domingo, 6 de novembro de 2011

Não é preciso falar grosso para tirar o pio ao campeão

O murro de Vítor Pereira na mesa do Olival teve uma magnitude irrelevante para ecoar nas quatro paredes do balneário. Nem o FC Porto cresceu, nem o Olhanense se amedrontou e o único susto que se viu no Algarve foi mesmo o futebol do campeão. Pálido, amorfo, titubeante. Todo o oposto da equipa que o treinador pintou no seu discurso, o que nos remete para um dilema: ou o campeão perde cor do dia para a noite ou a crise existe mesmo.
Até o preto e o branco parecem oferecer demasiados tons para esta caricatura de futebol. Em vésperas de um Braga-Benfica e de uma paragem que vai congelar a Liga durante três semanas, viu-se em Olhão uma equipa a bater o dente e que nunca aqueceu o seu jogo. O nulo do resultado é o espelho da nulidade de ideias do dragão e, há que admiti-lo, das vistas curtas de um Olhanense que, nesta terra de cegos, só precisava de um olho para ser rei. Daúto festeja o pontinho, enquanto Vítor Pereira está nas mãos de um deslize do Benfica para manter viva uma das suas poucas verdades que ainda não caiu por terra e que lhe permite gritar, por ora, que os outros não estão melhores.
E que mal está este FC Porto, que até podia aproveitar o empurrãozinho de Maurício para embalar para uma vitória confortável, como afinal tinham sido as suas últimas neste José Arcanjo (3-0 nos últimos dois anos). Fabiano levantou a voz a Hulk e, abafado o melhor jogador do campeão, toda a equipa piou fininho. Bastava ao Olhanense marcar com as mãos nos bolsos, tal a lentidão de processos dos portistas, cujo grito de revolta esbarrava em ideias confusas e em ataques mortos à nascença e de pais incógnitos.
Como Nuno Piloto e Cauê ataram cordas a Moutinho e Belluschi, o dragão teve de rever o seu processo de construção, mas Álvaro Pereira era tenrinho para Mexer e Salvador Agra e Maicon, inventado à direita, confundia cruzamentos com alívios de cada vez que passava o meio-campo. Autoritários, André Pinto e Maurício pareciam os reis do recreio perante o imberbe Kléber e só mesmo Hulk ou James podiam dar um safanão no jogo. O sólido Olhanense nunca cairia aos pontos, pelo que só uma esquerda inspirada poderia ditar o vencedor por KO, mas os pesos pesados do dragão andam encostados às cordas enquanto o treinador grita, do lado de fora, que é o adversário quem está a espernear.
Só o intervalo pareceu ser bom conselheiro para uma equipa que, verdade seja dita, entrou com atitude em ambas as partes. O problema é que o campeonato não se ganha com a Legião da Boa Vontade e, bem espremidinho, o futebol portista vale muito pouco e perde o prazo num abrir e fechar de olhos. A bola queima e as ideias vindas do banco só confundem, ora pedindo à equipa para projectar os laterais e obrigar o Olhanense a alargar para abrir espaços, ora afunilando tudo outra vez com mais dois médios para o barulho e os centrais a subirem para um chuveirinho que fizesse a vitória cair do céu.
Sim, o FC Porto quis ganhar o jogo. Inquestionável. Mas uma equipa é julgada por factos e não por intenções e as ocorrências são já demasiado flagrantes para que possa colher a tese de que está tudo bem. Por muito que as épocas não se repitam, é inegável que o dragão recuou do 80 ao 8 depois de Vítor Pereira ter resumido a sua tarefa, no início da época, a uma frase lacónica: "O meu papel é não estragar o talento que tenho em mãos".

in "ojogo.pt"

Sem comentários: