terça-feira, 27 de março de 2012

Diagnóstico: falta atitude

Que motivos podem estar na origem de um FC Porto tão irregular desde o início da época, que não aproveitou uma vez mais o passo em falso do Benfica, na véspera, e que permitiu ao Braga chegar ao primeiro lugar da tabela? Esta foi a questão que O JOGO colocou a adeptos e treinadores e todos concordam que a intermitência exibicional é atípica no clube, apontando o dedo ao treinador, ao setor defensivo, mas também ao planeamento da época.
Um aspeto em que muitas das opiniões ouvidas coincide é o da "falta de atitude" da equipa, uma constatação que se tem verificado frequentemente e que foi mais evidente a seguir ao jogo da Luz para o campeonato (3-2). O empate caseiro com a Académica foi muito criticado, até porque o Benfica perdeu pontos nessa jornada e o FC Porto podia ter descolado na liderança. Entre os adeptos, Miguel Guedes diz que "não há liderança", mas ainda acredita na revalidação do título. Para Álvaro Magalhães esta equipa do FC Porto "é um mistério" e sublinha a "deficiente condição física" dos jogadores". Já Manuel Serrão tem ficado com a sensação de que "não se quer vencer o campeonato". Menos apaixonada e mais técnica é a análise de Daúto Faquirá. O treinador deteta "problemas emocionais", "falta de intensidade de jogo" e um Rolando "menos concentrado" do que noutras épocas. Com ligação aos dragões no passado, Eduardo Luís e Rodolfo Reis concordam que "não há consistência de jogo nem agressividade quando a equipa está sem bola".
Depois do triunfo na Choupana, os azuis e brancos não só foram incapazes de aproveitar um novo deslize do Benfica, que desta vez jogou antes, como perdeu a liderança para o Braga. Neste particular, adeptos e treinadores acrescentam dados como "falta de concentração e de empenho" e recordam que a defesa tem sofrido alterações constantes, o que não tem ajudado a consolidar processos que permitam alcançar a consistência necessária.
O jogo da Mata Real coloca Rolando no banco dos réus, na sequência da desconcentração que permitiu o empate, mas não o único a ser responsabilizado. "A atitude certa esteve nos jogos com o Benfica, a seguir deviam ter esmagado a Académica e convencido com o Nacional, porque aquele resultado foi uma mentira. É na atitude sem bola que está o problema da equipa", acusa Rodolfo Reis. A opinião geral é que não tem havido pressão no adversário para lhe roubar a bola, nem capacidade para sair em velocidade para o ataque.
Por outro lado, e apesar das contratações de Janko e Lucho no mercado de inverno, apontou-se ainda o emagrecimento das opções a meio-campo como fator para ajudar a explicar o atual contexto portista. Uma situação dificultada ainda mais pela recente lesão de Fernando, que reduziu para três os disponíveis para esse setor.

Longe do registo de Villas-Boas


Os números de Vítor Pereira enquanto treinador principal do FC Porto não são brilhantes, sobretudo se comparados com os do seu antecessor. É verdade que a herança era muito pesada, mas, feitas as contas, os portistas têm vacilado muito: foram eliminados na fase de grupos da Liga dos Campeões e logo a seguir na Liga Europa, ficaram pelo caminho bem cedo na Taça de Portugal e falharam o acesso à final da Taça da Liga. E no campeonato, andaram muito tempo longe do primeiro lugar, e já se percebeu que o título corre o risco de ser disputado até aos descontos da última jornada.
A estatística ajuda a perceber melhor o que tem acontecido: o FC Porto de Vítor Pereira tem ganho apenas seis em cada dez jogos, são 24 triunfos em 40 partidas oficiais, a que se juntam oito empates e outras tantas derrotas. Ora, com Villas-Boas a época passada terminou com metade das derrotas e cinco empates em 58 jogos. Ou seja, 84 por cento de triunfos contra os 60 atuais. Além disso, o número de golos também é muito diferente: os 79 golos desta campanha traduzem-se numa média de 1,98 por encontro, bem abaixo dos 2,5 da época passada. O mesmo se aplica aos golos sofridos. Com Vítor Pereira a média é um golo em cada um dos 40 jogos. Com o antigo treinador, o FC Porto sofreu 42 nos tais 58 jogos...

Pedido original de apoio não resultou...

C.G.

