quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Danilo: "Vejo todos os jogos para não chegar perdido"

Danilo nem aparenta ser o segundo reforço mais caro da história do FC Porto. Pouco antes de se apresentar no novo clube, ainda vai disputar, pelo Santos, aquele que poderá ser o seu sexto título em 2011. Um currículo que não o preenche, nem lhe tapa as vistas para o futuro. O novo clube entra-lhe pela televisão e isso ajuda-o a queimar etapas para que em Janeiro não perca tempo com adaptações. Afinal de contas, Danilo só está completo quando joga...


Já conquistou cinco títulos este ano (Sul-Americano sub-20, Paulistão, Libertadores, Mundial sub-20 e o Superclássico das Américas). A transferência para o FC Porto e o Mundial de clubes completam um ano perfeito?

Sem dúvida, digo que é até uma pena não estarmos a lutar pelo título brasileiro. Foi um ano brilhante, inesquecível para a minha carreira pelos títulos e pelas conquistas pessoais. Se terminar com o título Mundial, se não foi perfeito chegou bem perto.

Afirmou recentemente que escolheu o FC Porto porque foi mais "tranquilo para negociar". O que quis dizer com isso? Financeiramente foi muito mais rentável?

Financeiramente foi melhor, claro. Mas a questão é que a direcção do Santos se deu melhor com a do FC Porto. Eles negociaram de forma mais tranquila, não criaram impasse algum. Todos aceitaram as condições impostas por cada um, por isso foi mais tranquilo. A partir do momento em que houvesse atrito na negociação isso prejudicava-me dentro de campo. Eu precisava de tranquilidade, estava na selecção brasileira e bem na Libertadores. Foi uma proposta mais interessante.

Depois do Hulk, que já custou 19 milhões de euros, chega como o segundo jogador mais caro da história do FC Porto. Já sente alguma pressão por isso?

Não sinto pressão, mas responsabilidade. Independentemente dos valores, a exigência já era muito grande no Santos e continuará lá. É um clube de topo, acostumado a ganhar títulos. Numa transferência por estes valores precisarei de mostrar o meu trabalho, mas fico feliz porque foi uma valorização, um reconhecimento do que já fiz. Não sinto pressão, a responsabilidade é igual e vou chegar lá e provar porque pagaram tão alto por mim.

Acredita que no Benfica seria mais fácil ser titular? Eles procuravam há muito alguém que fizesse o lugar de Ramires...

Quando começámos a conversar era exactamente isso que eles diziam, que gostariam de um jogador para essa posição. Nessa altura, eu estava jogando no meio na Libertadores. Quando passei a falar com o FC Porto deixei isso de lado. Não me imagino mais no Benfica, só me vejo no FC Porto, vejo todos os jogos para não chegar perdido, analiso onde me posso encaixar melhor e o sistema de jogo.

Alex Sandro também foi um forte investimento do FC Porto e, até agora, jogou pouco. Conversou com ele? Mantém contacto?

Falo com ele sempre porque somos amigos. O que o prejudicou foi a lesão, claro. Também não é fácil chegar e jogar logo num grande clube. Na posição dele ainda há o Álvaro Pereira, um jogador com história, de selecção uruguaia, e fica mais complicado de jogar. Mas ele tem falado bem do clube e da cidade, está calmo. Tenho a certeza de que quando começar a jogar não sairá mais.

Vocês planeiam morar juntos inicialmente para facilitar a adaptação? Levará a família ou vai sozinho?

Ele já mora com a mulher, vou levar a minha família: mãe, pai, irmãos e a namorada. Pelo que converso com os jogadores que actuaram lá, é algo que faz falta. Morei em Santos sozinho e às vezes sente-se falta da família, de conversar com os pais e os irmãos. Sem dúvida que faz falta. Quero que tudo extracampo esteja muito bem para que eu possa render.

Imagino que já tenha falado com o Ibson sobre o FC Porto...

Procurei informações com o Ibson, ele teve os seus momentos lá e se tivesse tido muitas dificuldades diria. Ele só cita coisas positivas, fala bem da cidade, das pessoas, do clube e da organização, que acho que faz muita diferença para ganhar títulos. Isso também é visível aqui no Santos.

E quanto ao Léo e ao Alan Kardec, chegou a consultá-los por causa do Benfica ou quando teve a hipótese de optar por um dos dois? O que falaram?

Por incrível que pareça ambos falam muito bem do FC Porto. Quando estava a negociar com o Benfica às vezes puxava uma informação ou outra com o Léo. Ele sempre falou bem de Portugal, de Lisboa, mas também conhece a cidade do Porto. Pelas informações, creio que não terei dificuldades na adaptação.

Já conversou com Vítor Pereira? O que ele lhe transmitiu? Deu-lhe alguma garantia?

Não falei com ele, falo com o Antero [Henrique]. Estamos tranquilos porque a partir do momento em que aceitei permanecer no Santos não poderia ficar a meio termo, até pela recente chamada para a selecção principal. Senti muito cansaço, por jogar muitas vezes, mas em momento nenhum me colocaria à disposição para jogar mais ou menos. Acho que se me pedissem isso não aceitaria porque seria prejudicial para mim. Conversamos sobre a ansiedade de chegar logo no clube, de conhecer os companheiros.

