13 de Dezembro de 1987. Foi há 25 anos que o FC Porto conquistou pela primeira vez a Taça Intercontinental. Num dia de nevão na capital japonesa e com uma diferença de nove horas, o médico Domingos Gomes revela os segredos da programação do jogo, contra a vontade do treinador Tomislav Ivic.

Há 25 anos, sabia-se muito pouco sobre o "jet-lag" aplicado ao desporto de alta competição. E o especialista baseou-se na medicina aeroespacial para elaborar um plano de trabalho até à partida para Tóquio. "Elaborei o plano e entreguei-o a Pinto da Costa e a Teles Roxo (chefe do departamento de futebol). Ambos acharam que o plano era para executar. Mas claro que nesse tempo houve quem entendesse que aquilo era um 'show-off' barato, ou uma brincadeira", recorda Domingos Gomes.
Treinos às 5 da manhã
O programa era para cumprir três a quatro dias antes da viagem com "treinos progressivamente mais cedo. Começamos às 5 da manhã. E era tudo diferente. Da alimentação ao horário de descanso dos jogadores. E quando apresentámos ao treinador Tomislav Ivic essa programação, ele atirou tudo para o chão”, manifestando dessa forma o desacordo. "A partir daí não houve mais diálogo do departamento médico com Ivic. Prevaleceu a coragem e determinação de Teles Roxo e Pinto da Costa e o programa cumpriu-se", revela o médico.
"Se o FC Porto perdesse a culpa seria do departamento médico"
O FC Porto venceu na final o Peñarol por 2-1, após prolongamento. Gomes e Madjer apontaram os golos. "O jogo realizou-se em condições muito difíceis. Os jogadores estavam entregues à neve e a um terreno sem aderência. E todos tiveram que suportar a dor e o sofrimento atroz que o frio provocava no corpo. Foi esse o momento da glória dessa equipa do FC Porto", considera Domingos Gomes.
Quando o jogo terminou, "como médico responsável pelo departamento médico, a minha reacção foi uma descarga brutal de choro. Se o resultado fosse negativo, ainda hoje estaria a dizer-se que a culpa foi do departamento médico. O Porto ganhou mas os responsáveis foram quem joga e treina. Mas tenho a certeza que se não fizesse aquele programa haveria consequências muito complexas relativamente ao equilíbrio psíquico, físico e normal daqueles atletas", conclui.
Domingos Gomes é especialista em Medicina do Desporto. Foi médico do FC Porto desde Maio de 1976, permanecendo mais de 20 anos nessa função.
in "rr.pt"
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