segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cubillas. "Não tenho um único vídeo de um golo meu no FC Porto"

Peruano só jogou uma Copa América. E ganhou-a, em 1975. Conta-nos a maratona: jogo no Bessa, domingo, e finalíssima na Venezuela, na terça

Por muitos estrangeiros que passem no FC Porto, por muitos golos que marquem (Jardel, 168), por muitos títulos que ganhem (Aloísio, 19), há um que sempre será "a" referência. É o peruano Cubillas. Jogou nas Antas entre Fevereiro de 1974 e Maio de 1977, só marcou 68 jogos, só fez 108 jogos, só ganhou uma Taça de Portugal. Só, mas é a referência. Cubillas, um dos melhores jogadores de sempre, incluído no top 100 da FIFA do século xx e no top 125 de Pelé. O Peru é o Peru por Cubillas, o primeiro jogador a marcar cinco ou mais golos em dois Mundiais (1970 e 1978) e o mais jovem melhor marcador de um campeonato nacional de sempre, em 1966, com 17 anos e sete meses. Agora com 62 anos, Cubillas trabalha para a FIFA e está no México a acompanhar o Mundial sub-17.

Explique essa mudança do Alianza Lima (Peru) para o Basileia (Suíça), porque esse tipo de transferências em 1973 não era normal como agora, pois não?

Tens razão, foi uma aventura. Um grande amigo meu, chamado Rudy, apareceu-me lá em Lima com um negócio que mais parecia um conto de fadas. Queria comprar o meu passe e levar-me à Suíça, para o Basileia. Dizia que o clube estava interessado em mim e oferecia-me 300 mil dólares. Respondi-lhe: "Está bem, e depois? Vou fazer o quê para a Suíça?" Das poucas coisas que sabia é que fazia um frio "de muerte". Se em Lima nem sequer chovia, para quê ir para a neve e para o frio? Mas a proposta era mesmo para valer. E não eram 3 mil, nem 30. Eram 300 mil dólares. Era muito dinheiro.

E foi para a Suíça?

Sim, com o tal amigo. E ele já tinha preparado toda a acção de charme. Tanto que quando aterro na Alemanha, em escala para Basileia, já havia um "montón" de jornalistas à minha espera. Entrevistaram- -me, tiraram-me fotografias. Só visto...

E no Basileia?

Aguentei-me seis meses. A equipa não era profissional. Um era médico, o outro professor, um ainda comerciante... e só treinavam à noite. E eu? O que fazia ali o dia todo? Engordei de 66 quilos para 74 quilos. Para não falar do que eu vestia cada vez que ia à rua: gorros, casacos, blusões, luvas, óculos. Tudo para evitar a neve.

Era assim tão insuportável? A Suíça não lhe deixou mesmo boas recordações...

Calma, calma! É um país extraordinário. Lá toda a gente falava uns sete idiomas. Em qualquer lado. Na mercearia, na estação de comboios, na rua! Incrível. Outra coisa que aprendi: a pontualidade. Desde que saí de lá nunca mais fui o mesmo. Tornei-me pontual como eles. Se dizem sete e meia, é mesmo sete e meia. Uma vez o director do Basileia disse-me que estivesse na estação de comboios às sete e meia. Atrasei-me e apareci às 7h32. Perdi o comboio e não joguei nesse fim-de-semana. De resto, não dava. Muito, muito frio.

Daí a transferência para o FC Porto?

Sabes o que aconteceu quando eu e o Rudy íamos de Lima para Basileia? O Barcelona estava a caminho de Lima para me contratar por um milhão de dólares. Seis meses depois o interesse deles esfriou. E apareceu o FC Porto na jogada, por 400 mil dólares. E nem imaginas...

O quê?

A recepção no Porto. Que coisa bonita, linda! Tanta gente... Nem se via a calçada. Fui sempre muito bem tratado mas tive um azar daqueles... Não tenho uma única imagem de vídeo de golos no FC Porto, e olha que marquei alguns [risos]. A Rádio Televisão Portuguesa tinha o seu arquivo, mas um incêndio destruiu todos os registos. Aliás, os meus registos.

E foi pelo FC Porto que ganhou a Copa América. Lembra-se disso?

Uyyy, claro! Deu polémica.

Como?

Primeiro eliminámos o Brasil por sorteio. Ganhámos 3-1 em Belo Horizonte e perdemos 2-0 em Lima. Como não havia desempate, foi a sorteio. Ganhámos nós o direito de ir à final, com a Colômbia. Os jogos eram em Outubro. Perdemos 1-0 em Bogotá e ganhámos 2-0 em Lima. Mais uma vez, como não havia regra de desempate, e com uma vitória para cada lado, era preciso uma finalíssima em campo neutro. Escolheu-se Caracas, na Venezuela.

E o Cubillas jogou?

O FC Porto não queria. Então se eu ganhava mais que o Eusébio, imagina! Mas viajei à mesma. Foi uma loucura. Joguei no Bessa, a chover a potes, no domingo, e perdemos [1-0, golo de João Alves]. Meti-me num avião e cheguei a Caracas na segunda, véspera da finalíssima, que ganhámos 1-0, golo do Sotil, que jogava no Barcelona com o Cruijff. Quando cheguei ao Porto, os dirigentes estavam felicíssimos. Cubillas campeão sul-americano, que honra!Hoje, às 23h15, Uruguai-Peru na Sport TV1.

in "ionline.pt"

Sem comentários: