quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Defour-Witsel: quando um se aconselha com outro


Médios do F.C. Porto e do Benfica são o futuro do futebol belga. Por detrás têm um passado em comum, pela frente um futuro promissor.


Defour e Witsel, novos nomes nas versões actualizadas e revistas de F.C. Porto e Benfica. O elo de empatia profusa atenuado pela distância de 300 kms. Uma novidade para ambos. Defour olha para o lado e Axel já lá não está; Witsel levanta a cabeça e Steven enverga um equipamento diferente.

Rolão Preto conhece-os na perfeição. O assistente de Laszlo Boloni celebrou com ambos a conquista do título belga na época 2008/09, além de suas supertaças. «Possuíam uma harmonia muito grande nos movimentos que faziam em campo. Posso dizer que jogavam de olhos fechados», começa por referir ao Maisfutebol o actual treinador adjunto do PAOK.

«Chegámos a Liège e percebemos que a equipa ia assentar na influência do Defour, do Witsel e do Fellaini. Poucas semanas depois, este último foi vendido ao Everton, o que aumentou a relevância do Steven e do Axel dentro da equipa. Eram atletas determinantes nos nossos planos. Uma excelente dupla.»

2006/07, o dealbar de Defour e Witsel no futebol profissional. Areias assiste a tudo na primeira fila. O antigo lateral esquerdo de F.C. Porto e Boavista partilha o balneário com estes dois meninos, um de 18 e outro de 17 anos. Projectos laboratoriais de médios todo-o-terreno, talentos a pulsar descompassadamente no dia-a-dia do Standard.

«O Defour era mais velho e apresentava uma maturidade superior na altura», recorda Areias. «Ele vinha do Genk, numa transferência polémica, e impôs-se rapidamente na equipa [29 jogos, 4 golos no campeonato. O Witsel era ex-júnior, treinava bem, mas jogava poucas vezes [16 jogos, 2 golos]. Percebia-se que eram uma aposta séria do clube.»

Nessa altura, já Costa Mbisdikis, sogro e ex-treinador de Defour, projecta um futuro radioso cintilante aos dois. «A Bélgica passava por uma grave seca de valores. O Defour e o Witsel, como o Fellaini, tornaram-se a grande esperança de todos os que gostam de futebol. Eram muito amigos e chegaram rapidamente à selecção.»

Em Portugal, embora a rivalidade entre F.C. Porto e Benfica se mantenha efervescente, Defour e Witsel continuam a falar. «Sim, assim que o Steven soube que ia para Portugal, creio que se aconselhou logo com o Axel», confirma Costa Mbisdikis.

Em vésperas de grande clássico no Dragão, a Bélgica olha com atenção redobrada sobre dois dos seus futebolistas mais queridos. Afinal, grande parte do futuro imediato da selecção passa por eles. «Esta é uma boa geração e a Bélgica até pode pensar em estar nas grandes competições. O Defour e o Witsel chegaram naturalmente à equipa nacional e só lamento que lhes falte um grande ponta-de-lança para poderem sonhar ainda mais alto.»



Witsel e Defour não são só dois talentos formatados no Standard Liège: são duas lendas do clube. A garantia é dada por quem mais o pode fazer: os adeptos. «Lendas de Sclessin», gritava a claque do clube no início de cada jogo. Sclessin é o estádio do Standard e a claque chama-se Tifo Boys.

Maisfutebol falou com Eddie Jansis, o líder dos adeptos, que confessou grande entusiasmo pelo clássico. «Acontece-me uma coisa que nunca imaginei: às vezes estou a beber um copo com amigos e algum diz-me que tem de ir para casa porque vai dar o jogo do Benfica ou do Porto na televisão.»

«Estou 300 por cento seguro que a liga portuguesa é agora das mais vistas na Bélgica. Sexta-feira vai ser uma loucura, toda a gente quer ver o Porto-Benfica. Na altura em que Witsel e Defour saíram ficamos tristes, mas tanbém orgulhosos, deram um passo em frente e estão em grandes clubes.»

A ideia das lendas de Sclessin, de resto, mantém-se. «São lendas e continuarão a ser lendas sempre. Eles cresceram no clube, tornaram-se capitães e levaram-nos para outro nível. Estivemos 25 anos sem ganhar, fartos de ver o Anderlecht festejar e à custa de dois jovens fomos duas vezes campeões.»

Mas não foi só isso: em Witsel e Defour os adeptos do Standard encontraram o reflexo deles próprios. «Eles sempre torceram pelo clube, são adeptos e um dia vão voltar», conta Eddie Jansis. «Quando voltarem, porque tenho a certeza que querem voltar, vai ser uma festa muito grande. Liège vai parar.»

À distância de alguns meses, que já enche de saudades os adeptos, Eddie Jansis lembra dois bons rapazes. «Quando estavam lesionados ou castigados, viam os jogos no meio da claque. Fizeram-nos várias vezes. O Defour até trazia a família, via o jogo connosco e depois confraternizava com os adeptos.»

