sexta-feira, 13 de agosto de 2010

André Villas-Boas: “Defendo os meus e não pactuo com disparates"


O treinador do FC Porto voltou a apontar o dedo aos que desconfiaram da equipa, mas recusa ficar à sombra da vitória na Supertaça.


Está à espera de um FC Porto tão forte como o da Supertaça?

Sim. É importante não perdermos o ímpeto em termos organizativos. Queremos continuar a consolidar as mensagens que temos transmitido. É importante também não nos deixarmos acalmar perante os recentes elogios. De negativos passaram para positivos muito rapidamente. Queremos manter o grupo vivo e concentrado, percebendo que se pode passar outra vez de bestial a besta. Não queremos dar azo ao mínimo facilitismo, continuando o nosso percurso, melhorando todos os aspectos e voltando a dar uma imagem forte, que traga confiança e nos permita encarar os restantes jogos em Agosto com o objectivo de consolidarmos o primeiro lugar o mais rápido possível.

Acha que fez grande mossa no Benfica?

Não. As bestas, de repente, passaram a bestiais e os bestiais passaram a bestas. Se calhar, para a semana o Benfica estará por cima outra vez. Estas análises que se fazem à semana, e que sustentam uma semana de jornalismo, se calhar não são tão racionais como deveriam ser. Cai-se facilmente no erro de criticar e de apontar problemas, como aconteceu no Torneio de Paris. Reparem que a equipa que ganhou o Torneio de Paris, o Bordéus, acabou por perder o primeiro jogo na liga francesa. Então, o que era mais importante? Ganhar em Paris ou ao Benfica? O que é mais importante para o Bordéus, PSG e Roma? Cada coisa no seu devido lugar. O que é mais importante para o Benfica? Uma pré-época com 29 golos ou um troféu? Neste tipo de cenários, é importante tomar decisões válidas para a equipa técnica e é importante fazerem juízos de valor correctos. Ninguém passa de bestial a besta em três ou quatro dias. Consolidam-se processos. O Benfica vem de um campeonato em que jogou bem, com inegável capacidade organizativa da equipa. Perdeu um jogo importante, a Supertaça, e se vai deixar mossa ou não depende da capacidade de transcendência. Não nos compete a nós fazermos juízos de valor sobre essa mossa e vamos continuar o nosso percurso por cima, sem euforia. Queremos continuar num registo alto e com qualidade de jogo. Isso é mais importante para nós e será sempre dentro dessa progressão que queremos continuar.

Está magoado com os jornalistas?

Não. O que não posso é pactuar com a exacerbação total de um aspecto que nada interessa e com o irracional de algumas conclusões que se fizeram e que não fazem sentido. A melhor resposta, a resposta imprevisível, foi dada na Supertaça. Mal de mim passar-vos algum tipo de mensagem, porque não é o meu objectivo. Se puder argumentar e dar-vos um pouco das minhas conclusões sobre o vosso trabalho, já que vocês concluem sobre o meu, continuarei a fazê-lo. Não me parecia possível, nem lógico, a quantidade de ilações negativas que estavam a ser tomadas e a quantidade de disparates que continuavam a ser ditos acerca de um torneio que pouco interessava. Tivemos dois jogos em dois dias, sob um intenso calor e com uma bola que não interessava a ninguém. Tornaram as coisas ridículas e houve uma exacerbação do negativo. Com isso não posso pactuar, porque tenho de defender os meus e tenho que sentir os meus. Como líder, não posso deixar que os meus se deixem afectar. E não deixaram. Por isso fiz aquela declaração: com confiança, rimo-nos da vossa desconfiança. O que é mais importante: uma preparação de 'xis' jogos consecutivos a vencer ou ganhar o primeiro troféu? Uma superpré-época ou uma pré-época estável, de consolidação de princípios? Cada um tem a pré-época que tem, não interessa.

O Braga é candidato ao título, sim senhor

O campeonato arranca hoje, com o jogo entre o Braga e o Portimonense, e André Villas-Boas coloca quatro equipas na rota do título. "Os três grandes têm essa responsabilidade e lutam sempre pelo objectivo principal, que é o maior número de títulos. Mas por que é que o Braga não há-de ser candidato quando consolida um estatuto e quando prova na pré-eliminatória da Champions que tem valor? Por que é que não há-de estar incluído nesse lote?", questionou. "Obviamente, é uma responsabilidade que refutarão, mas não deixa de ser um sonho escondido para eles. Talvez estejam ali para fazer frente aos três grandes. E, se calhar, os três grandes vão ter outro olho no Braga, para que não se deixem antecipar. Como aconteceu na época passada", recordou.

"No mercado sem loucuras"

Ainda espera contar com Walter e James no jogo com a Naval?


São processos que estão em conclusão e que deverão estar terminados no decorrer do dia de hoje [ontem]. Concluindo-os, depois será uma decisão técnica.

Mercado agora: dá prioridade ao reforço da defesa ou do ataque?

