A expectativa para o clássico é enorme e Vítor Pereira deixou transparecer o mesmo entusiasmo de quem conta horas que parecem dias para se estrear num clássico como treinador principal. São estes jogos que alimentam os competidores e o treinador do FC Porto assumiu-se como tal. Vítor Pereira está pronto para o jogo e rejeitou a ideia de ter feito poupanças contra o Feirense a pensar já no Benfica. De qualquer forma, tem o plantel na máxima força para amanhã à noite e acredita que Hulk pode voltar a desequilibrar, como fez na goleada da época passada. As circunstâncias eram outras, lembrou, pelo que não está a contar com um resultado semelhante. Contudo, quer manter o registo dos últimos 20 anos em que o FC Porto só perdeu por uma vez em casa contra este adversário em jogos do campeonato.
Antes da estreia na Champions disse que era um sonho antigo estar na competição como treinador principal. O primeiro clássico também provoca algum sentimento especial?
É óbvio que sim. É o primeiro como treinador principal. Já tive vários como adjunto, mas o primeiro clássico é sempre um jogo especial até para os adeptos. Sinceramente, são os jogos que mais me agradam, em que o pormenor pode fazer a diferença, em que toda a habilidade táctica e estratégica pode ser confirmada ou não. Portanto, são jogos em que até a tensão que os rodeia faz de todos estes aspectos situações que me motivam e induzem a minha concentração e total dedicação.
Como é que define a rivalidade entre FC Porto e Benfica?
É cultural, é emocional, é uma coisa que vem de muitos anos. Desde que seja sadia, sem atropelos, sem violências, é boa para a competição. Mas o que nos motiva é isso e a este nível somos animais competitivos, queremos ter sempre títulos para ganhar e é natural que este tipo de adversários sejam a nossa vitamina para estarmos no nosso máximo de potencial e ao melhor nível. Muitas vezes são estes adversários que nos motivam a sermos melhores, mais fortes e a transcender-nos.
Nos últimos 20 anos, o FC Porto só perdeu um jogo em casa contra o Benfica para o campeonato. Isso traz mais responsabilidade?
Quem está à frente de um clube como o FC Porto tem de sentir a responsabilidade, a confiança de um plantel e de uma estrutura. A massa associativa é exigente, emocional, apoia-nos e sentimos que o melhor que lhes podemos fazer é proporcionar momentos de alegria. É uma responsabilidade boa estar aqui, sou exigente comigo próprio, com a equipa e vivo bem com isso. Acredito que vamos ter um FC Porto de grande nível, personalizado, assumido nos seus comportamentos, nas suas ideias de jogo e que vai ser igual a si próprio.
Há alguma novidade ao nível da motivação para este jogo?
Estes jogadores motivam-se normalmente para estes jogos, a motivação é intrínseca. Mas aqueles processos estratégicos e emocionais não são para falar aqui, são nossos e para mantermos internamente. O que sinto é uma equipa motivadíssima e que vai dar uma resposta à altura do jogo.
Concorda que, atendendo à equipa com o Feirense e as mudanças que fez, ficou a sensação de que se preocupou cedo demais com o Benfica...
Não foi essa a ideia. Fizemos a equipa em função das ausências e para promover uma dinâmica que nos permitisse chegar ao golo e ganhar, porque sabemos que estes jogos que antecedem um clássico e que se seguem a um jogo da Liga dos Campeões são sempre complicados. Sabemos que teríamos de trabalhar muito para o ganhar. Não foi com intenção de poupar, mas sim, em função daquilo que tínhamos disponível, criar uma dinâmica que nos levasse à vitória. Agora, há que passar à frente, olhar para este clássico e apresentar a mesma qualidade de jogo que já demonstramos até ali.
"Teria sido melhor estarmos com mais dois pontos"
O FC Porto chega ao clássico depois de um empate contra o Feirense que representou a primeira perda de pontos no campeonato. Com isso, o Benfica parte para esta deslocação ao Estádio do Dragão em igualdade pontual no topo da classificação. Mas Vítor Pereira preferiu desvalorizar isso. "É igual para nós, porque preparamo-nos para ter comportamentos de qualidade e de consistência independentemente de estar com mais ou com menos dois pontos. Teria sido melhor estarmos com mais dois pontos, mas não foi possível. Este jogo é um clássico para o qual estamos preparados e esperamos um grande jogo".
"Walter ia entrar, mas o Sapunaru não estava bem"
Vítor Pereira explicou as opções feitas em Aveiro, frente ao Feirense, e revelou a razão pela qual Walter não saiu do banco, mesmo quando o contexto do jogo o parecia exigir.
