sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O regresso faz-se com títulos

"Os únicos que não se divertem são os guarda-redes"

O único guarda-redes no grupo de 20 ex-dragões que hoje inicia a Liga Fertibéria fala de um pedestal quando confrontado com erros do passado: "Nos momentos mais importantes, nunca falhei."

Porque é que aceitou este desafio? Achou que ainda tinha poucos títulos?
Foi pelos quatro anos de contrato [risos]. Acima de tudo, pelo gosto que tenho pelo clube e pelas pessoas que fizeram parte da minha vida desportiva. É um privilégio voltar a jogar pelo FC Porto, mas espero divertir-me.

Continua a jogar?
Sim, entre amigos, mas abandonei a baliza por completo. Sou o pinheiro com que qualquer equipa sonharia, não me mexo para nada, mas estou lá na frente.

Porque é que abandonou a baliza?
Já lá passei muitos anos, é um ciclo que terminou. Quero divertir-me e até tenho uma boa média de golos. É raro o guarda-redes que não sonhe ser avançado, porque os conhecemos muito bem, sabemos como eles funcionam, como se movimentam... No campo, tento fazer aquilo que não gostava que me fizessem a mim.

Houve algum ponta-de-lança que fosse capaz de o surpreender?
O estudo era tão pormenorizado que era raro ser surpreendido. No início da carreira apanhei com o Van Basten, por exemplo.

Sendo dos mais novos da equipa, vai aproveitar para alijar responsabilidades?
Nestes jogos, assim como nos jogos de estrelas que tenho feito a nível internacional, os únicos que não se divertem são os guarda-redes, porque nós temos de nos atirar para o chão, o que é logo um problema, e se as bolas começam a entrar sobra sempre para nós. Se correr mal, é para mim que vão olhar.

Tendo tido uma carreira com tantos títulos, surpreende-o que se fale de momentos negativos? Pergunto-o por que ainda recentemente se recuperou, em Espanha, a história de alguns golos que sofreu no Barcelona...
Não acho que tenha tido uma experiência infeliz em Barcelona. Tive lesões, estava longe do meu país e da minha gente e aí sim tive os meus problemas. De qualquer forma, foi algo que me enriqueceu, não me limitei a jogar no Barça, fiz parte da sua história e ganhei cinco títulos.

Por isso mesmo, custa-lhe que se fale, por exemplo, dos 0-4 com o Dínamo de Kiev?
Nos momentos mais importantes da minha carreira, e eles têm a ver com finais e com decisões de títulos, posso afirmar que nunca falhei. Ninguém se lembra de erros meus que ditaram a perda de títulos, quando foi preciso marcar a diferença, não falhei. Dei "frangos", mas isso para mim...

Mas ainda lhe ligam muito de Espanha?
Sim, ainda esta semana me ligaram. Interessam-se por mim, querem saber o que faço, ouvir a minha opinião. Quando há um Real Madrid-Barcelona, o telefone não pára de tocar.

Como se posiciona face a um Real Madrid-Barcelona?
Respeito muito Barcelona, mas sei ser justo com quem me ajudou. Não escondo que acho que José Mourinho é o melhor treinador do mundo, que acho que Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo, e que espero que o Real Madrid seja campeão. Disse isto para uma rádio da Catalunha, mas assumo o que penso.

Que guarda-redes gosta de ver hoje?
O guarda-redes tem sempre de evoluir. Os melhores são Petr Cech, Casillas, Buffon, Júlio César... Não sei quem é o melhor.

Há dias saiu um ranking dos últimos 25 anos e o Vítor seria o 15º a nível internacional...
Na minha opinião, ninguém estaria acima de mim. Tinha uma confiança ilimitada nas minhas capacidades, sempre acreditei que era o melhor. Não sei que parâmetros foram tidos em conta. Se fosse pelos títulos, de certeza que estava bem mais acima no ranking mundial, estaria nos cinco primeiros, já que a nível nacional penso que não há dúvidas e digo que me sinto o melhor. Vivemos num país em que só se dá valor a título póstumo, aí sim é que o elogio é veemente e convicto. É uma cultura, gostava que ela mudasse, para se ser justo não é preciso ser a título póstumo. Só quando Damas e Bento faleceram é que disseram que eles eram os maiores de todos os tempos, acho que mereciam essa homenagem em vida. Lido bem com a cultura portuguesa, mas é uma constatação.