Mas reconhece uma queda no seu rendimento?

Sem dúvida, sempre concordei. Houve um período em que fiquei a dever muito. Não joguei em sacrifício, mas estava muito cansado. O Santos também não tinha como me substituir. Fiquei abaixo do meu rendimento. Começaram a ser lançadas questões, sabia que isso ia acontecer até por já estar vendido, mas consegui recuperar, voltar à minha forma e a ter boas actuações. Não dá para pensar que seria tudo perfeito. Sabia que com um jogo mais ou menos já seria questionado.

O que acha que vai precisar de adaptar quando for para a Europa?

Fisicamente acho que é algo natural. A maioria dos jogadores que saem do Brasil ganham massa muscular, mas não me vejo muito abaixo dos jogadores de lá. O que vou ter de aprimorar é a marcação porque no Brasil damos mais espaços, chegamos depois. Pelo que tenho conversado com o Alex Sandro e observado do futebol europeu é uma marcação mais dura, então acho que aí vou ter dificuldades e precisarei de trabalhar bastante.

"Vou torcer contra o Zenit"

Jogar a Liga dos Campeões é algo que motiva qualquer sul-americano. Danilo não é excepção e espera que o jogo contra o Zenit apure os dragões para os oitavos-de-final. "Estarei a torcer pelo FC Porto contra o Zenit. Se me inscreverem, será uma experiência nova e muito boa, diferente do que é jogar uma Taça dos Libertadores. Espero adaptar-me depressa para ser opção e, claro, para ganhar títulos", conta este adepto que espera começar, o mais rapidamente possível, a justificar em campo o seu estatuto e o dinheiro que a SAD investiu no seu passe.

"Só prefiro jogar no meio porque marco mais golos"

No FC Porto, acha que encaixaria melhor a defesa-direito ou como médio?

É difícil dizer porque os jogadores têm muita qualidade e história no clube. Vou precisar de conquistar o meu espaço. A minha preferência passa por jogar no meio, sempre deixei isso bem claro, mas neste momento jogo como lateral no Santos e na selecção. Também acho que posso fazer um bom trabalho a jogar como lateral.

Chegou ao Santos como defesa. Por que mudou a sua preferência? Sente-se mais à vontade no meio-campo?

Antes tinha muitas dificuldades de actuar uns tempos no meio e depois voltar para a lateral. Sentia muito. Mas hoje alcancei uma maturidade de jogar uma partida no meio e outra na lateral sem sentir. Já me adapto rapidamente. Só prefiro jogar no meio porque marco mais golos, algo para o que tenho potencial e que me faz ficar mais à vontade. Tenho trabalhado muito na lateral, também, para ficar mais igual nas duas posições.

Está consciente de que pode não ser logo titular no FC Porto, até pelo facto de chegar a meio da época?

Tentei explicar isso algumas vezes, mas as pessoas interpretaram que eu queria sair logo do Santos. Na altura, limitei-me a dizer que é muito diferente chegar a um clube no começo da temporada ou a meio. Eles já terão um padrão de jogo, um esquema formado, e os jogadores já entendem a filosofia do treinador. Quem está no grupo desde o início tem uma grande vantagem.

Ficar até o fim do ano foi uma condição sua ou do Santos?

Foi a primeira coisa que o Santos impôs para poder negociar. Por isso, não tinha como contornar esta situação. Mas todos acataram e ficaram felizes.

"Barça? Não vamos mudar"

A final mais desejada no Mundial é Santos x Barcelona e você será muito exigido, pois terá o Messi ou o Villa pelo sector. O que imagina desse confronto? Como seria possível vencê-los?

Conversámos sobre isso e chegámos a conclusão de que não devemos mudar o nosso jeito de jogar. Sempre que mudamos, vamos mal. Precisamos marcar muito forte, um pouco mais atrás da linha da bola e sair rápido para surpreender. No jogo Milan e Barcelona, o Pato fez um golo exactamente assim. Quem tem a obrigação de marcar, tem que marcar forte, e os da frente fazerem os golos.


Ganso serviu de lição

Danilo garante que jamais forçou a saída do Santos. Admite que conversou com o presidente e que lhe agradaria jogar no FC Porto, mas que também estaria preparado para continuar no Brasil. Processos como o de Ganso, que arrastou a renovação e entrou em choque com o clube, servem de lição. "Temos de falar o mínimo possível", diz Danilo.

Carreira do anonimato ao estrelato

Danilo passou por vários clubes menores antes de chegar ao América de Minas Gerais, de onde saltou para o Santos. Numa equipa cheia de estrelas, pontifica Neymar, com quem Danilo tem uma relação muito próxima. Com 20 anos, apresenta já um currículo notável e está habituado a ganhar, uma virtude muito apreciada para os lados do Dragão.


in "ojogo.pt"

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