O médio do F.C. Porto, de resto, é um caso curioso. «Ele não é de Liège, nasceu na parte holandesa da Bélgica. Mas já torcia pelo Standard antes disso, por isso fez força para vir para aqui. Chegou muito novo, com 18 anos, começou a jogar e tornou-se rapidamente capitão. Era um líder dentro de campo.»

Witsel é diferente, confessa. «Nasceu aqui em Liège, sempre falou francês e cresceu no clube desde os onze anos. Era o melhor jogador do Standard. Impôs-se pelo que joga, pela técnica e qualidade futebolísticas, enquanto o Defour é menos talentoso, mas é mais forte psicologicamente. É um líder.»

Pelo caminho Eddie Jansis garante que para Defour e Witsel o clássico vai ser particularmente especial: é o primeiro jogo grande em Portugal e é a primeira vez que se defrontam. «Não eram os melhores amigos, até porque vêm de partes diferentes da Bélgica, mas eram muito amigos. Tinham boa relação.»

«Até por terem crescido juntos e terem jogado muito tempo ao lado um do outro, havia um entendimento claro entre eles. Eram os capitães e representavam o clube em todas as ocasiões. Por isso jogar agora um contra o outro vai ser especial e que já falaram disso. Nós estamos ansiosos por vê-los», finaliza. 



Cinco anos de cumplicidade mútua, planos comuns, entendimento incorruptível. Executantes de inestimável valor. Agora: são adversários. O futuro atropela cinco anos de convivência em nome de algo grande, o Clássico. Para trás fica o amadurecimento, a afeição, a cumplicidade.

Defour e Witsel já se conheciam das selecções jovens, mas começaram a partilhar a vida quando chegaram à equipa principal do Standard Liège. O primeiro com 18 anos e vindo da parte holandesa, o segundo ainda com 17 anos e criado na parte francesa. Cresceram juntos até se tornarem capitães.

Witsel estreou-se como jogador profissional a substituir Defour, por exemplo: cruzaram a linha lateral e cruzaram destinos. Quando Witsel partiu a perna a Wasilewski, Defour foi o primeiro a vir defender o colega. Criticou até os dirigentes do Standard por não protegerem o agora benfiquista.

Por isso recebeu ameaças de morte, como Witsel recebeu, e foi obrigado até a recorrer à protecção policial, que montou vigia à porta de casa. Mais tarde, quando as coisas com Boloni não corriam bem, foram os dois bater à porta de Luciano DOnofrio e exigir uma mudança no futebol: Boloni foi despedido.

Para o lugar dele veio Dominique DOnofrio, que só tem elogios para os dois jogadores. «Witsel e Defour? Tiro-lhes o chapéu», diz ao Maisfutebol o irmão do então homem-forte do futebol do Standard. «São dois rapazes muito profissionais, que trabalham muito e têm grande ambição. São muito boa gente.»

Dembelé partilhou o balneário com ambos durante os cinco anos e vai mais longe. «Não estavam sempre juntos, até porque são naturais de partes diferentes da Bélgica, mas saíam muitas vezes. Havia uma cumplicidade entre eles, vêm da mesma geração e são jovens da sociedade moderna, são urbanos.»

O médio, que entretanto se tornou adjunto do Standard, diz que são os típicos europeus da nova geração. «São profissionais, o futebol para eles é tudo, mas gostam de expandir horizontes.» Witsel, por exemplo, chegou a ser DJ em alguns bares de Liège, Defour por outro experimentou aviões de acrobacias.

A amizade de longos anos vai ser confrontada com uma prova de fogo: o Clássico. «Vai haver uma rivalidade entre eles, mas que é normal. Ambos são muito competitivos», diz Dembelé. «Para além disso o F.C. Porto-Benfica é um jogo muito forte, ninguém admite perder. Um deles vai ficar abatido.»

Ou então os dois, claro. «É a primeira vez que vão jogar um contra o outro, é o clássico de Portugal, vai ser muito visto na Bélgica e vai ser muito importante para eles. Até pela pressão dos adeptos. Acho impossível, por exemplo, se o F.C. Porto perder, o Defour abraçar o Witsel e dar-lhes os parabéns.»

Quando o jogo se tornar numa memória, porém, a amizade voltará. «Eles são o futuro do futebol belga e não tenho dúvidas que em quatro anos estarão entre os melhores jogadores do mundo.» Dominique DOnofrio concorda. «Para mim o Witsel é o melhor belga da actualidade. Aliás, votei nele.»

O benfiquista não ganhou, mas tinha ganho no ano anterior. Antes disso, o prémio foi entregue a Defour. «Com eles o Standard ganhou dois títulos após 25 anos. Na última época não ganhámos, mas terminámos com os mesmos pontos do campeão Genk. Ainda ganhámos a Taça e duas Supertaças.»

Dominique fica a torcer por eles. «Ficamos contentes por irem jogar num campeonato forte, superior ao belga, e num futebol técnico. Vão poder tornar-se melhores.» Para começar, um Clássico. «Vai ser especial, claro. Até porque a Bélgica vai estar ansiosa para que façam algo importante.»



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