quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Tóquio, 25 anos: as memórias de Madjer e Gomes


Taça Intercontinental de 1987A primeira vitória do FC Porto na Taça Intercontinental foi há 25 anos. Na neve de Tóquio, frente ao Peñarol. A recordação desse momento pela voz dos protagonistas, num artigo originalmente publicado em dezembro de 2004, quando o FC Porto jogou a sua segunda Intercontinental, a última edição naquele formato. 

42 minutos. Jaime Magalhães recupera a bola a meio-campo e solicita Madjer de imediato na direita, que finta Dominguez. Sem perder tempo, remata cruzado, a bola fica parada quase em cima da linha de baliza e surge Fernando Gomes, que se antecipa a Herrera e faz o 1-0.

Foi este o primeiro momento de triunfo registado a 13 de Dezembro de 1987, no Estádio Olímpico de Tóquio, sob um incessante nevão. O F.C. Porto ainda não era «campeão do mundo», como lhe chamariam na altura, porque os uruguaios do Peñarol viriam a empatar aos 80 minutos, por Viera, mas o tal golo de Gomes serviu para provar que era possível jogar naquele terreno impraticável, um lamaçal gelado, e vencer. Comprovando esse facto, já durante a segunda parte do prolongamento, Madjer pegou na bola amarela e despachou-a para o fundo da baliza de Pereira, fazendo-lhe um chapéu a mais de trinta metros da baliza.

Os heróis da altura mantêm as memórias frescas. «Lembro-me muito bem do jogo. O clima era péssimo, o campo impraticável, por isso as condições eram terríveis e ainda havia o Peñarol, que era uma belíssima equipa. A nossa única vontade era vencer e felizmente conseguimos. O Gomes marcou o primeiro golo, após uma jogada minha na direita; os uruguaios empataram e, finalmente, no prolongamento o Sousa recuperou a bola, chutou-a para a frente, o defesa não consegue controlar e eu venho de trás. Percebendo que o guarda-redes estava fora da baliza, chutei a bola mais ou menos do meio-campo, e esta, quando bateu no relvado, rolou muito levemente e houve algum suspense, mas acabaria por entrar», recorda Madjer ao Maisfutebol.

Para o argelino maravilhoso, este foi um dos melhores momentos da sua carreira. Não houve neve suficiente que o travasse: «Na altura até acho que não tivemos muitos problemas, porque enquanto estávamos a correr ficávamos quentinhos. O pior foi quando o jogo acabou, porque realmente estava muito frio, o que já nem interessava, porque éramos campeões».

Orgulho de «capitão»

Fernando Gomes, o bi-bota de ouro, esteve igualmente em destaque naquela madrugada louca de Tóquio. «Sabe, nunca cheguei a ver o jogo pela televisão. Até hoje apenas guardo as memórias daquilo que senti dentro de campo», confessa, conseguindo provar com toda a certeza o que tinha dito ao explicar minuciosamente o golo que marcou.

O ex-avançado resume os sentimentos em algumas palavras elogiosas para com todos os seus colegas da altura. «Tenho de realçar o comportamento dos jogadores sob aquelas condições. Foi o jogo mais difícil que tive na minha carreira, como com certeza o foi para todos os meus colegas. Mas valeu a pena, porque continuamos a ser a única equipa portuguesa com esse título. Fiquei muito feliz, porque para além de ter marcado o golo, fui o capitão e levantei a taça», abordou. De facto, Gomes levantou a Intercontinental, enquanto Lima Pereira se encarregou da Toyota Cup e Madjer da chave dourada do automóvel, prémio por ter sido o melhor jogador em campo.

FICHA DO JOGO

F.C. PORTO: Mlynarczyk; João Pinto, Geraldão, Lima Pereira e Inácio; Jaime Magalhães, André, Rui Barros (Quim, 61m) e Sousa; Madjer e Gomes.
Treinador: Tomislav Ivic

PEÑAROL: Pereira; Herrera (Gonçalves, 95m), Rotti, Trasante e Dominguez; Perdomo, Vidal, Da Silva e Cabrera (Matosos, 46m); Viera e Aguirre.
Treinador: Óscar Tabarez
Marcadores: 1-0, Gomes, aos 42m; 1-1, Viera, aos 80m; 2-1, Madjer, aos 109m.

