sábado, 10 de setembro de 2011

"Tiki-taka" com sotaque nortenho


Por vezes, há apenas uma linha muito ténue a separar uma goleada histórica de uma vitória arrancada, literalmente, a ferros: a diferença pode estar no excesso de pontaria ou num guarda-redes particularmente inspirado. O FC Porto teve que contornar as duas situações para se manter isolado, seguir invicto, e colocar pressão nos rivais de Lisboa que entram em acção esta noite. Antes de marcar, viu a barra devolver três remates e Diego negar uma mão-cheia de golos cantados. Mas teve o mérito de nunca perder a calma, insistindo na circulação de bola, e momentos de grande inspiração colectiva.
A justiça da vitória só foi servida na segunda parte e com muito mérito de Vítor Pereira, que percebeu que não precisava de um médio-defensivo para anular as tímidas investidas do Setúbal. Por isso, deixou Souza no balneário e apostou em João Moutinho. O meio-campo perdeu centímetros, mas ganhou em magia e capacidade de circulação de bola. Ainda por cima, foi Moutinho a abrir o caminho deste triunfo, num remate de longe. Aposta ganha, portanto.
Os três golos de diferença podem ser considerados uma goleada, mas a verdade é que são simpáticos para o Setúbal e, sobretudo, curtos para a produção ofensiva de uma equipa portista que chegou a ser um rolo compressor e que merece nota artística muito elevada. No Dragão, também se viu "tiki-taka" e ficou a garantia de que este FC Porto com a assinatura de Vítor Pereira está mais próximo no estilo do Barcelona de Pep Guardiola. Salvaguardando as devidas diferenças. E para os mais cépticos com esta afirmação, fica o convite para verem e reverem o lance do terceiro golo, construído ao primeiro toque, com um momento de magia que saiu dos pés de Hulk e a finalização do "pequenino" Belluschi.
Mas se o final do jogo entusiasmou, os 20 minutos iniciais foram de muitos bocejos porque faltou quem acelerasse o jogo mastigado dos portistas. O Setúbal agradeceu. Bruno Ribeiro deixou o ponta-de-lança João Silva no banco e Pitbull assumiu as despesas do ataque, mas a conta apresentada ao brasileiro foi baixa. Zé Pedro foi desviado para a esquerda, ficando o miolo preenchido por Hugo Leal, Neca e Bruno Amaro que foram circulando a bola sem pressas e, diga-se, sem grande vontade de chegar à baliza de Helton, que foi para o intervalo praticamente sem sujar as luvas.
Vítor Pereira soou o alarme e James arregaçou as mangas, assumindo de vez o papel de protagonista. O resultado foram 15 minutos intensos, sufocantes, do FC Porto, que passou a pressionar logo à saída da área dos sadinos, e três bolas devolvidas pela barra. Souza e Rolando de cabeça ao minuto 22' e Kléber aos 29'. A plateia do Dragão dava os primeiros sinais de gostar da atitude da equipa, comandada de forma soberba pelo pé esquerdo de James. Para já ainda não havia Hulk em campo e o "miúdo" não teve qualquer problema para assumir a construção de jogo, estando em todos os lances de perigo. Os tais que a barra e Diego impediram de festejar mais cedo.
Vítor Pereira fez três mudanças no onze em relação à goleada na Marinha Grande, lançando Souza, Rodríguez e Defour. O belga foi uma dupla surpresa: pela entrada directa na equipa e pela fantástica exibição. Quem diria que chegou à equipa há pouco tempo? Entendeu-se bem com Belluschi e James, mas deu ainda mais nas vistas pela entrega e capacidade de roubar bolas.
O intervalo chegou com sabor a injustiça para os dragões, mas a reentrada confirmou um FC Porto assente num colectivo muito forte, com individualidades a brilhar, e a tal nuance táctica que a entrada de Moutinho provocou. Com pé a fundo no acelerador, a equipa ganhou mais metros no terreno e encostou o Setúbal às cordas, trocando a bola ainda com mais velocidade.
O golo lá chegou aos 53' para desatar o nó. Mas o Setúbal esboçou uma reacção traduzida em três cantos seguidos e num livre indirecto que colocou, finalmente, Helton à prova. Porém, o empate só esteve perto aos 72', num lance fortuito em que a bola ressaltou para os pés de João Silva.
Não marcou o Setúbal, "matou" o FC Porto logo a seguir num momento sublime de futebol, acabando de vez com as dúvidas quanto ao vencedor. Ah! E Belluschi ainda teve tempo para encerrar as contas, em mais um bonito desenho do ataque azul e branco. O jogo acabou e já ninguém tinha sono no Dragão.

in "ojogo.pt"

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