quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

José Maria Pedroto. Trinta anos do adeus


A 7 de Janeiro de 1985, depois de ter visto o resumo do 1-0 do FCP em Faro para a Taça no Domingo Desportivo, o treinador do Porto deixa-nos para sempre

"Hoje, às 10 e 30, na sua residência no Porto, faleceu José Maria Pedroto, antigo internacional e o técnico de maior prestígio do futebol português. Uma doença que se arrastou por longos meses (e que o forçou a intervenções cirúrgicas em Londres) acabou por atirá-lo irremediavelmente para o leito, onde já apenas combatia a morte à custa de uma cuidada assistência médica e de grande carinho dos familiares e da direcção do FC Porto. Pesava apenas 38 quilos e alimentava-se a soro. Ao ter conhecimento da sua morte, o general Ramalho Eanes enviou um telegrama de pêsames."

A notícia do "Diário de Lisboa" não colhe totalmente de surpresa quem acompanha de perto as tardes desportivas, porque Pedroto já não treina o Porto há meses e meses (é o adjunto António Morais quem está, por exemplo, na final da Taça das Taças-84), mas é uma notícia brutal, daquelas que unem o país. A dor faz isso, o luto idem. Pedroto é uma figura irrepetível, todos o sabem.

Como futebolista, é bicampeão nacional pelo Porto em 1956 e 1959. Como treinador, repete a proeza em 1978 e 1979. É o Zé do Boné, alimentador de ódios em Lisboa na guerra constante contra o poder centralizado da capital. Nascido a 21 de Outubro de 1928 em Almacave (Lamego), vai morar para o Porto aos sete anos, levado pelo pai, militar e colocado num quartel na Invicta. É aí que começa a dar os primeiros pontapés na bola, a tentar imitar o seu ídolo de então, um fabuloso jogador do FC Porto chamado Pinga.

Depois, aos dez anos, muda-se para Pedras Rubras, onde funda o FC Pedras Rubras e se multiplica nas funções de presidente e capitão da equipa. Aos 18 entra nos juniores do Leixões, como médio.

O seu talento é visível com um toque na bola, mas Pedroto gosta de dar mais, muito mais. Tanto assim é que, certa vez, frente ao Académico do Porto, pede a bola ao seu guarda-redes e vai por ali fora a driblar toda a gente até chegar à linha da outra baliza. Aí, marca de calcanhar, depois de puxar os calções para cima e de se pentear. É levado em ombros pelos colegas, mas o seu treinador (Armando Martins) dá-lhe uma descompostura tão grande sobre o futebol colectivo, e não individual, que Pedroto nunca mais repete a cena.

O serviço militar em Tavira obriga-o a continuar a carreira no Algarve. Escolhe o Lusitano de Vila Real de Santo António e dá nas vistas com golo ao Sporting, que Azevedo, o inimitável guarda-redes leonino, sempre considera um dos melhores da carreira. Na época seguinte, o Lusitano desce de divisão e Pedroto, já sem serviço militar por cumprir e sem ordenado, assina pelo Belenenses, onde chega à selecção nacional. Segue-se o FC Porto. Nas Antas prolonga a carreira até aos 31 anos, com um total de 35 golos em 178 jogos, o último dos quais a 29 de Maio de 1960, no Barreiro (0-2 com CUF).


Arrisca então a carreira de treinador, de sucesso mais assinalável ainda. Para a história, os tais dois campeonatos pelo Porto (acaba em 1978 com uma seca de 19 anos) e as nove finais da Taça de Portugal (recorde), com mais derrotas (5) que vitórias (4), por Vitória de Setúbal, Boavista e Porto. Só mais um dado estatístico: Pedroto é o único tricampeão da Taça. Ora veja lá este extraordinário trajecto: Boavista-75 (Benfica, 2-1), Boavista-76 (V. Guimarães, 2-1) e Porto-77 (Braga, 1-0). É de mestre. É Pedroto.

in "ionline.pt"

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