainda na primeira parte.
Depois mostrou imensos amarelos a atletas do Benfica e Porto injustificados, e Javi Garcia que deu porrada de criar bicho terminou o jogo, e Cardozo que deu mais uma cotovelada, não foi expulso.
Foi uma sinfonia do apito, que travou muitas vezes o ritmo do jogo.

O Benfica tem a gaiola e o pássaro na mão ... resta-nos "acraditar" e na Luz roubar o pássaro.

Abraço

Paulo

http://pronunciadodragao.blogspot.com/

Rui Anjos (Dragaopentacampeao) disse...

Derrota merecida pela falta de organização, lentidão, falta de dinâmica, displicência, deserto de ideias e ineficácia.

Foi penoso ver tantas falhas comprometedoras e de palmatória. Vulgaridade absoluta frente a um adversário fraco, que se limitou a pressionar alto e tirar proveito dos sucessivos erros adversários.

O FC Porto demonstrou estar a atravessar um período periclitante, não conseguindo disfarçar as faltas de Álvaro Pereira e Falcao.

A eliminatória ficou praticamente decidida.

Um abraço

Ultrasfcporto disse...

Caros portistas, desculpem a demora do comentário mas ainda estou meio abanado, para não dizer literalmente fod..., com o resultado negativo que ontem tivemos no Dragão, e precisamente por ser contra quem foi como é óbvio, foi quase o mesmo que nos cuspirem na cara. E principalmente quando todos viram que existiu por parte dos nossos pupilos e seu timoneiro uma imensa ingenuidade. Contra eles não se pode facilitar e foi o que mais fizemos, tanta poupança, tanta letra e depois assistimos a muita parra e a pouca uva. Temos categoria para chegar lá e dar-lhes com 3 secos é verdade, mas que não vai ser fácil não, lamento que não houve futebol de categoria para brindar os cerca de 47000 que foram ao Estádio e foram impecáveis no apoio á equipa.
Cumprimentos,
www.ultrasfcporto.com