sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sp. Braga-F.C. Porto, 2-1 (crónica)


vendetta estava agendada há uma semana. À moda de Don Vito Corleone. Impiedosa, maquiavélica, desenhada ao milímetro para apanhar o dragão despercebido. Mesmo perto do final da história, como se quer e exige. Bem ao estilo da trama desenhada por Puzo e levada por Coppola à Sétima Arte. 


Éder emergiu nas cenas decisivas, em mais uma representação meritória. Há Sp. Braga na taça. A expulsão imprevista de Castro, a 20 minutos dos 90, apressou a hecatombe do dragão. O autogolo de Danilo, nos instantes seguintes, mais não foi do que a consequência normal nesta lógica de causa e efeito.

Fragilizado, já numa fase de súplica, o F.C. Porto foi esquartejado e atirado borda fora. Éder, maligno na área do gang inimigo, tomou conta da ocorrência. O avançado desfez a ambição daquele que ainda há poucos dias saíra a sorrir de território fortemente vigiado. 

O duelo foi duro, muitas vezes rude, agreste. Teve mais Porto, muito mais, numa fase inicial, até ao intervalo, e viu uma reação do Sp. Braga a sugerir indignação e orgulho ferido.

A falta que Jackson faz

Essa indignação, aliás, tinha razão de ser. Afinal, o F.C. Porto chegava com sete mudanças no bando inicial e, mesmo assim, geria a bola e o jogo como queria. Havia um tipo de pânico incompreensível nos olhos dos arsenalistas, bem espelhado no lance do golo azul e branco. 

Livre de James Rodríguez bem cobrado, Nuno André Coelho plenamente perdido na macação e Eliaquim Mangala a cabecear com estilo, como que diz aqui mando eu

Os elementos da retaguarda portista chegavam e sobravam para o que se impunha. Defour e Castro mostravam uma intensidade interessante, James impunha o respeito que se deve a um senhor do jogo, Otamendi e Abdoulaye anulavam toda e qualquer espasmo revolucionário. 

A franja militarizada do dragão aparentava um controlo e superioridade incomum. Na frente, porém, era óbvia e natural a falta de Jackson. Kléber voltou a falhar rotundamente. Há uma diferença gritante entre um assassino impiedoso e um homicida educado. A cara de bom rapaz do brasileiro não ajuda nada. 

O ultimato de Peseiro

Para tudo há limites e José Peseiro terá deixado um ultimato nas cabines. A mensagem passou. O Sp. Braga passou a ter a virtude de alternar entre a velocidade e a pausa, entre o atrevimento e a prudência. Vítor Pereira percebeu a mudança de paradigma, lançou Lucho e Danilo para pacificar as conversações, mas aí já o Sp. Braga se julgava dono do jogo.

O tal vermelho a Castro, talvez forçado, virou o tabuleiro ao contrário. O autogolo de Danilo e o golaço de Éder finalizaram a discórdia com estrondo. 

Ao lado de tudo isto, Olegário Benquerença. Mais do que ter prejudicado este ou aquele, prejudicou o jogo. A forma como gere a amostragem de amarelos é incompreensível. Às vezes permissivo, outras duríssimo, não dá para entender. 

Mal ao não assinalar um penálti sobre Viana, bem a anular um golo a Custódio. Ainda assim, a vendetta foi muito mais do que lapsos de arbitragem e erros do dragão. Foi, acima de tudo, a recuperação de um poder que se julgava perdido em Braga. À moda de Don Vito Corleone. 


in "maisfutebol.iol.pt"

1 comentário:

dragao vila pouca disse...

No segundo jogo de um mini-ciclo de alto grau de dificuldade e que acaba terça-feira em Paris, frente ao PSG, Vítor Pereira levou a cabo uma autêntica revolução na equipa. Da equipa que esteve no Axa no domingo passado, apenas Otamendi, Mangala - mas não a central, na lateral esquerda -, Fernando e James, entraram de início no jogo de hoje.

A primeira-parte pode ser dividida em duas partes: até cerca dos 25 minutos, viu-se um Porto de muito boa qualidade, com e sem bola. Embora sendo uma equipa mais de expectativa que de vocação atacante, com bola, o conjunto de Vítor Pereira foi competente em posse, circulou bem e procurou atacar; sem bola, estava sempre bem organizado, pressionava alto, nunca permitiu grandes veleidades à equipa bracarense. Não admirou ninguém que o F.C.Porto, no seu melhor período, tenha chegado à vantagem, por Mangala, num excelente cabeceamento, após livre muito bem marcado por James. A partir dos dos 25 minutos a equipa portista foi subindo menos, perdendo capacidade de ter bola e apesar de manter a organização, já não foi tão pressionante, aproveitando o Braga para crescer, criar algum perigo, embora, não muito.
Resumindo e tudo somado, vantagem que se aceitava do F.C.Porto.
Dois cartões amarelos, Miguel Lopes e Castro, o do médio, viria a ser influente na segunda-parte.

Se nos últimos 20 minutos da primeira-parte já se notava que o F.C.Porto não tinha a mesma capacidade de controlar, na segunda isso notou-se ainda mais. A equipa foi baixando, perdendo organização, qualidade e quando Castro que já tinha amarelo, foi expulso - como é que um jogador que joga nos limites e já tem amarelo, não sai ao intervalo? - pior ainda. Como logo a seguir o Braga, num auto-golo de Danilo empatou, o equipa portista abalou, sofreu o segundo e mesmo tendo reagido, não conseguiu empatar e está fora da Taça. Mesmo que analisando os 90 minutos, o prolongamento seria mais justo.
Não falo do árbitro. Nem de Kléber.

Notas finais:
Como as coisas tinham corrido bem na Madeira, frente ao Nacional, na eliminatória anterior, também com quase a totalidade dos habituais a serem poupados; porque houve jogadores que no jogo de domingo passado tinham dado mostras de défice físico; temos um jogo importante na terça-feira; não temos um plantel assim tão rico em alternativas; temos de de gerir, poupar, rodar jogadores. Dito isto, aceito a opção de Vítor Pereira. Mas atendendo ao valor do Braga, bem demonstrado no jogo do campeonato e ao que estava em jogo - ao contrário do jogo de terça-feira, este era decisivo -, era preciso poupar tanto?

Um dos objectivos da época está perdido. Não gostamos nada de perder, estamos frustrados e zangados. Mas aproveitemos a derrota para cair na real, este passo atrás, para dar dois à frente. Equipa invencível; ao nível do Porto de Mourinho; recorde para aqui e recorde para acolá: etc., era o que já se dizia, numa conversa para embalar, claramente exagerada. Temos sido competentes, equilibrados, colectivamente fortes, a equipa está unida e é solidária, confiante, mas se na época passada nunca desanimei, mesmo quando a chama era pouca, esta época, apesar de reconhecer as melhorias, notórias, nunca achei razão para embandeirar em arco, nunca me deixei embalar pelo canto de certas sereias, algumas cínicas e hipócritas.

Espero que no jogo da Champions, liberto dos rótulos de "super-equipa",o F.C.Porto mostre a sua qualidade.

Abraço