Depois do jogo com o Feirense já deve ter visto algumas críticas que lhe fizeram, tacticamente, por não ter jogado nos moldes habituais, por ter abdicado de um médio-defensivo, entre outras coisas...
Foi um jogo em que já admitimos não ter estado inspirados, houve coisas que não correram da melhor forma, mas foi também um jogo extremamente condicionado pelas ausências e por questões físicas que foram acontecendo e das quais muitas pessoas não se apercebem. A questão do pivô do meio-campo tem a ver com um plano de jogo que se pretendia e uma circulação com uma dinâmica diferente. Mas ser treinador é isto mesmo, é experimentar e se as coisas tivessem corrido bem e marcássemos, a jogar com dois avançados móveis na frente, hoje estávamos aqui a dizer que a estratégia tinha sido muito boa. Mas não foi isso que aconteceu. Como as coisas não correram bem - e eu admito isso com à-vontade - as críticas surgem. É natural e é preciso viver com elas.
Mas também o criticaram por não ter utilizado Walter, quando parecia a altura própria para isso?
A questão do Walter é simples: estava equacionado para entrar no jogo, mas por questões físicas do Sapunaru, que não estava em condições e teve de sair, houve necessidade de recompor a defesa. Não queria jogar com três defesas contra uma equipa que joga em transições rápidas e bolas longas. Seria um risco enorme e optei por colocar um jogador [Djalma] que não é da posição, mas que a consegue fazer, porque treina muitas vezes nesse lugar. Portanto, o Walter não entrou por condicionalismos do próprio jogo. É um jogador com o qual eu conto, que está a trabalhar bem e que começa a dar sinais de estar a um nível bom para nos ajudar. Por isso, o Walter e o Kléber serão dois jogadores importantes. Para trás o FC Porto tem muitos mais jogos de qualidade e é esse FC Porto de grande qualidade que vamos ver na sexta-feira.
"Espero um Hulk igual a si próprio"
Na goleada por 5-0 no Dragão, Hulk desequilibrou, apontando dois golos, tendo ainda aproveitado a opção táctica de Jorge Jesus, quando mexeu na defesa para colocar David Luiz na sua marcação directa. Desta vez, o Incrível vem de uma paragem motivada por uma lesão (não jogou contra o Feirense), mas Vítor Pereira acredita num regresso em grande forma.
O Hulk da época passada foi decisivo. Acredita que pode voltar a desequilibrar neste jogo?
Toda a gente sabe que o Hulk é um jogador extremamente importante para nós. Espero um Hulk igual a si próprio, de grande qualidade, e que seja capaz de nos ajudar colectivamente. Se possível, que sobressaia individualmente.
Mas está à espera que o Hulk condicione o jogo do Benfica, como aconteceu na época passada?
O que o Hulk pode levar o treinador adversário a fazer é uma situação que não vou comentar, que só tem a ver com a equipa deles e nada com a minha. Por isso, passo à frente.
Os pontos que o FC Porto perdeu na última jornada retiram-lhe espaço para deixar uma mensagem de confiança aos adeptos?
Se à primeira perda de pontos deixo de acreditar nas minhas ideias, nas minhas convicções e naquilo que me é garantido por anos e anos de experimentação, não estaria preparado para uma coisa destas. Acredito sinceramente estar mais do que preparado e a mensagem que passo é de confiança total no nosso jogo, nas nossas qualidades, sem colocar grande ênfase no adversário, seja ele qual for.
"Três pontos proporcionam uma almofada motivacional"
Apesar de se tratar de um clássico disputado à sexta jornada cujo peso se revela difícil de avaliar na corrida ao título, dado o contexto actual, Vítor Pereira destacou a importância que um triunfo sobre o rival da Luz terá ao nível da motivação.
Rolando disse que para além dos três pontos uma vitória poderia dar uma vantagem moral importante. Para si o que pode significar uma vitória à sexta jornada contra o Benfica?
Se fosse com outro adversário seria igual, mas com este, por ser um candidato ao título, torna-se ainda mais importante. São três pontos longe do fim, mas que proporcionam uma almofada motivacional que é sempre importante conseguir ao longo da época, porque os campeonatos fazem-se destas situações, que nos vão ajudando a crescer como equipa e a acreditar nas nossas ideias e nos nossos argumentos.
Até que ponto pesa a ausência do James?
O James é um jogador de grande qualidade, não está disponível, mas temos no plantel jogadores de qualidade para a mesma função, com características diferentes, porque o James com o seu jogo imprime determinada dinâmica, mas quem jogar vai com certeza, com as próprias características dar-nos o seu contributo e a sua qualidade para o nosso jogo colectivo.
in "ojogo.pt"
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