sábado, 3 de dezembro de 2011

B. Alves: "Lembrem-se de mim por aquilo que fiz"

O Zenit fechou-se a sete chaves no Algarve para preparar a visita ao Dragão, mas O JOGO teve acesso ao Hotel Cascade para falar em exclusivo com Bruno Alves. Só não houve autorização para tirar fotografias. O antigo capitão do FC Porto antecipou as emoções que prevê viver no regresso ao Dragão, onde espera ser bem recebido, e pediu desculpa por ter de desejar que os dragões fiquem pelo caminho na Liga dos Campeões. É que, antes de ser portista, Bruno Alves é profissional e agora defende as cores do Zenit...

Nesta altura, o Zenit e o FC Porto não deviam estar a discutir apenas o primeiro lugar do grupo, em vez do apuramento?
São coisas do futebol. O favoritismo tem de ser mostrado dentro do campo, e não com palavras. Teoricamente eram as equipas mais fortes, mas têm de lutar pela vaga que falta e, da minha parte, espero que o Zenit se qualifique, porque sou profissional e defendo as cores do Zenit; sem esquecer, claro, que o FC Porto ocupou uma parte especial da minha vida.

De que lado está a pressão?
Das duas equipas; nós precisamos de nos qualificar, e o FC Porto também. Vai ser um jogo extremamente competitivo entre duas equipas com muita qualidade dentro do campo.

O Zenit venceu o primeiro jogo. É favorito?
São duas equipas fortes, e é muito difícil apontar um favorito. Claro que o FC Porto joga em casa, mas o Zenit está num momento muito bom, com várias vitórias para o campeonato, e acreditamos que podemos ganhar também no Dragão. Dificilmente o Zenit vai jogar para empatar, porque desde que estou nesta equipa que ela joga sempre para ganhar; não sabe jogar doutra forma. Por isso vai ser um jogo muito interessante de se seguir.

Falou do momento do Zenit. O FC Porto passou por uma fase oscilante, mas venceu os dois últimos jogos, com o Shakhtar e o Braga, e parece ter dado um pontapé na crise.
Que análise faz da sua antiga equipa?
Saiu um jogador importante na equipa [Falcao], mudou-se a estrutura técnica, e não existem temporadas iguais. É muito difícil repetir os momentos, e o FC Porto é um clube que quer sempre mais. Vem de uma temporada excelente, com uma grande qualidade de jogo e muitos êxitos e, quando se muda alguma coisa, é sempre difícil recomeçar. Concordei com a escolha deste treinador, porque ele já conhecia a estrutura e os jogadores. Era mais fácil, estando ali, pegar ele na equipa do que trazer outro treinador e mudar imensas coisas. É preciso darem tempo ao treinador para implementar as suas rotinas, mas já se sabe que, no futebol, quem dita as leis são os resultados. Acredito que o FC Porto, depois destas duas vitórias, está mais consistente, melhor. Vem de uma eliminação da Taça, mas é característico o FC Porto dar a volta por cima em momentos menos bons, e aqueles jogadores que lá estão sabem muito bem o que fazer.

Há por isso razões para o Zenit estar preocupado?
[risos] Sei que estão a tentar dar a volta, mas espero que não a completem neste jogo, para bem do Zenit, que agora é a minha equipa - e tenho de defender o meu lado.

Falhou o jogo na Rússia, adiando o reencontro com o FC Porto. Está expectante?
Espero que as pessoas se lembrem de mim pelo que fiz pela equipa, pela entrega que tive, e não pela minha saída. Achei que era o momento certo e, e ao fim e ao cabo, até ajudei o clube, com a minha venda, a continuar a ter sucesso. Gostava de ser bem recebido e tenho a certeza de que vai ser uma grande experiência para mim.

Alguma aposta com um antigo companheiro?
[risos] Por acaso, já há algum tempo que não falo com ninguém. Costumava conversar com Helton e com Hulk, são pessoas com que me dava muito bem. Aliás, sempre tive uma boa relação com todos. Tive a oportunidade de ir ao balneário do FC Porto no final do jogo em São Petersburgo e esse foi um grande momento.

Sugeriu-se que o Bruno viu o vermelho com o APOEL de propósito, para não jogar contra a antiga equipa…
Isso é ridículo. Quem me conhece sabe que isso era impossível. Além de levar a minha profissão muito a sério, esse era um jogo em que queria muito participar, porque são estas experiências no futebol que ficam para a vida. Era extremamente importante para mim ter estado nesse jogo.

O Deco disse recentemente que o FC Porto era o clube do seu coração. Pode dizer o mesmo?
Claro que sim. Passei momentos incríveis no FC Porto e devo-lhe muito. Tudo o que consegui até hoje deve-se ao tempo em que joguei naquele clube. Criei muitos laços de amizade com a Direcção, com o "staff", com os jogadores e com o público.



"Helton conhece o balneário e tem a mística do dragão"

Há falta de mística no balneário do FC Porto? Bruno Alves está a milhares de quilómetros de distância, mas, mesmo assim, é capaz de garantir que não - e aponta dois exemplos. Diz que é por causa do momento mais oscilante da equipa que essas questões se levantam.