Tóquio, 25 anos: na neve de manga curta para mostrar força

As memórias de Geraldão, dos treinos secretos nas Antas às queimaduras debaixo do chuveiro.


São 25 anos desde aquela final gelada de Tóquio mas ficaram várias histórias por contar. O   Porto venceu o Peñarol por 2-1 conquistou a primeira Taça Intercontinental. Gomes e Madjer, autores dos golos portistas, já recordaram esses momentos. Sobram episódios que Geraldão desvenda através do Maisfutebol.

Geraldo Dutra Pereira, brasileiro de Minas Gerais, aterrou em Portugal no verão de 1987. Venceu a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental, mais campeonato e taça. Uma época inesquecível.

A preparação para a viagem intercontinental teve capítulos deliciosos. Desde logo, pelos treinos de madrugada no Estádio das Antas. Uma forma de adaptar o plantel ao fuso horário do Japão.

«Lembro-me que um mês antes da viagem, já estávamos a fazer treinos secretos no Estádio das Antas. Começavam à meia-noite, uma, duas da manhã, e acabavam quanto fosse preciso. Estava há alguns meses em Portugal e percebia logo ali a organização do F.C. Porto, fantástica», recorda Geraldão.

Seguiu-se uma viagem «ao contrário». «Fomos ao contrário para o Japão. Tivemos de fazer uma escala no Alasca e lá chegámos. É verdade que havia alguma tensão, brigas internas, mas isso sempre ficou no balneário. Não vou ser eu a revelar. Só posso dizer que, para sermos campeões, sofremos muito (risos).»

Geraldão enaltece o valor do adversário, que chegara ao destino dias antes. A preparação seria essencial e o F.C. Porto parecia estar em desvantagem, nesse aspecto. «O Peñarol era melhor que algumas equipas argentinas da época. É normal desvalorizar as equipas sul-americanas, mas esquecem-se que elas chegam a essse jogos no final da sua temporada, portanto preparam-se de forma muito intensa e exclusiva.»

Porto decide jogar de manga curta!

O Peñarol não foi, contudo, o maior obstáculo. Para um brasileiro, então, o frio e a neve inquietavam. Sobretudo, após uma decisão de Pinto da Costa e João Pinto.

«O presidente e o capitão decidiram que íamos jogar de manga curta, para não demonstrar fraqueza. Foi uma decisão que o grupo aceitou e lá fomos nós!»

O antigo central não esquece. Diz, por iniciativa própria, todo o onze do F.C. Porto desse encontro. Resume com entusiasmo: «Era uma equipa de sonho, fantástica. Para além disso, tinha uma retaguarda tremenda. Foi aí que aprendi muito sobre estruturas profissionais de futebol.»

«Durante o jogo, claro que sentimos dificuldades. Jogámos de manga curta mas tínhamos plásticos por baixo, tudo para tentar combater o frio. Foi uma batalha muito dura. E sentimos isso na pele no final», revela.

Queimaduras debaixo do chuveiro

Na pele? Literalmente. «Após o jogo, já nos balneários, fomos logo tomar banho. Mas rodámos as torneiras de água quente e entrámos logo. Ainda me lembro do Rodolfo Moura a aperceber-se disso e a mandar toda a gente sair, mas para alguns já era tarde. Eu e outros ficámos com queimaduras no corpo.»

«Enfim, tudo valeu a pena. Todos os anos, por esta altura, lembro-me dessa conquista na Intercontinental. Tenho uma bandeira do F.C. Porto na minha fazenda e o clube deixou muitas saudades», acrescenta o brasileiro.

Geraldão, aos 49 anos, divide o tempo entre a sua fazenda em Governador Valadares e o cargo de gerente de futebol do Democrata de Valadares, clube local. Mas a ligação a Portugal perdura até aos dias de hoje.

«Tenho um andar no Porto e costumo ir aí. Não vou há dois anos, mas já fui uma vez com o meu filho ao Estádio do Dragão. Fui muito bem recebido, como sempre. Levo o F.C. Porto no coração», remata, em entrevista ao Maisfutebol.


in "maisfutebol.iol.pt"

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