A chegada de José Maria Pedroto, antigo capitão do clube e 17 vezes internacional pela selecção nacional (16 pelo FC Porto), é um estímulo para os adeptos, que o vêem como o homem indicado para repor a casa em ordem.
A verdade é que o novo técnico não consegue milagres na época de estreia (só na seguinte é que ganharia a Taça de Portugal), mas regista o brilharete de terminar o campeonato à frente do Sporting, o campeão da época anterior e o clube com mais jogadores na selecção para o Mundial de Inglaterra (oito, contra sete do Benfica e três do FC Porto). Apesar disso, o FC Porto é terceiro classificado, atrás do Benfica e da sensacional Académica.
Para tal muito contribui uma espectacular segunda volta, sem qualquer derrota (nove vitórias e quatro empates), com o avançado brasileiro Djalma, o único reforço do Verão de 1966, via Vitória (Guimarães), a revelar-se decisivo, ao marcar um terço dos 30 golos então alcançados. Na Taça de Portugal, o FC Porto é eliminado por quem viria a arrebatar o troféu – o Vitória Setúbal, nas meias-finais (0-3 no Bonfim, com hat trick de Pedras, e 4-4 nas Antas).
Na Taça das Cidades com Feira, a eliminação não é obra de Pedras mas sim de moeda, no controverso desempate de cara ou coroa. Situemo-nos, pois, a 5 de Outubro de 1966. O FC Porto está em Bordéus para a segunda mão da primeira eliminatória. Das Antas levam uma vantagem mínima de 2-1, com Pedroto a vaticinar uma vitória mais dilatada em França. Tudo leva a crer nisso quando Djalma faz o 0-1 à meia hora, mas o Bordéus reage com Texier (38’) e Couécou (78’). A_eliminatória está agora empatada. Recordo o leitor que estamos em 1966 e a UEFA ainda não está familiarizada com o desempate por penáltis. O que está na moda é o desempate por moeda ao ar, o cara ou coroa, como se faz antes do início do jogo entre os capitães e o árbitro. Os intervenientes mantêm-se, a moeda é que assume um valor impensável. Seja um franco francês, uma peseta espanhola, uma lira italiana, um escudo português, um marco alemão, uma libra inglesa. Depende do árbitro e do país onde se joga.
No caso do Bordéus-FC Porto, é o italiano Agostini quem atira a moeda ao ar. Ganha o Bordéus. O grito de revolta dos roubos de igreja só surgiria uma década mais tarde, mas já aqui Pedroto se insurge contra tudo e contra todos, incluindo com a sorte ou o azar de uma moeda qualquer. “Os nossos jogadores foram verdadeiros heróis, só vencidos pelos caprichos da sorte. Além de tudo o mais, a moeda, no primeiro lançamento, ficou enterrada no terreno, mas com tendência para cair para o nosso lado. O árbitro voltou a lançá-la ao ar e favoreceu os franceses. Parecia malapata. O juiz não teve pulso, deveria ter expulso vários jogadores franceses, aquilo chegou a parecer circo romano e, ainda por cima, negou-nos duas grandes penalidades sobre Djalma.”
Se tivessem vencido a eliminatória, os jogadores do FCP teriam recebido três mil escudos de prémio cada um. Só não sabemos se em notas ou em moedas...
in "ionline.pt"
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