Conforme O JOGO mostrou na edição de ontem, os jogadores do FC Porto fizeram um pedido aos adeptos para reforçaram o apoio à equipa antes do encontro com o Paços de Ferreira. Mas, desta vez, não se limitaram a ir à linha de fundo para levantar as mãos. O pedido foi por escrito e com a assinatura de todos os convocados, treinador incluído. Consciente da importância do jogo, os portistas responderam com cânticos durante os 90 minutos, mesmo depois do golo do empate dos pacenses. Porém, como se sabe, de nada valeu porque o FC Porto só ganhou um ponto nesta partida. A ideia do cartaz surgiu na viagem da Invicta até à Capital do Móvel e foi concretizada em pleno balneário da Mata Real. Os capitães pediram a Vítor Pereira uma folha e escrevem a mensagem "Hoje precisamos da vossa força para sermos campeões". Hulk subiu ao relvado com o cartaz enrolado e foi entregá-lo aos SuperDragões na companhia de Rolando, Moutinho e Helton, os outros capitães da equipa.

Reações ao empate na Mata Real


Miguel Guedes, músico

"Não há liderança"

"Este FC Porto está ligado às origens da construção da equipa. Houve um esforço para manter a base, mas também houve e continua a haver lacunas no plantel. Nota-se uma clara falta de liderança, numa equipa que desperdiça dois "match points" do Benfica. Podem queixar-se de falta de sorte, mas creio que há falta de audácia e de empenho. Acredito no título, não porque mostram bom futebol, mas porque o Benfica tem apresentado a mesma irregularidade e não podemos esquecer um Braga que vence há doze jogos consecutivos, sete desses jogos marcando três ou mais golos."


Eduardo Luís, Treinador de futebol

"Sem consistência de jogo"

"Este FC Porto tem feito um campeonato irregular em termos exibicionais e isto leva a que hoje tenhamos uma luta a três pelo título. Mas acho difícil compreender tanta falta de consistência de jogo, como é que se falha tanto na defesa. Penso aliás que o elo mais fraco desta equipa está no centro da defesa. Os centrais têm comprometido. Quando se tem jogadores altos e experientes na defesa, custa engolir certas falhas. O Boavista também foi campeão e ninguém esperava que isso acontecesse. Mas este Braga tem uma boa estrutura e tem sido mais regular do que FC Porto e Benfica."


Álvaro Magalhães, Escritor

"Esta equipa é um mistério"

"Este FC Porto é um mistério, mas salta à vista a falta de condição física. Aos 15 minutos da segunda parte, em Paços de Ferreira, já não aguentavam. Não têm capacidade física para jogar com intensidade. As lacunas na finalização mantêm-se apesar da contratação de Janko. Falta alma a esta equipa, parece que não querem ganhar. Podiam pelo menos mostrar vontade de ganhar, mas não se vê. Também não deixo de atribuir uma certa falta de competência de Vítor Pereira para motivar os jogadores. O Braga poderia ser o castigo merecido para dois grandes que não querem ganhar."


Daúto Faquirá, Treinador de futebol

"Problemas emocionais"

"Houve uma tentativa para estabilizar a equipa com a contratação do Lucho, até por aquilo que ele representa do ponto de vista emocional para o clube, mas isso implicou a perda de soluções a meio-campo. A equipa tem revelado irregularidade também por causa disso, depois perderam Danilo e foi mais um handicap com implicações diretas no rendimento. A equipa não tem jogado com intensidade, como fazia e tem havido muitas alterações na defesa. Rolando não parece concentrado como noutras épocas e isso retira consistência. É uma equipa com problemas emocionais."


Manuel Serrão, Empresário

"É inacreditável!"

"Dá ideia que não se quer vencer, que é fácil ganhar este campeonato, mas não é. É preciso estar concentrado até ao fim. É inacreditável. Como é que se sofre um golo a dez minutos do fim, deixando saltar um avançado com pouco mais de 1,60m? Desperdiçam golos uns atrás dos outros. Depois de terem recuperado da desvantagem para o Benfica, tinham obrigação de estar na frente. O Braga vai entrar no campeonato do título na próxima semana, mas não acredito que vença Benfica e FC Porto. De qualquer modo, este campeonato já nunca será ganho de forma brilhante."


Rodolfo Reis, Treinador de futebol

"Não há atitude sem bola"

"Este FC Porto é demasiado passivo quando a bola está no adversário, não faz pressão para a recuperar e depois sai a jogar muito lentamente e dá tempo ao adversário para se colocar na defesa. Depois perdem a concentração com muita facilidade. Mas é essencialmente na falta de atitude desta equipa sem bola que me parece estar o problema. A atitude certa esteve nos jogos com o Benfica. A seguir deviam ter esmagado a Académica e convencido contra o Nacional, porque aquele resultado foi uma mentira. Mas é na atitude sem bola que está o problema desta equipa."

in "ojogo.pt"




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