segunda-feira, 29 de agosto de 2011

As derrotas não são todas iguais


1. O Barcelona saiu do Mónaco com a Taça e com a certeza de que ainda não foi desta que a sua hierarquia foi posta em causa. Mas o FC Porto também regressou com a auto-estima preservada, ou até um pouco mais do que isso. As derrotas não podem ser transformadas em vitórias morais, mas também não são todas iguais. E a de ontem foi daquelas que não envergonham e que, em boa parte, até podem ser explicadas pelo penálti que ficou por marcar contra o Barcelona e, principalmente, pela circunstância de, no outro lado, alinhar o único jogador que ultrapassa os limites da lógica. Messi, pois está claro, autor de um golo e de uma assistência de luxo, entre meia dúzia de faenas que, entre outras coisas, custaram dois amarelos e a expulsão de Rolando.
2. A Supertaça era a única prova em que Messi nunca havia marcado. Guardiola, por seu lado, ultrapassou os títulos somados pelo seu protector e mentor, Johan Cruyff. Soma agora 12 títulos, entre os 15 que disputou desde que tomou conta do Barcelona. Conseguiu-o em três épocas, enquanto Cruyff precisou de oito... Mas também é verdade que o conseguiu num jogo em que o Barça não foi capaz de repetir o seu futebol empolgante. Por culpa própria ou mérito do FC Porto, irão certamente dividir-se as explicações. Provavelmente, a verdade poderá ser encontrada a meio caminho entre uma coisa e a outra. Certo é que o mau estado do relvado prejudicou o espectáculo e ainda bem que a UEFA já decidiu que o Louis II perdeu o exclusivo da prova.

3. Uma surpresa e meia nos onzes iniciais. A completa surgiu na equipa do FC Porto, porque se já tinha sido surpreendente a inclusão de Cristian Rodríguez nos convocados, maior foi vê-lo entrar no lugar que costuma ser de Varela. Vítor Pereira quis, com isso, equilibrar as contas no miolo, porque o uruguaio é mais médio do que extremo, ao contrário do português. Com isso, o FC Porto continuou a ter menos posse de bola (33 por cento ao intervalo e 32 no final), mas conseguiu um melhor preenchimento dos espaços. Conseguiu, principalmente, armadilhar o habitual jogo interior do Barça, que demorou a encontrar soluções para se aproximar da área de Helton. A meia surpresa veio do lado catalão. E não é fácil explicar a presença de Keita na posição "6", em detrimento de Busquets. Com isso, o Barça perdeu fiabilidade na primeira zona de construção, até porque os centrais de recurso (Abidal e Mascherano) também não dão, nesse item, as mesmas garantias que os lesionados Piqué e Puyol.

4. O mérito do outro factor que ajuda a explicar as dificuldades do campeão europeu deve ser tributado a Vítor Pereira. Arriscou uma defesa alta e sempre disposta a tentar deixar os adversários em situações de fora-de-jogo. O Barça caiu por oito vezes nessa armadilha, cinco das quais no primeiro tempo. Refira-se que Helton jogou ainda mais adiantado do que é hábito, para a eventualidade de algo falhar, mas os árbitros assistentes estiveram atentíssimos.

5. O FC Porto acabou por só não ser capaz de prever e evitar os erros individuais, como o de Guarín no primeiro golo. O colombiano até vinha sendo dos melhores portistas, principalmente no período em que Messi ainda não tinha encontrado as botas certas e em que os seus colegas eram menos fiáveis do que é hábito, principalmente no passe.

6. Ao FC Porto faltou ontem claramente Falcao, até porque Kléber é um bom projecto de avançado, mas precisa de ser trabalhado e ganhar experiência. A partir de certa altura talvez se tivesse justificado passar Hulk para o meio (como fazia André Villas-Boas), porque era lá atrás que o Barcelona mais tremia. Um Barcelona que mostrou respeito por Hulk até na forma como David Villa recuava e se destacava para ajudar defensivamente. 

Bruno Prata in "publico.pt"

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