VÍTOR BAÍA
IDADE 42 anos
CARREIRA NO FC PORTO De 1988 a 1996 e de 1999 a 2007
NÚMEROS NO CAMPEONATO
445 jogos
TÍTULOS NO FC PORTO
1 Taça Intercontinental, 1 Liga dos Campeões, 1 Taça UEFA, 10 Campeonatos Nacionais, 5 Taças de Portugal, 9 Supertaças Nacionais

"Couto vai ter sucesso"

O Fernando Couto abraçou um projecto um pouco raro, aceitando ser treinador num campeonato indiano. Admite dar a cara por algo tão excêntrico?
Estou vocacionado para a direcção desportiva, mas não sei o dia de amanhã. De qualquer forma, o meu pensamento continua igual. O Fernando, tendo sido director-desportivo do Braga, tinha o sonho de ser treinador e é legítimo que siga aquilo que o preenche e lhe dá gozo. Estou convencido de que terá uma carreira extraordinária e de sucesso, tal como teve enquanto jogador.

Assume o desejo de ser director-desportivo

Licenciado em Gestão Desportiva, Vítor Baía nunca escondeu que deseja exercer um cargo na área da sua formação. Teve propostas, mas não se sentiu seduzido: "Recebi muitos convites para ser director-desportivo no estrangeiro, mas não eram os projectos que eu gostaria de abraçar." Baía é frontal nas metas que tem traçadas, ele que deu a cara por Fernando Gomes na corrida à FPF, mas que não espera retribuições: "Fui mandatário da candidatura de Fernando Gomes por amizade, não me foi prometido nada. Se acharem que posso ser útil e para um cargo que me preencha, estou disponível." Enquanto o convite não surge, tem o tempo preenchido. "Continuo dedicado à minha Fundação e isso exige a maior parte do meu tempo. É algo muito meritório e de que me orgulho", conclui.


Ninguém terá dúvidas em afirmar que a relação de Lucho com o FC Porto tem algo de especial e, aparentemente, este reencontro tem tudo para dar certo, mas também tem o seu quê de inédito, ou não fosse Lucho o primeiro estrangeiro a regressar depois de uma primeira passagem pelo clube. Pois é, nunca aconteceu na história do FC Porto, que conta apenas alguns episódios de regressos a casa de jogadores portugueses - detalhado no quadro em cima.
Vítor Baía terá sido o caso mais mediático e capaz de proporcionar alguns pontos de contacto com Lucho, até pelo facto de também ter prescindido de dinheiro para regressar ao FC Porto. Ontem, o antigo guarda-redes falou da contratação do argentino a O JOGO em tom naturalmente elogioso. "Fiquei muito feliz, porque o Lucho é uma pessoa extraordinária. Apesar de ter vindo de outra cultura e de outro país, soube absorver a cultura do FC Porto e ter um comportamento, entrega e dedicação acima do normal para quem vem de outra realidade", contou Vítor Baía, que não parou nos elogios ao internacional argentino. "Por isso é que faz a diferença, por isso é que é acarinhado e por isso é que as pessoas gostam dele. É um como nós e parece que nasceu neste clube. Por isso é que teve esta recepção e merece-a, porque é um extraordinário jogador e uma pessoa fantástica", reforçou.
A verdade é que Lucho é apenas o quarto jogador da história que regressa durante o mês de Janeiro, mas pode ser também o primeiro a não ser campeão nestas circunstâncias. Ou seja, Secretário, Vítor Baía e Sérgio Conceição também voltaram ao FC Porto durante a reabertura de mercado de Inverno e foram campeões logo no Verão seguinte. Lucho parte em desvantagem, mais precisamente com uma desvantagem de cinco pontos para o Benfica que, não sendo irrecuperável, torna a missão bem mais complicada. Mas há muito mais do que isso para contar. É que de todos os jogadores que regressaram, apenas um não conseguiu ser campeão na segunda passagem pelo FC Porto. Foi Domingos, que ganhou "apenas" uma Taça e uma Supertaça nos dois anos que se seguiram.

Regresso só pela certa

As excepções apenas confirmam a regra: o FC Porto não é um clube que privilegie o reencontro com o passado. Quem voltou fê-lo num cenário de firme convicção de que teria algo a acrescentar. Nuno parece desmentir a máxima, mas desempenhava um papel muito importante no balneário. Já Postiga acusou o peso de um negócio avultado, mas foi importante na conquista da Liga 2006/07. Sérgio Conceição permitiu a Mourinho gerir esforços antes de ganhar campeonato e Champions.

in "ojogo.pt"

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