segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ridicularizar superpolícia e assaltar a esquadra


Uma mão-cheia de golos não é contagem habitual no futebol, muito menos quando se defrontam candidatos ao título. Mas quando o número se ajusta ao que se passou em campo, há uma história especial para contar. E esta não é a história em que a noite mágica de uma equipa se encontra com a noite trágica da outra. Engana-se quem assim pensar. Reduzir o que se passou no Dragão a acreditar que correu tudo muito bem de um lado e muito mal do outro é fugir da realidade. O FC Porto começou a ganhar este jogo ao Benfica no dia em que ambos ultimaram os respectivos grupos de trabalho para a época. Os portistas foram superiores ontem, como o tinham sido em Aveiro na Supertaça e como é expectável que aconteça pela época fora, a menos que na Luz sejam feitos acertos fundamentais em Janeiro.

Jorge Jesus é um treinador experimentado e realista, teve medo, daí as alterações que introduziu na equipa. Saiu-lhe tudo ao contrário, as apostas foram erradas e desajustadas, mas quem mexe numa equipa que esteve a pontos de esmagar o Lyon é porque sabe que o espera uma missão complicada. O FC Porto voltou a provar que está mais forte colectivamente e tem soluções de desequilíbrio verdadeiramente incríveis. Hulk está transformado num fenómeno - passa, corre, finta, assiste, remata -, e o jogo provou que a presença dele em campo justifica plenamente as dúvidas e os receios que assaltaram Jesus e o levaram a modificar a equipa. Quis transformar David Luiz em superpolícia, fez dele defesa esquerdo e, com tal decisão, acabou por lhe fazer um mal ainda maior do que aquele a que o sujeitaram Hulk e Belluschi. Com o defesa na jogada, Hulk inventou o lance do primeiro golo e assinou o remate do quinto. Como também foi por ele que passou Belluschi antes de assistir Falcao para o 2-0, percebe-se como correu mal a vida àquele que tinha sido previamente escolhido como herói.

O FC Porto entrou a jogar o seu futebol sereno e seguro, com uma organização defensiva irrepreensível e um elevado naipe de soluções ofensivas, pois o ataque está longe de se reduzir à inspiração de Hulk. Aproveita, isso sim, e cada vez mais e melhor, as qualidades ímpares do brasileiro, embora seja capaz de atacar e fazer golos sem ele. É que mesmo quando não está a cavalgar sobre a defesa adversária o FC Porto sabe ter a bola, é capaz de a fazer circular até que o buraco se abra, assim como no lance seguinte ensaia um contra-ataque com um passe de 30 metros que desconcerta o opositor (Sapunaru para Belluschi no segundo golo).

Jorge Jesus já tinha ensaiado uma defesa com Sidnei a central e David Luiz a lateral-esquerdo, pelo que toda a gente esperava o Benfica a jogar dessa forma, mas ontem acrescentou outra cautela: Salvio na ala direita, Carlos Martins ao centro, à frente de Javi García, Coentrão à esquerda e Aimar na ligação com o ataque, relegando Saviola para o banco. A decisão só pode assentar no desejo de ter um miolo forte, pois Aimar baixa mais no terreno do que Saviola e aparece mais vezes na zona onde começa a construir-se o ataque. De nada valeu, porque o FC Porto pressionou mais e melhor, chegou sempre mais lesto à primeira bola e à segunda, fazendo com que tudo parecesse demasiado fácil para um lado e demasiado complicado para o outro. Uma superioridade tão fantástica quanto o resultado.

Os golos acumularam-se, cada um melhor do que o seguinte. Aliás, ver Jorge Jesus, à meia hora de jogo, a perder por 3-0, de braços cruzados e sem ninguém a aquecer quando nada batia certo, diz tudo sobre o que estava a acontecer e o que viria a seguir. A correcção ao intervalo - entrada de Gaitán, saída de Sidnei, recuo de Coentrão para lateral e passagem de David Luiz para central - serviria para pouco mais do que salvar a face, até porque se admitia o desacelerar portista face ao resultado. Mas continuava a haver cabeças perdidas no Benfica. Luisão foi expulso e, logo a seguir, Jesus recompôs a equipa com o central Roderick, sacrificando Carlos Martins, o único que dava a ideia de saber o que estava a fazer em campo. Ficou a equipa mais homogénea… enquanto o FC Porto se sentia convidado a apertar um pouco mais e a elevar a contagem para números que só podem ser escandalosos para quem não viu.

FC Porto, 5 - Benfica, 0

Estádio do Dragão

Relvado Excelente

Espectadores 49817

Árbitro Pedro Proença

Golos 1-0 Varela 12'; 2-0 Falcao 25'; 3-0 Falcao 28'; 4-0 Hulk 79' g.p.; 5-0 Hukl 90'

in "ojogo.pt"

1 comentário:

P. Ungaro disse...

Inesquecivel ... é a unica palavra que posso utilizar para exprimir o que me vai na alma.
Depois dos 5 que fomos lá espetar no tempo do Oliveira estes 5 vão ficar nos anais da historia.

Um abraço