O mais importante é não entrarmos nas loucuras do mercado, porque quem deixa transparecer uma imagem de desesperado acaba por pagar um preço que não é o real. Não o queremos fazer. Queremos estar conscientes de que a decisão que tomaremos é a adequada, tendo em conta a qualidade do jogador identificado e a realidade do mercado. Sem Champions, não nos podemos permitir a determinado tipo de luxos. Temos de escolher pela certa e saber que o valor que pagamos é real. Tudo o que for loucura, não iremos cometer. Até dia 31, jogamos com critério e continuaremos a procurar o jogador que se identifique com o perfil desejado.n

Pergunta O JOGO

Vai para a primeira jornada sem o plantel definido. Não é uma contrariedade?

São adaptações com as quais temos de estar prontos para lidar. Até ao dia 31, tudo pode acontecer em termos de entradas e saídas. São coisas que não ajudam, parece-me óbvio, mas que fazem parte dos trabalhos de um líder, isto é, ser capaz de adaptar-se perante esses cenários. Temos feito exactamente isso, tentando gerir o grupo e aproveitando também este período em que nos faltam determinado tipo de jogadores para chamarmos outros mais novos e conhecer mais a formação do clube, dando-lhes oportunidades. Vamos esperar pelo fim da janela de transferências para definirmos exactamente o que queremos em termos de plantel, ou seja, quem entra e quem sai, se chegam ou não chegam propostas, de maneira a terminarmos os dossiês que estão abertos.

"Esperamos ritmo alto"
 
Mesmo com o Rúben Micael apto, pode esperar-se a continuidade de Belluschi no onze?


O Rúben foi reintegrado esta semana. São opções técnicas que terão de ser tomadas. A equipa está em bom nível, mas todos os jogadores oferecem determinado tipo de soluções e opções, trazendo as suas próprias dinâmicas dentro de um colectivo. Cabe ao treinador decidir mediante o rendimento semanal.

Que avaliação faz da Naval?

A Naval mudou de treinador e, parece-me, também mudou de estilo. É um treinador [Victor Zvunka] que favorece a posse e o toque de bola. Acho que organizou bem a equipa num curto espaço de tempo. Esperamos um desafio importante e também esperamos estar num ritmo alto, fazendo frente ao adversário e chegando a um resultado positivo, do qual nos possamos orgulhar. Acho que a Naval vai abordar o jogo de uma forma estrategicamente diferente da que abordou a pré-época e nós temos de ser capazes de decifrar isso para podermos responder. Será que a Naval que vamos encontrar é a da pré-época ou será outra em termos estratégicos? É o que temos de decifrar.

"Pensavam que não estaríamos tão fortes"

Não acha que a superioridade manifestada com o Benfica foi surpreendente?


Sentíamo-nos fortes e, se calhar, vocês viram-nos menos fortes ou pensavam que não estaríamos tão fortes. Acreditamos no nosso talento e qualidade. Continuar a acreditar no nosso trabalho foi a mensagem que sempre passei em todos os jogos e tentaram abalar essa consolidação. Por isso, a surpresa só poderá ter sido vossa, não nossa.

A equipa foi pressionante, sem deixar o adversário pensar. É este o seu FC Porto?

Nunca se podem descurar os factores de transcendência e motivação. Por parte dos próprios treinadores há a exacerbação do táctico, porque essa ideia convém a determinado tipo de técnicos. Alertei que o factor emocional de uma semana de trabalho ia influir no rendimento. Quando uma equipa organizada junta o factor motivacional à absorção da mensagem, o resultado é rendimento desportivo. Foi isso que coincidiu: uma equipa organizada, com um grande grito de revolta. A exacerbação contínua do táctico em Portugal é fruto de quem o quer, de quem comenta o táctico e que o deseja para algum tipo de promoção. Não descuramos os factores organizacional, táctico e motivacional. Dentro disso é que podemos manter sempre a equipa nos píncaros da motivação e da organização. O grito de revolta foi dado em campo.

"Sinal de que Fucile vai embora? Não, de todo"
 
Tendo ficado de fora jogadores como Fucile, Emídio Rafael e James, qual foi o critério que seguiu para elaborar a lista de inscritos na Liga Europa?


O Fucile apresentou uma ligeira dor antes da Supertaça, que o manteve também de fora do jogo do Uruguai com Angola. Tivemos de ter em conta o que poderíamos fazer em termos de play-off, sabendo que uma nova lista de inscrições pode ser feita se passarmos este adversário. Há limitações para a inscrição de jogadores, devido a uma série de requisitos que a UEFA obriga a preencher, e as escolhas têm de ser feitas perante o momento. Passando o play-off e entrando na fase de grupos, as decisões têm de ser ainda mais criteriosas, porque abrangem um período de competição maior. Neste caso do play-off, tendo em conta a disponibilidade imediata e os casos que havia para resolver relativos às inscrições, tomámos essas decisões.

Então não se pode fazer outra leitura, como, por exemplo, a de que Fucile vai embora?

Não, de todo.


in "ojogo.pt"

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