domingo, 11 de março de 2012

O apagão depois da Luz

Os mais apressados podem sempre avançar já para a página do Tribunal, porque há razões de sobra para querer passar os olhos pelo que dizem os especialistas em arbitragem: de penáltis reclamados a foras de jogo contestados, não faltam lances duvidosos para discutir. Dito isto, que pode até nem ser pouco, convém acrescentar outras coisas à explicação de um empate que impediu o FC Porto de reforçar o fôlego da última jornada, quanto mais não seja porque o Braga já lhe ganhou dois pontos. São coisas simples, a começar pelo ritmo. Ou pela falta dele.
À velocidade da Luz, a tal com que surpreendera o Benfica logo a abrir o último clássico, o FC Porto contrapôs desta vez uma versão sem pilhas. O primeiro problema de Vítor Pereira poderá ter sido mesmo esse: não há Benfica todas as semanas e, à falta desse suplemento vitamínico, não foi encontrada alternativa capaz de estimular uma entrada mais espevitada. Não é de agora, apesar de o terem disfarçado bem na Luz, que os dragões começam os jogos com a aparente missão de adormecer os adversários e acabam eles próprios embalados numa soneira contagiante. De resto, basta espreitar os golos marcados pelo FC Porto neste campeonato para se reforçar a ideia de que esta é uma equipa que gosta de adiar os problemas para a segunda parte e, mais curioso ainda, para o último quarto de hora dos jogos. Uma opção perigosa.
Mantendo o desenho do costume, Vítor Pereira trocou três peças: devolveu Sapunaru à direita, desviou Maicon para o centro da defesa e apostou em James de início. No meio, Fernando e João Moutinho reforçaram a tendência para se aproximarem um do outro e para se distanciarem de Lucho, elemento que continua algo perdido nas costas de Janko. Moutinho e Fernando mexem-se muito, é verdade, mas não disfarçam tudo. A Académica não teve dificuldade em detetar essa zona vazia, começando por encravar aí a fluidez de jogo ao adversário: David Simão, Adrien e Diogo Melo ganharam muitas vezes vantagem a Moutinho e Fernando, impedindo que os dois arrancassem para as transições habituais. O futebol portista soluçava, com algumas agravantes pelo meio: Fernando lesionou-se, tornando ainda mais visível o tal problema ao meio, e os desequilibradores (Álvaro Pereira, James ou Hulk) também não estavam particularmente inspirados. Pior ainda: a defesa fraquejou num dos ataques organizados da Académica, estendendo uma passadeira a Saulo e deixando Edinho com caminho aberto para a baliza. A desvantagem chegava assim, a seis minutos do intervalo.
Já com uma substituição queimada, Vítor Pereira teve de mexer outra vez por razões físicas, ainda que todos adivinhassem que isso lhe passaria pela cabeça de qualquer maneira: trocou Sapunaru por Djalma, procurando que o angolano cumprisse o habitual papel de dois em um. Pedro Emanuel preferiu esperar, e não tinha razões para apressar nada.
Mais veloz, ainda que trapalhão, o FC Porto procurava então empurrar o adversário para trás, mas a área continuava a ser um labirinto sem saída. Janko era mal solicitado; James, Hulk e Lucho não tinham soluções para chegar a Peiser, protegido por um anjo da guarda chamado Pape Sow. Mas, agora sim, os dragões estavam com pressa. E Vítor Pereira também. Inspirado pelo que fizera na Luz, tirou da manga Kléber e do jogo Rolando; o central não gostou e barafustou. Com o adversário inclinado para a frente, Pedro Emanuel respondeu cautelosamente. Preferiu primeiro dar consistência ao apostar em Danilo, beneficiando do desequilíbrio natural que a opção de risco de Vítor Pereira lhe oferecia. Mesmo enclausurada pela pressão, a Académica conseguiu encontrar o caminho da baliza de Helton, e fê-lo com algum perigo. Do outro lado, apesar da vontade de anular a desvantagem, a verdade é que a entrada de Kléber não significou grande alternativa para chegar ao golo; Hulk e James continuavam a tentar quase sempre sozinhos. E um livre de Moutinho esbarrou no ferro.
Já quase em desespero de causa do FC Porto, Pape Sow, que tinha estado sempre no caminho da bola, voltou a estar. Mas com a mão. O árbitro viu, Hulk não falhou.
O empate pode até ter sido um mal menor para os portistas. Mas foi um mal...

in "ojogo.pt"

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