terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sem Varela e com James em contrarrelógio

Só poucas horas antes do clássico haverá condições para avaliar as "espingardas" à disposição de Vítor Pereira para armar o FC Porto para a deslocação à Luz. Com Varela muito provavelmente fora de combate depois da lesão sofrida contra o Feirense, o técnico azul e branco terá poucas horas para avaliar as opções para as alas. James, em particular, mas também Cristian Rodríguez e Hulk terão pouco tempo para recuperar do desgaste provocado por viagens de avião de milhares de quilómetros e umas noites mal dormidas. Só escapa mesmo Djalma, que não terá uma semana muito diferente do normal.
Só com a viagem entre Portugal e Miami, ida e volta, James terá percorrido quase 27 mil quilómetros, durante uma longa jornada de mais de meio dia passada em diferentes aeroportos. Tudo para chegar - esperam os responsáveis do FC Porto - na sexta-feira às primeiras horas da manhã a Lisboa, ou seja, no dia do clássico. Na véspera, Cristian Rodríguez terá viajado toda a manhã e feito cerca de sete mil quilómetros. No mesmo dia, mas de madrugada, Rolando e João Moutinho terão desembarcado da Polónia, com cerca de seis mil quilómetros de viagem. Por essa altura, já Hulk estará a meio da recuperação, depois de ter feito mais de 2500 quilómetros.
Voltando a James: desde a derrota do FC Porto em Barcelos, o colombiano perdeu a titularidade em jogos do campeonato. De então para cá, El Bandido tem saído do banco para aplicar verdadeiros "choques elétricos" à equipa. Foi assim contra o Leiria e, no domingo, contra o Feirense, desencravando com golos e assistências os resultados e desbravando, com isso, o caminho para os três pontos.
Mas olhando para o que diz a história recente dos clássicos em que participou, nota-se que James só terá tido um peso relativo. Em cinco jogos disputados com o Benfica, foi suplente utilizado em três, somando apenas 81 minutos de jogo.
Durante o seu percurso de azul e branco, a verdade é que o internacional colombiano foi ganhando estatuto dentro da equipa e é hoje um jogador imprescindível no FC Porto e para Vítor Pereira, que tem tido nele a solução para evitar males maiores, no papel de "arma secreta". Nesta perspetiva, James tem um peso a não menosprezar, ainda que o mais provável é que acabe por partir do banco. A questão é: quem acompanha Hulk e Janko?

Plano C: Cristian Rodríguez

A última oportunidade do uruguaio

Não é titular em jogos do campeonato desde a 15ª jornada e do jogo com o Rio Ave, mas olhando para o panorama que Vítor Pereira terá de enfrentar, Cristian Rodríguez volta a ter sérias hipóteses de recuperar um lugar no onze neste clássico. O uruguaio tem uma deslocação à Roménia para defrontar a seleção local e é esperado na quinta-feira. Cebola esteve apenas uma dezena de minutos em campo na receção ao Benfica, no Estádio do Dragão, e esta poderá ser a sua última oportunidade para participar num jogo destes. Com ele em campo, o FC Porto ganha um rosto, teoricamente, mais ofensivo, uma vez que é um jogador mais virado para o ataque do que Djalma, seu principal concorrente.

Plano D: Djalma

Dá mais equilíbrio defensivo

A semana de Djalma será igual a tantas outras, uma vez que não terá de representar a seleção de Angola, daí que seja possível - no caso de Cebola chegar muito desgastado - que o extremo acabe por ser a escolha mais normal. No clássico com o Benfica, na primeira volta do campeonato, Djalma nem no banco se sentou, mas de então para cá a história mudou e o angolano chegou a dar cartas no onze inicial, até à sua partida para a Taça das Nações Africanas, em Janeiro. Nessa altura, o extremo perdeu a titularidade depois do jogo em Alvalade. Até ali, com Maicon na direita, Djalma contribuiu para dar outro equilíbrio defensivo à equipa, o que não será de desprezar totalmente para este jogo.

Um MVP que só foi onze vezes titular


Quem olhar para a ficha de utilização de James Rodríguez constatará que o colombiano não é um titular indiscutível. Com 16 jogos na Liga (apenas onze como titular), o esquerdino está longe de outros nomes, mas é ele o MVP do FC Porto no campeonato. Com dez golos apontados e participação direta em outros nove, El Bandido é o mais influente jogador do plantel de Vítor Pereira, o que contrasta com a tal ficha de utilização. Percebe-se, todavia, que a viagem de James seja a que mais incomoda os planos do dragão. Apesar da sua disponibilidade, é natural que os índices físicos o desaconselhem para o onze. Poderá ser o suplente decisivo que já foi tantas vezes este ano?


José Soares, professor catedrático de Fisiologia da FADEUP

Gestão de esforço no futebol. O que diz a ciência?


Como diz um colega meu fisiologista dinamarquês, o futebol é dos mais intrigantes fenómenos fisiológicos que se conhece. Percorrem-se, em média, 11-13 km em 90 minutos, fazem-se 500 ou 600 m de sprints, está-se 2 ou 3% do tempo com a bola e demora-se 3 dias para recuperar! No entanto, é vulgar um campeonato do mundo de andebol, basquetebol ou voleibol ter 7 ou 8 jogos em 10 dias. Dir-me-ão que são esforços diferentes. Em parte sim, mas não suficientemente diferentes para, do ponto de vista fisiológico, terem impactos tão distintos. Poderão alguns leitores pensar: os jogadores de futebol são mal preparados fisicamente, treinam pouco e, como tal, fatigam-se mais rapidamente. Não é verdade. Da minha experiência pessoal e como investigador posso assegurar que os futebolistas de bom nível são excelentes atletas. Então, porque demoram tanto tempo a recuperar? Existem diferentes hipóteses mas nenhuma consensual. O que é um facto é que o combustível muscular mais utilizado no futebol (glicogénio) demora cerca de 72 horas a atingir os valores ideais para o início de um jogo e, por isso, ser impossível fazer, como no andebol, 3 jogos em 4 dias. De resto, há estudos que demonstram impactos significativos, por exemplo, no sistema imunitário dos atletas, quando se simulam dois jogos em dois dias seguidos… Mas deixemos as explicações científicas fastidiosas e vamos ao que interessa.
Algumas perguntas que me parecem decisivas sobre este assunto:

1 É a recuperação física encarada no plano de treino como um fator decisivo no rendimento dos atletas?

2 Se o cansaço é tão limitante e serve de desculpa para tantos desaires, a fadiga é monitorada caso a caso?

3 Se o excesso de jogos é um problema decisivo na carreira das equipas, a recuperação é encarada pelos atletas como um aspeto determinante no seu rendimento? Isto é, fazem os jogadores o seu "trabalho de casa"?

4 Se a "gestão do esforço" é uma pedra de toque em equipas de alto rendimento, a recuperação é entendida com um grau de importância semelhante ao da tática ou estratégia?

5 Se o futebol é um desporto eminentemente tático porque se fala tanto em lesões e cansaço quando algo corre mal?

Ou seja, o futebol é uma modalidade altamente desgastante e, por isso mesmo, tal como já se faz em muitos outros desportos, a recuperação deve ser entendida como uma variável com um peso semelhante e, em alguns casos, superior aos fatores de treino mais tradicionais. Se não for assim, como pode uma equipa exprimir a sua competência tática se os seus músculos não respondem eficazmente? E não estou a falar, como tenho lido, de fadiga periférica ou central. Isso é outro assunto. Bem mais complexo do que "cansaço" mental!

in "ojogo.pt"

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