sábado, 16 de outubro de 2010

Coração perto da boca

Villas-Boas dá toque muito pessoal a intervenções públicas
Ontem, ao início da noite, as declarações de André Villas-Boas que visaram o presidente do Benfica ainda tinham impacte. No site do Record, a peça “Villas Boas: «Não é mais ridículo renunciar à Taça da Liga?»” ainda era a mais comentada. O que o técnico diz assume repercussões e não cai em saco-roto, preenchendo a agenda mediática e motivando reações. Como é óbvio, esta contundência do portuense corresponde a uma estratégia institucional, mas ganha outra expressão através da força do discurso do treinador, que passa também a imagem de um líder que sente o pulsar do clube.

A estrutura da SAD trabalha com Villas-Boas como trabalhava com Jesualdo Ferreira, cujo estilo de comunicação raramente motivou tanto entusiasmo dos portistas e tanta exaltação dos adversários. O que distingue, afinal, o novo timoneiro?

Pinto da Costa não contratou Villas-Boas olhando à sua filiação clubística, mas é óbvio que o portismo do técnico caiu no goto de uma massa associativa que não tinha um líder a puxar ao sentimento desde António Oliveira (1996 a 98). O discurso do treinador soa autêntico e não contorna a rivalidade efervescente com o Benfica. É rara a intervenção em que não visa o rival da Luz, assumindo uma confrontação muito ao estilo de Pinto da Costa, cuja exposição tem sido mais resguardada. Isso mesmo é salientado pelo comentador Record, Carlos Abreu Amorim: “Villas-Boas percebeu que havia ali um espaço mediático que estava vazio.”

Atento

Na retaguarda do míster há toda uma equipa que tenta orientá-lo. As suas intervenções públicas são preparadas, antecipando-se perguntas e pontos a abordar. Villas-Boas tenta fugir ao fator surpresa, mas reage bem ao inesperado. Informado e muito atento à atualidade, sabe o que se escreve nos jornais e o que se diz a seu respeito, não se inibindo de criticar opções editoriais. E se o técnico procura informação, o clube também faz questão de lha transmitir, selecionando notícias do seu interesse e que lhe faz chegar durante o dia.

O homem que gosta de tratar os jornalistas por “tu”não foge a perguntas nem acelera as suas conferências. Antes dos jogos, a disponibilidade para as questões é total e não restringe temas. Villas-Boas prepara-se para conversas de 10 minutos ou de uma hora e assume, muitas vezes, a ofensiva, respondendo a “opinion makers” e julgando o trabalho jornalístico.

Carlos Abreu Amorim: «Atirou-se a Vieira como um doberman»

Jurista e sócio DOS DRAGÕES DÁ OPINIÃO

“Villas-Boas respondeu a Filipe Vieira porque se sentiu visado, mas não se limitou à legítima defesa. O seu discurso revela duas preocupações: a de se afirmar como treinador de um grande clube e a de se afirmar como um líder mediático. Está a aproveitar um espaço vazio que se prolonga no FC Porto desde o Apito Dourado. Villas-Boas preenche-o na perfeição e, mais do que uma questão meramente institucional, há aqui um plano pessoal de projeção mediática. Jesualdo Ferreira não tinha esta capacidade de entrar em guerrilhas e já há quem o queira comparar com Mourinho. É verdade que Mourinho fez isto, mas num estilo muito peculiar e inimitável. Villas-Boas está a ser inteligente e arguto, atirou-se como um doberman ao pescoço de Vieira, que não tem capacidade para entrar nesta luta. Os resultados ajudam, mas vejo aqui todas as condições para que se construa um líder mediático.”


in "record.pt"

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