segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um troféu para toda a nação no dia de uma nova fundação

No dia 27 de maio de 1987 o FC Porto não foi apenas campeão europeu pela primeira vez. Para muitos, foi esse o dia que definiu a orientação clubística, mesmo quando em casa os pais já apelavam ao portismo. A festa que inundou a cidade converteu os mais céticos. Muitos dos que ontem foram ao Dragão para ver a taça e tirar fotografias com ela confessaram-no sem rodeios. "Com 14 anos, não tinha qualquer clube. Nem vi o jogo. Mas nesse dia e nos seguintes, em casa e na escola, só se falava disso. Fiquei portista", confirma Jorge Moreira, que logo a seguir tornou-se sócio. Para que o filho não vivesse o seu dilema, fez dele sócio à nascença.
Na família Salgueiro todos torcem pelo azul e branco há muitos anos. A 27 de maio de 1987 o pai, José, resolveu comprar um vídeo. O investimento tinha a ver com um pressentimento. "Em anos anteriores nunca acreditei ser possível. Mas naquele dia, sim. De tal forma que fui comprar. E ainda bem. Já revi o jogo muitas vezes. Mas também tenho as outras finais europeias", gaba-se. O filho, também José, viu o jogo na mesma casa. Tinha nove anos e confessa que as conquistas de 2003 e 2004, por terem sido assistidas ao vivo, tiveram outro impacto. Mas recorda-se da festa incrível que tomou conta da Invicta e dos carros que não paravam de apitar. "Depois de o FC Porto começar a pressionar, lembro-me de ouvir o comentador dizer que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Logo a seguir foram os dois golos", aponta. "Mas a minha memória mais forte é da escola, do dia seguinte. Toda a gente ainda festejava, mesmo os que não gostavam de futebol. E nesse dia nem havia benfiquistas", brinca. Pai e filho levaram duas camisolas de 1987 para a visita de ontem ao Dragão. "Compro uma todos os anos. Mas trouxe esta porque acho que é a minha forma de prestar a homenagem a esta equipa. Para fim, foi a melhor de sempre do FC Porto. Era uma equipa de gladiadores", recorda.
A vitória foi também importante para marcar uma posição. "Era o Sul que comandava e aquela vitória foi importante não só para o FC Porto como para o Norte", explica o também sócio Avelino Santos. "Antes disso, já entrávamos a perder só por atravessar a ponte", concorda José Salgueiro, a propósito de uma máxima que já está imortalizada até em forma de canção.
"Chorei como uma criança no café. Foi um sentimento enorme, uma coisa que não se consegue explicar. Bebi muita cerveja, andei a noite toda na rua e fui de direta para o trabalho", sintetiza Avelino Santos, a propósito daquilo que todo o Porto viveu. E reviveu ontem. 

O herói Madjer e o prodígio Futre

O calcanhar de Madjer é o momento que todos guardam na memória. Não foi à toa que os portistas escolheram exibir o troféu em frente a uma fotografia do golo mágico. E Madjer foi, naturalmente, o nome que mais se leu nas costas dos que ontem levaram camisolas vestidas. "Hoje há muitos artistas. Mas quem é que na altura via golos de calcanhar? Aquilo foi magia. Não haverá golo assim em mais nenhuma final europeia", garante Avelino Santos. "Fica para a história", concordam todos aqueles que admiram a fotografia. "Era o melhor da equipa. Jogava com os dois pés e era fantástico", continua Avelino, embora aí já sem unanimidade. Muitos dos que O JOGO inquiriu escolhem Futre. "Nos tempos de hoje nem sei onde poderia ter ido", vinca José Salgueiro. "Era um prodígio", acena Raul Soares, que se tornou sócio exatamente no dia seguinte a esse jogo. "Não podia fugir mais ao destino", brinca. 

O dia em que o FC Porto deixou de ser apenas um clube português

Entre as cerca de 500 pessoas que durante a tarde de ontem passaram pelo Dragão, contavam-se alguns estrangeiros, que não sendo portistas não deixam de recordar a final de Viena. "Foi o dia em que conhecemos o FC Porto e esta cidade", exclamam. Madjer não é um nome que diga muito à maioria deles, mas Pfaff, Hoeness, Rummenigge, Mathaus ou Brehme sim. "O Bayern era muito conhecido. O FC Porto foi uma surpresa", frisam. Os mais jovens do grupo só se lembram das conquistas de José Mourinho. "Não há dúvidas que este é o clube português mais famoso em Inglaterra. Não podíamos vir à cidade sem conhecer o Estádio do Dragão", salientam. 

in "ojogo.pt"

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