Desde que o Bruno Alves saiu, o FC Porto ficou sem uma referência no balneário, sem ninguém da formação. Está a perder a mística?
Não acredito que tenha deixado de haver mística. Helton tem bastante tempo no clube, conhece muito bem o balneário e a casa; tem a mística do dragão. Até o próprio Rolando conhece muito bem a estrutura e pode ter esse papel. Com o tempo aparecem outras referências com o mesmo carisma das que já saíram. No ano passado, ninguém questionou isso por causa dos resultados.

Mas havia o Pedro Emanuel na estrutura…
Mas, na equipa técnica, é uma coisa, e ter jogadores com carisma é outra. Depende sempre do momento da equipa. Quando não há resultados, questiona-se tudo para se perceber o que mudar. Mas o FC Porto tem seguido no bom caminho.

"Ninguém gosta de ser mal recebido"

A subida de produção do Sporting leva Bruno Alves a perspectivar um campeonato decidido na recta final, com três fortes candidatos, os três grandes. Ainda assim, continua a considerar a sua antiga equipa favorita nesta corrida. O central viu o dérbi de Lisboa e diz que, na Rússia, não há "jaulas" para os adeptos adversários. "O futebol português vive destas polémicas", atirou.

Que análise faz ao campeonato português?
Está mais equilibrado, até pelo que o Sporting está a fazer, tem sido regular e competitivo. O Benfica mantém-se ao mesmo nível, enquanto o FC Porto continua a ser o primeiro, tem-se aguentado bem no campeonato; o único percalço para já foi a eliminação na Taça de Portugal. Vai ser uma época animada até ao fim, sem dúvida.

Considera o FC Porto favorito ao título?
Sim. Tem demonstrado regularidade no campeonato, vai ter jogos difíceis em breve, mas penso que vai conseguir voltar a ser campeão.

Imagino que tenha visto o clássico Benfica-Sporting. Na Rússia, também há "jaulas" para os adeptos adversários?
Vi o jogo. Na Rússia, não há redes nos sectores dos visitantes. É difícil julgar essa decisão. Claro que ninguém gosta de ser mal recebido em casa dos outros, pelo contrário. Os adeptos do Sporting não gostaram e demonstraram-no, mas nem sempre da melhor forma. O futebol português vive um pouco destas polémicas, mas o que conta mesmo é o que se passa dentro do campo e, aí, o Benfica venceu.

"Pode ser que tenha de procurar outra solução para a minha carreira"

Para já, Bruno Alves diz que o interesse da Juventus é apenas um rumor de mercado, mas não fecha a porta a uma mudança de ares. Pelo contrário. Relegado para a condição de suplente nos últimos dois jogos por mera opção de Luciano Spalletti, o central vai querer saber se o clube conta com ele para o futuro. Caso contrário, vai procurar uma solução fora da Rússia.

Continua a pensar que mudar-se para o Zenit foi a melhor decisão?
Sim. Foi o clube que me deu as melhores condições e que conseguiu chegar às exigências do FC Porto. Sempre me senti bem aqui, e as pessoas têm-me ajudado ao máximo.

Este jogo no Dragão poderá ser o último que faz pelo Zenit?
Não sei… No futebol, tudo pode acontecer. Não estive nos últimos dois jogos por opção do treinador e, como todos os jogadores, gosto de jogar. Tenho de respeitar o meu contrato com o Zenit, mas pode ser que tenha de procurar uma outra solução para a minha carreira se continuar a não jogar. Vamos ver. Não estou com pressa e sinto-me feliz no Zenit, mas quero jogar.

Com a paragem do campeonato russo, esta pode ser a altura ideal para sair…
Sim, mas primeiro tenho de saber se o Zenit conta comigo daqui para a frente.

Tem-se falado muito da Juventus.
Isso são especulações, que podem ou não concretizar-se.

Opinião sobre os centrais portistas em discurso directo


Rolando
Já quando eu estava lá, demonstrava uma enorme qualidade. Tem assumido o papel de líder dentro do campo e tem grandes qualidades para a posição. Além disso, é uma excelente pessoa e tem tudo para ser um dos melhores centrais do mundo.

Otamendi
Tive a oportunidade de acompanhar as suas exibições na época passada, e ele esteve excelente. Adaptou-se muito bem e rápido ao FC Porto e o clube deu-lhe todas as condições para praticar um bom futebol. Estamos a falar de um internacional argentino que se vai afirmar de certeza no panorama mundial.

Mangala
É um bom central, está a procurar o espaço dele. Vi estes jogos em que ele foi titular e pareceu-me num bom momento. O futuro passa por ele

Maicon
É um excelente defesa com grande margem de progressão. Na época passada foi intercalando com Otamendi e agora terá perdido um pouco do espaço, mas no futebol tudo muda de repente. Certo é que, em termos de centrais, o FC Porto está muito bem servido.

in "ojogo.pt"

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