Apesar de "privilegiar sempre o colectivo", Vítor Pereira não teve problemas em falar das virtudes e defeitos dos seus jogadores. E na hora de elogiar, faltaram-lhe as palavras para qualificar este arranque de James...
Aceita a ideia de que o FC Porto está, neste momento, dependente de James e Hulk?
Tenho um conceito de jogo colectivo, que depois pode permitir o aparecimento de determinadas individualidades pelo talento que têm. Estamos a falar de dois jogadores de uma enorme qualidade, pelo que é natural que acabem, em determinados momentos da época, por evidenciar um nível de jogo elevado, o que nos poderá levar a pensar que o FC Porto está dependente deles. Mas eu acredito que este FC Porto depende apenas da equipa e nem sequer me estou a referir só aos onze jogadores que entram de início nos jogos; estou a falar de uma competição interna que tem permitido aumentar o nível qualitativo dos nossos treinos.
Está surpreendido com este arranque de época de James Rodríguez?
Ele teve um ano de adaptação ao futebol europeu, como acontecerá esta temporada com o Iturbe ou o Kelvin, dois jogadores com muito talento e qualidade que estão a chegar agora, mas que precisam de mudar o chip sul-americano para o europeu. Eles têm de perceber que para se jogar na Europa é preciso um andamento mais elevado, pensar mais depressa, ser mais agressivo, e ter a consciência de que a velocidade para executar é mais reduzida. Precisam de tempo para se adaptarem e para perceber que colectivamente há algumas diferenças. A partir daí, a evolução do talento puro que eles têm fará a diferença. Quanto ao James, nem sabemos muito bem até onde poderá chegar... Sabemos que vai evoluir para um nível mundial, porque tem talento e, ainda mais importante do que isso, gosto por trabalhar esse talento. Já é um grande jogador, mas estou convencido de que vai disparar para um nível que nem eu próprio consigo quantificar. Só não tenho grandes dúvidas de que vai ser um jogador de nível mundial.
Depois da boa resposta de Defour e Belluschi nos últimos jogos, concorda com a ideia de que Guarín perdeu espaço na equipa?
Aqui nenhum jogador está atrás de ninguém. Estão todos dentro de uma competição interna e a qualidade do nosso jogo depende muito daquilo que conseguirmos produzir no dia-a-dia. Existe uma competição saudável entre eles, e tenho a certeza de que nenhum treinador do mundo prescindiria da qualidade de um jogador como o Guarín, até porque isso seria uma atitude pouco inteligente. Claro que conto com o Guarín, como também fiquei contente com o nível exibicional do Belluschi e do Defour, do Moutinho e de todos os outros jogadores. É bom ter um nível tão elevado dentro da equipa, porque permite uma escolha entre os jogadores que melhor se enquadrem para um determinado jogo.
Que significado tiveram para si as palavras de arrependimento de Fernando sobre a vontade em sair do FC Porto, expressa no final da última época?
Fernando é um grande profissional; é um jogador colectivo, que dá tudo pela equipa e que nunca pensa individualmente. Perante um mercado agressivo, com eventuais propostas a chegarem, e com os jornais a escreverem sobre isso, é perfeitamente compreensível que a estrutura emocional de um jogador fique afectada. Mas essa fase já passou. Temos Fernando para uma grande época, ele que na sua humildade soube reconhecer que teve um período instável. Mas o nosso Fernando está de volta, sempre com a mesma qualidade e um espírito colectivo. E é com esse jogador que vou contar para o resto da temporada.
"Não esperem goleadas"
Na antevisão do encontro com o Feirense, Vítor Pereira reconheceu que está à espera de um "adversário complicado e bem organizado", mas mostrou-se convencido de que "com maiores ou menores dificuldades a equipa vai conseguir vencer", sobretudo quando se aproxima o clássico com o Benfica. "É importante vencer porque irá anteceder um jogo com essa importância, mas o mais importante passa por chegarmos ao final do campeonato na frente. Mas não esperem que o FC Porto esteja a golear em Aveiro com meia hora de jogo". O treinador voltou a recordar que a época passada foi "singular", por "mérito do FC Porto", mas também por "algum demérito dos adversários", e reforçou a ideia de que esta Liga vai ser bem mais competitiva do que a anterior. "Não acredito que este ano os moldes do campeonato sejam iguais; acredito num campeonato muito mais competitivo. E nós estamos preparados para isso. O Sporting provou que está a subir de forma. Fez muitas contratações e precisa de tempo, mas de certeza que vai lutar pelo primeiro lugar. O Braga voltou a evidenciar muita qualidade e terá sempre uma palavra a dizer. O Benfica também realizou um bom jogo, com bons comportamentos. A luta andará à volta destas quatro equipas, com uma ou outra que se irá revelar ao longo da época". Vítor Pereira explicou ainda que os adversários estão agora mais preparados para defrontar o FC Porto, até porque "vão encontrando o antídoto para tentar travar" o campeão nacional.
Meio-campo: um seis cada vez mais oito
Durante a segunda parte dos dois últimos jogos, Vítor Pereira prescindiu da figura do trinco. Será esse o futuro do FC Porto? "Não é bem isso. Vamos continuar a jogar com três médios, mas queremos que o seis seja cada vez mais um oito", começou por explicar, antes de detalhar o conceito. "Antigamente, o seis era visto como um jogador de equilíbrios, um recuperador sem grande preponderância ofensiva. Agora, e nas grandes equipas mundiais, o seis é cada vez mais o primeiro organizador de jogo. A minha ideia passa por aproximar o nosso seis de um pivô com grande capacidade para circular a bola e para entrar no processo ofensivo". Perante a evidência, sobrou uma pergunta: Fernando e Souza podem perder espaço na equipa? "Nada disso. Existe a ideia que o Fernando é apenas um jogador defensivo, até lhe chamam o polvo, mas ele é muito mais do que isso. Tanto o Fernando como o Souza gostam de ter a bola e, se lhes derem liberdade, gostam de aparecer em zonas de finalização", explicou.
in "ojogo.pt"
Sem comentários:
Enviar um comentário